Homicídios: Investigações ganham reforço
Número de assassinatos e execução de mulheres vão trazer servidores até do interior para Goiânia
Um dia depois do 12º assassinato de mulheres por motociclista, o superintendente de Polícia Judiciária da Polícia Civil (PC), Deusny Aparecido Silva Filho, anunciou ontem de manhã, ao lado do titular da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH), Murilo Polati, um reforço na investigação dos homicídios. Goiânia tem vivido uma onda de violência com grande número de homicídios. Em junho, por exemplo, foram 80 mortes na capital. Na noite de sábado, o governador Marconi Perillo publicou no Twitter a determinação de que fosse montada força-tarefa para investigar os crimes. “Determinei que Secretaria de Segurança e a Delegacia Geral de Polícia redobrem os esforços, inclusive montando uma força tarefa e empreguem toda a tecnologia de inteligência de que dispomos para a rápida elucidação dos assassinatos de mulheres em Goiânia”, escreveu.
O reforço da equipe que atua na DIH será especialmente para os casos cujas vítimas são mulheres. De janeiro até a manhã de ontem foram 45 mulheres mortas de forma violenta. Destes, 4 são latrocínios – roubo seguido de morte. Dos demais casos, a PC confirma que há 12 em que existe a semelhança entre as características do autor – crime praticado por homem ocupando uma moto escura.
HIPÓTESES
Deusny afirma que nenhuma hipótese para a existência desses 12 casos semelhantes é descartada, nem mesmo que eles teriam ocorrido por um mesmo autor. A PC admite que possa haver um assassino em série (serial killer). Polati diz que alguns dos casos já estão com investigações bem avançadas e, até então, o que se tem seriam características diferentes para cada autor, a não ser o uso da motocicleta. “Temos dois mandados de prisão em aberto para pessoas diferentes, mas não podemos adiantar para quais casos para que a investigação não seja atrapalhada.” O delegado reforça que nenhuma hipótese é descartada.
Dos 45 casos de assassinato de mulheres neste ano, a PC já conseguiu solucionar 11, número considerado muito bom pelo superintendente Deusny Filho, devido as dificuldades para a investigação. Dentre os casos elucidados estão os 4 latrocínios. Segundo Polati, os casos de homicídio são mais complicados de investigar porque muitas vezes faltam provas testemunhais, já que as pessoas têm medo de repassar informações, além do que, nas ocorrências noturnas, muitas vezes as imagens de câmeras de segurança são sem nitidez. Entre as 8 horas de sábado e o mesmo horário de ontem, a PC registrou oito mortes –dois casos envolvem mulheres, o último deles é de uma senhora de 78 anos, cuja suspeita é de morte natural. O primeiro foi o assassinato da garota Ana Lídia de Souza Gomes, de 14 anos.
Deusny afirmou ontem que agentes, escrivães e até delegados serão retirados de suas atuais lotações para reforçar o trabalho DIH. Na sexta-feira, nove agentes e escrivães vindos do interior do Estado iniciaram o trabalho na DIH, comandados pelo delegado Murilo Polati. Deusny não adiantou quantos delegados e policiais serão transferidos, mas informações extra-oficiais apontavam que seriam cerca de 50.
Apuração de morte ainda em fase inicial
As investigações sobre o assassinato da menina Ana Lídia de Souza, ocorrido no Setor Cidade Jardim, na tarde de sábado, estão em fase inicial, afirmou ontem o delegado titular da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH), Murilo Polati. “Começamos analisando o perfil da vítima e, nesse caso, especificamente, não achamos nada. Era uma menina boa, ajudava a mãe, ia à igreja, não tinha nada contra”, afirma.
Ana Lídia foi enterrada na manhã de ontem no Cemitério Memorial Parque, em Goiânia. O tio dela, Leonardo Dias Gomes, conta que a família continua sem entender o caso e sem achar qualquer suspeita. “Não usava droga, não tinha namorado, nada, nada mesmo.”
Leonardo morava com Ana Lídia e os avós da menina, que sempre buscou ter seu trabalho e montar seu próprio negócio. “Ela ia ajudar a mãe na Feira da Lua, onde vendiam roupas e estavam vendendo bem. Mas aí vem o cara e tira a menina da gente.” Segundo o tio, vizinhos relataram que o motociclista passou pela menina que estava no ponto de ônibus e depois voltou. Ele parou a moto e atirou quatro vezes. Dois projéteis atingiram a menina no tórax. “Quando o vizinho chegou ela já estava morta, não levaram nada dela, que tinha celular e mochila.” O telefone da garota foi recolhido pela Polícia Civil para averiguação.
Passeata pede justiça por moça morta em semáforo
No mesmo horário em que o corpo de Ana Lídia de Souza era sepultado, amigos e familiares da estudante Juliana Neubia Dias, de 22 anos, realizavam uma passeata no Parque Areião, na Região Sul de Goiânia. A intenção era fazer um pedido de justiça às autoridades e sociedade. Os pais e irmãs da estudante, que foi assassinada no dia 26 de julho por um motociclista, em um semáforo no Setor Bueno, não participaram do ato. Eles são da cidade de Itapaci, a 222 quilômetros de Goiânia, e temem aparecer em público depois da morte de Juliana. Os amigos fizeram um trocadilho com o nome da mulher e pediram “JUHstiça”.
Coordenador da FacUnicamps, onde Juliana cursava Ciências Contábeis, Almério Freitas Júnior lembrou que a principal característica dela era “não deixar barato aquilo que ela acreditava” e sempre lutar por suas vontades. “Devemos seguir esse comportamento e mudar as coisas que precisamos”, disse o professor. Ele diz não acreditar que os 12 assassinatos de mulheres ocorridos em Goiânia tenha um mesmo autor e lembra que a violência ocorre todos os dias. Os amigos propuseram realizar caminhadas todos os meses. A intenção inicial era participar do velório de Ana Lídia, o que não ocorreu.
Fonte: Jornal O Popular