Bicicleta como boa opção de transporte

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Defensores do modelo sustentável de transporte reclamam de falta de atenção ao público que opta por andar de bicicleta

Goiânia ainda deixa a desejar quando o assunto é prioridade ao ciclista. Falta de ciclovias, faixas preferenciais e a falta de respeito por parte do motorista são as principais reclamações. Coordenador do grupo Pedal Goiano, Eduardo da Costa Silva acredita que o que falta aos goianos é acreditar no papel da bicicleta como instrumento de humanização do trânsito e alternativa de transporte.

Especialistas em mobilidade também defendem incentivo ao modelo de transporte, que é sustentável, não polui e contribui com um modelo de vida saudável.

Engenheiro e professor, Sérgio Botassi afirma que o incentivo à implantação de ciclovia faz parte da solução para um transporte coletivo mais sustentável e inteligente. “É comprovado que um volume expressivo de viagens dentro dos centros urbanos ocorre em trechos relativamente pequenos, entre 1 km a 5 km de distância”. Segundo ele, esse seria trecho ideal para ser percorrido por meios de transporte mais flexíveis, tipo “porta-a-porta”, ou seja, em que o meio de transporte permite a saída da origem e chegada ao destino sem necessitar de outra forma de locomoção.

Plano diretor

Ainda de acordo com o professor Botassi, há ainda o benefício direto da redução da poluição do ar e sonora, além de contribuir para um estilo de vida mais saudável. Isso significa dizer que, se houver cicliovias integradas com as demais vias urbanas e outros meios de transporte, haverá a redução na sobrecarga dos outros meios e melhoria da qualidade de vida. “É importante mencionar que o governo federal incentiva a construção de ciclovias por meio do PAC da Mobilidade Urbana, havendo recursos destinados a soluções sustentáveis como essa”.

Eduardo da Costa afirma que Goiânia ainda não tem a cultura da bicicleta e faltam investimentos no sistema cicloviário interligando outros modais, além de campanhas de educação do trânsito. “Poucas campanhas de educação do trânsito falam da bicicleta. Alguns motoristas enxergam o ciclista como intruso nas vias, mas ele não é. Faltam consciência, respeito e humanização. Alguns poucos motoristas respeitam os ciclistas, mas eles são uma minoria”, aponta.

Para que Goiânia tenha ciclovias adequadas, Eduardo entende que é necessário mudança de mentalidade, além de vontade política. “As ciclovias estão previstas no Plano Diretor, que é lei, e devem sair do papel.”

Ele afirma que a ciclovia da T-63 deve ser finalizada e, principalmente, ser sinalizada, além de interligar terminais de ônibus. “Deve ser resolvida a questão da ponte da baixada da T-63 também. As ciclovias devem ser conectadas aos outros modais, não finalizando sem interligação e estrutura”, critica.

“Papel da bicicleta é humanizar o trânsito”

Arquiteta, urbanista, mestre e doutora em transportes, Erika Cristine Kneib destaca que, além dos conhecidos benefícios do uso da bicicleta para a saúde e meio ambiente, costuma destacar outro: a mudança da escala de olhar e viver a cidade. “Olhar a cidade de dentro do carro não permite perceber adequadamente a vitalidade, a paisagem ou as pessoas. A bicicleta recupera tudo isso. Com o maior uso da bicicleta, normalmente as cidades são requalificadas numa escala para as pessoas, deixando os espaços mais atrativos, seguros e bonitos”, comenta ela.

Na opinião da arquiteta, para potencializar o uso da bicicleta é necessário garantir segurança, infraestrutura adequada, incentivo à utilização deste modo e o mais difícil: disciplinar o uso do automóvel. Automóvel a altas velocidades e bicicleta não convivem bem”.

Erika acrescenta que países europeus e EUA têm adotado com sucesso as “zonas 30”, nas quais, em determinadas áreas da cidade, a velocidade máxima é de 30 km/h, para todos os modos. Para ela, isso permite uma convivência adequada entre veículos motorizados e não motorizados, com baixos riscos de acidentes.

Um argumento importante é que, na maioria das cidades, os automóveis – principalmente em horários de pico – não ultrapassam velocidades médias de 30km/h. “Isso poderia e deveria ser adotado em bairros de Goiânia, ao redor de parques, praças e outros, garantindo segurança ao pedestre e ciclista e melhorando a ambiência desses locais”.

Rede integrada

Eduardo da Costa, do grupo Pedal Goiano, concorda e complementa que o papel da bicicleta é humanizar o trânsito, para ser instrumento de mobilidade e transformação. “Pequenos trechos podem ser pedalados por todos. Investimento em ciclovias encorajariam vários pedestres e motoristas a virarem ciclistas, a exemplo do que já ocorreu em várias cidades”, ressalta.

Antenor Pinheiro, especialista em trânsito e presidente da comissão temáticas de bicicletas da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), regional Centro-Oeste, entende que as ciclovias são parte importante da solução para a mobilidade nas cidades, mas devem ser planejadas como rede integrada ao sistema de transporte coletivo. “A bicicleta tem de deixar de ser exclusivamente concebida como equipamento de lazer e esporte e ser concebida como modal de transporte urbano. Não basta escolher uma via e implantar solitariamente o espaço ciclável.

O especialista entende que é preciso estimular seu uso rotineiro com segurança, objetividade e eficiência, além de políticas de estímulo ao uso da bicicleta devem acompanhar as demais intervenções viárias.

Fonte: Jornal O Hoje