Demanda por executivos cresce 60% em Goiás

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O crescimento econômico do Estado e a busca por maior profissionalização aumentaram as vagas disponíveis e muitas empresas estão “importando profissionais”

O executivo Rodrigo Otávio Ferraz de Souza veio de Belo Horizonte (MG) para ocupar o cargo de gerente de Tecnologia da Informação (TI) no Laticínio Bela Vista, fabricante dos produtos da marca Piracanjuba, em Bela Vista de Goiás. Ele aceitou o convite porque já conhecia Goiânia e gostava da qualidade de vida da cidade, por isso trouxe a família junto. A proposta salarial também foi atraente, além dos investimentos que a empresa está fazendo num grande projeto de tecnologia. “Foi uma proposta desafiadora. Essa é uma região de oportunidades, enquanto outros centros estão saturados, sem tanta motivação profissional”.

O gerente de Gestão de Pessoas do Laticínio Bela Vista, Edilson Vieira dos Anjos, conta que a empresa também contratou em São Paulo um gerente de controladoria e um gerente administrativo financeiro, que veio de Brasília. Segundo ele, a preferência é por profissionais do mercado local, mas nem sempre é possível encontrar o perfil desejado aqui. “Chegamos a procurar por três meses com ajuda de uma empresa de recrutamento”, lembra Edilson.

Na sua opinião, a demanda por profissionais para esses cargos de média e alta gerência cresceu com a vinda de muitas empresas para o Estado nos últimos anos, além da expansão de empresas goianas. “Quando encontramos profissionais com bom conhecimento técnico, falta a experiência”, avalia.

PROFISSIONALIZAÇÃO

Esse potencial motivou a instalação de um escritório da Michael Page, umas das maiores empresas de recrutamento especializado do mundo, em Goiânia este ano. Um levantamento feito pela empresa, que tem foco na média e alta gerência, mostrou que a demanda por essas posições no Estado cresceu 60% no primeiro semestre deste ano. Os setores que mais demandaram profissionais foram engenharia, farmacêutico e agronegócio (veja quadro).

O gerente da Michael Page no Centro-Oeste, Bruno da Matta Machado, lembra que esse movimento também é resultado de uma busca por profissionalização na gestão das empresas locais com perfil familiar.
O crescimento da demanda ocorreu em todo Centro-Oeste, mas Goiânia é apontada como a locomotiva da região. Bruno lembra que para algumas áreas, como agronegócio, ainda é possível encontrar bons profissionais na região. Já a construção civil precisa trazer mais gente de fora. Mas ele garante que os executivos estão cada vez mais dispostos a vir para Goiânia, atraídos pela maior qualidade de vida e menor custo.

Mas as maiores empresas do Estado também já teriam faixas salariais muito competitivas em relação a outros centros do País, apesar da média ser 30% menor. “Alguns executivos até aceitam uma remuneração um pouco menor, que é compensada pelo menor custo de vida”, diz. Para outros, o maior atrativo é poder fazer parte de um momento de pujança da economia local, que proporciona mais desafios e possibilidades de desenvolvimento de carreira. “Aqui, eles podem ser responsáveis pela construção de um projeto novo”, explica.

Moacir Júnior esté em Goiânia desde 2013 para ocupar uma vaga de gerente geral de controladoria na distribuidora de produtos farmacêuticos Panpharma, que desde 2012 pertence ao grupo alemão Celesio AG. Segundo ele, a maior motivação foi o projeto da empresa, que está entre as três maiores do Brasil e tem propostas interessantes de negócios.

Entre os desafios, está a formação de uma equipe de controladoria. Moacir garante que, se tratando de multinacionais, não há diferença de salário em relação aos grandes centros. A qualidade de vida também pesou na decisão. Atualmente, ele passa a semana em Goiânia e nos fins de semana viaja para São Paulo para encontrar a família, que ainda não decidiu se mudar.

Escassez de alta gerência

Nos últimos três meses, somente o Grupo Empreza, um grande player nacional que atua no recrutamento de pessoal, preencheu 60 vagas abertas para executivos no Estado. A CEO do Grupo Empreza, Helena Ribeiro, informa que profissionais de média gerência são encontrados no próprio Estado, mas de alta gerência ainda precisam vir de grandes centros, principalmente de áreas como controladoria, contábil e finanças, que exigem conhecimento técnico bem específico.

Para Helena, a demanda aumentou 40% desde 2012 e é reflexo de uma busca por maior eficiência dos negócios em momentos de crise. O executivo chega com a tarefa de otimizar processos, reduzir custos e elevar a qualidade. O aumento da procura também é resultado da crescente profissionalização nas empresas, que buscam mais co. Um grande número de empresas familiares também têm contratado executivos em busca de modelos de governança corporativa para uma maior sustentabilidade e competitividade do negócio.

Empresas buscam novos modelos de gestão

O mercado goiano passa por dois movimentos simultâneos. O primeiro é a venda de empresas familiares em fusões e aquisições, principalmente para multinacionais, que assumem a gestão. Uma pesquisa da PriceWaterhouse feita em empresas familiares nos diferentes setores revelou que somente 36% chegam à segunda geração e 19% à terceira geração.

O segundo são as empresas familiares que atingem determinado patamar de faturamento e, com um mercado cada vez mais competitivo, se veem obrigadas a também a modernizarem seu modelo de gestão. Outro fator é a necessidade de redução de custos e preços, que exige cada vez mais eficiência.

“Por isso, elas estão adotando boas práticas de governança corporativa”, explica Marcelo Camorim, diretor da Fox Partner, empresa de consultoria focada em gestão estratégica empresarial para implantação de governança corporativa com foco na profissionalização de empresas familiares. Mas, segundo ele, um ponto ainda primário no Estado é a carência dessa mão-de-obra especializada. “Esses profissionais precisam ser importados porque, aqui, o presidente é o dono e o diretor é o filho dele”, destaca.

Mas a profissionalização requer pessoas altamente preparadas, que estão difíceis de encontrar até na média gerência. Para trazer este profissional, Camorim lembra que geralmente é preciso oferecer um bom salário e um amplo pacote de benefícios, que inclui até moradia e carro. “Apesar da maior qualidade de vida, ninguém vem para ganhar menos”, afirma.

Interesse é maior por capacitação

Essa crescente demanda por executivos tem feito muita gente voltar para a sala de aula em busca de qualificação. “Há uma necessidade de profissionalização da gestão das organizações, o que requer especialistas com mais pegada mercadológica”, explica o professor Leonardo Moraes, coordenador do curso de MBA Executivo em Liderança e Gestão Organizacional do Instituto de Pós Graduação (Ipog), que está com turmas praticamente lotadas.

Segundo ele, o movimento é maior entre empresas familiares, que começam a trabalhar com governança corporativa e a formar seus executivos através de MBAs para ganhar habilidades gerenciais. “Hoje, o grau de parentesco não é mais suficiente para gerir bem uma empresa. É preciso formação”, alerta o professor. O crescimento do mercado de franquias também motivado mais essa busca por técnicas de liderança por parte dos empresários.

Outro fator que tem levado à busca por habilidades gerenciais é o crescimento do mercado imobiliário, que alcança uma grande cadeia de serviços terceirizados. “As empresas já sabem que quanto mais investem em liderança, mais retorno têm”, adverte. Ele lembra que o líder é a pessoa com visão sistêmica de mercado e todas as áreas que afetam seu negócio.

Um dos alunos do Ipog é o administrador de empresas José Neto. Ele está no curso em busca de uma boa formação em liderança e gestão para atuar na empresa de confecções da família. “Eu mesmo estou buscando isso para profissionalizar mais nossa empresa e não precisarmos buscar gente de fora”, justifica Neto. Para ele, os próprios empresários estão buscando essa formação gerencial com MBA porque a graduação já não é mais suficiente num mercado cada vez mais competitivo.

Fonte: Jornal O Popular