Goiás: Barões que dominam o tráfico
Dois dos maiores traficantes em Goiás foram presos em fevereiro. Polícia tem dificuldade para associar o nome dos chefões aos crimes.
Em fevereiro deste ano, dois dos maiores traficantes de Goiás foram presos em operações da Polícia Civil. As investigações duraram cerca de seis meses cada uma e novas ações para conter o avanço do tráfico já começaram. Titular da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), Odair Soares define as prisões de Erly de Rezende, 54, André Luiz Oliveira Lima, 33, como as principais já realizadas em Goiás.
Considerados “barões do tráfico”, eles movimentavam milhões todos os meses com crimes relacionados à compra e venda de entorpecentes. A maior dificuldade da Denarc em chegar aos barões se dá pela falta de contato direto do chefe com a droga. E, para ser preso, as equipes de investigação precisam de provas que liguem o barão à droga. “Eles não costumam sujar as mãos e coordenam o esquema de longe e por isso precisamos de equipes especializadas para investigações profundas, que possam confirmar o envolvimento dessa pessoa ao tráfico”.
O delegado detalha que todos os dias traficantes são presos, mas que este ano 47 pessoas foram encaminhadas à carceragem da especializada. Desses, sete são considerados de grande porte e os outros 40 de médio e pequeno porte. Odair Soares destaca que, dentro do esquema, o barão, na maioria dos casos, apenas coordena. Ele tem funcionários para executar cada função. “O chefe tem quem busca a droga em outros Estados e até fora do País. Tem alguém responsável pelo refino, pela distribuição e entrega”. O titular acrescenta que existe outra função dentro da quadrilha, geralmente executada por alguém de confiança, que é quem cuida da parte financeira. Essa pessoa geralmente é responsável por lavar o dinheiro e depositá-lo, para que chegue “limpo” às contas dos chefes.
O delegado admite que as polícias não têm condições de acompanhar o avanço do tráfico no Estado. Por ser um comércio muito lucrativo, destaca que, quando um traficante é preso, o espaço antes ocupado por ele logo é tomado por outros traficantes. “A atividade não para. As investigações estão sempre acontecendo. Mas, quando um é preso, o outro assume. Principalmente quando são grupos rivais, alas inimigas”. Odair explica que todo traficante tem uma área e, nesses casos de tráfico, a delimitação territorial é bastante clara. “A sociedade não vê, mas a gente que lida com isso identifica. E, dependendo do caso, o traficante tem uma rua, uma quadra, um bairro, uma cidade, estado. O traficante tem sua área de trabalhar e causa guerra quando um invade a área do outro”.
Porte
Mas, se tratando de grandes traficantes, que trazem toneladas de drogas de outros Estados e países, o esquema funciona diferente. Eles não costumam ter local determinado de ação porque fornecem para vários outros traficantes de médio e pequeno porte. No caso da prisão de André Luiz Oliveira Lima, a Polícia Civil conseguiu identificar onde era o laboratório e o dono. André foi preso em casa. “Mas isso foi possível porque tínhamos prova de que a droga era dele. Normalmente ele não está na rua, mas em casa de luxo, andando em carros caros, longe de suspeitas”. O grupo dele comercializa cerca de 200 quilos de pasta-base da droga por mês. Isso corresponde à média mensal de R$ 2 milhões mensais. Ele e o grupo distribuíam a pasta-base para 42 pontos em Goiânia e Aparecida.
André era investigado desde o ano passado, quando estava preso. E, mesmo de dentro do presídio, ele coordenava as ações. Com o grupo dele, foram encontradas diversas armas de uso restrito. Em um apartamento na Vila Rosa, encontraram fuzis israelenses, metralhadores e pistolas de uso da Força Nacional. Também foram encontradas munições e as drogas em outro apartamento do grupo, no Parque Amazônia. Ele e mais quatro pessoas foram presas na operação denominada Poderoso Chefão. A mulher de André Luiz, Renata da Silva Leão, 29, era responsável pelo financeiro do negócio. Sthephan de Souza Vieira, o BH, 29, era gerente. Ele recebia a droga e repassava para o químico Jander Jhones da Silva Arcanjo, 29, e Jefferson Alves Borges, de 25, que era auxiliar. Após o refino da droga, entregavam nas bocas.
Após o recebimento, repassavam os valores para o BH. Essa operação foi coordenada pelo adjunto da Denarc, Vinívius Ney Barbosa. Ele identificou, junto com outros investigadores, que a quadrilha abastecia bocas-de-fumo no Parque Amazônia, Setor Sudoeste, Setor Faiçalville, Vila Rosa e Vila Boa, em Goiânia. Em Aparecida, forneciam drogas para Vila Brasília, Jardim Imperial, Jardim Montserrat, Setor Maria Inês e Vila Mariana, em Aparecida. Mas ainda há a identificação que esses traficantes repassavam para outros menores, que faziam a venda junto ao usuário. Na outra operação, Abre-Alas, foram presos Erly de Rezende, 54, e Vando Célio Pereira dos Santos, 37. Eles foram detidos com 451 quilos de pasta-base de cocaína. Os traficantes traziam o carregamento de Primavera do Leste, no Mato Grosso, e distribuiriam em laboratórios para produção de crack. Coordenada pelo delegado Alécio Moreira de Sousa Júnior, adjunto da Denarc, ele disse que a droga seria distribuída para ser consumida no carnaval em Goiânia e cidades vizinhas, como Senador Canedo.
Cada quilo de pasta-base pode produzir dez quilos de crack, que pode corresponder a uma média de três mil pedras. O carregamento trazido pela dupla poderia produzir mais de 1,3 milhão de pedras. Como o preço médio das pedras gira de 10 reais, eles arrecadariam média de R$ 13 milhões.
Fonte: Jornal O Hoje