Vexame do Brasil na Copa não deve alterar rumo da eleição, dizem analistas

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Há fatores mais importantes em jogo nesta eleição no Brasil do que a Copa. Mundiais anteriores não influenciaram resultado

A goleada histórica sofrida pelo Brasil contra a Alemanha chocou os brasileiros e jogou um balde de água fria numa nação que estava começando a se sentir bem por sediar a Copa do Mundo, mas a derrota humilhante na semifinal não deve mudar o rumo da eleição presidencial de outubro.

Antes do massacre por 7 x 1 na terça-feira, a presidente Dilma Rousseff viu os índices de aprovação de seu governo subirem, com brasileiros animados com o avanço da seleção brasileira no torneio e, principalmente, porque os temores de fracasso do evento do ponto de vista organizacional deram lugar a elogios ao país no exterior.

A maior derrota do futebol do Brasil jogando em casa pôs a população em depressão, tirando de Dilma o que poderia ser um ponto favorável na campanha presidencial em que tenta reeleição. Se a seleção brasileira conquistasse o hexacampeonato, Dilma se apropriaria da vitória no futebol durante a campanha.

Em vez disso, ela está de volta à realidade de inflação elevada e com a economia enfrentando o quarto ano seguido de baixo crescimento e descontentamento generalizado sobre os serviços públicos e os gastos para realização do Mundial, que resultaram em protestos de rua em junho e julho do ano passado.

"Acreditamos que a nossa visão - de que a oposição tem chance de vencer - foi reforçada pelo que pode legitimamente ser considerado, do ponto de vista brasileiro, como uma derrota esportiva trágica", disse o economista Tony Volpon, da Nomura Securities, em nota a clientes.

Valores: Até agora campanha presidencial já prevê gastos de R$ 568,4 milhões

Mas, ainda que alguns analistas do mercado financeiro avaliem que a derrota para a Alemanha prejudique a presidente até outubro, cientistas políticos entendem que as vitórias ou derrotas esportivas têm efeito curto nas campanhas eleitorais, mesmo uma derrota histórica como a de terça-feira.

"(A derrota para a Alemanha) não tem nada a ver com a organização da Copa. O que podia cair no colo do governo é a organização da Copa, mas nesse sentido tudo ocorreu dentro do razoável... Até onde compete à organização, a Copa está ocorrendo satisfatoriamente e acho que é isso que o atual governo vai apresentar depois", afirmou à Reuters o professor de Ciência Política da FGV-SP, Cláudio Couto.

"Mesmo que haja um mau humor momentâneo, isso não afeta a eleição. Se fizermos uma pesquisa esta semana, é capaz de a pesquisa revelar uma piora na avaliação do governo, uma queda da Dilma porque as pessoas estão de mau humor. Se fizer daqui a um mês, duvido que isso (a eliminação do Brasil) tenha algum efeito", acrescentou Couto.

Há fatores mais importantes em jogo nesta eleição no Brasil do que a Copa e o principal deles é o custo crescente de uma desaceleração da economia, avalia o consultor João Augusto Castro Neves, da consultoria de risco político Eurasia, em Washington. "Qualquer impacto da derrota terá um efeito marginal sobre as eleições daqui a quase três meses", disse, no mesmo tom do professor da FGV-SP.

"Se Dilma perder a eleição em outubro, será certamente por causa da economia, e não da Copa do Mundo", disse Castro Neves em entrevista por telefone.

As pesquisas mostram que Dilma continua favorita para vencer as eleições de outubro, embora seus adversários venham reduzindo a distância nos últimos meses. Mesmo antes da derrota humilhante de terça-feira, as pesquisas mostravam que a eleição provavelmente será decidida no segundo turno entre Dilma e o tucano Aécio Neves, visto com bons olhos no mercado financeiro.

Economia é crucial para a eleição, e não futebol

O histórico recente mostra pouca correlação entre os resultados de esportes e eleições no Brasil.

Em 2002, a seleção brasileira ganhou a Copa do Mundo pela quinta vez, mas o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu o poder. Quatro anos depois, o Brasil perdeu o Mundial, mas o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi reeleito.

Pesquisas indicam que candidato do PSDB, Aécio Neves, deve ir ao segundo turno com Dilma

Para Dilma, o maior risco de sediar a Copa nunca foi o desempenho da seleção brasileira dentro de campo, mas a capacidade do país de organizar um torneio de grande magnitude com sucesso.

Apesar dos atrasos na construção dos estádios e de falhas na infraestrutura, o torneio que recebeu seleções de 32 países tem transcorrido muito melhor do que o esperado e o futebol empolgante visto nos gramados fez com que este Mundial já seja considerado um dos melhores de todos os tempos.

A Copa levantou o humor do Brasil e melhorou as expectativas econômicas dos brasileiros em julho, dando uma impulso à popularidade de Dilma entre os eleitores, de acordo com uma pesquisa da semana passada.

O estado de espírito azedou após a goleada sofrida pela seleção e pode acabar machucando os números da presidente nas pesquisas no curto prazo, embora seja pouco provável que altere o panorama eleitoral.

O consultor Castro Neves, da Eurasia, mantém sua estimativa de chance de 70% de reeleição de Dilma em outubro, mesmo após o vexame da seleção brasileira.

Torcedores no estádio Mineirão na terça-feira vaiaram a equipe brasileira e alguns xingaram Dilma, o que levou alguns a se preocuparem com a chance de a depressão nacional reacender as manifestações nas ruas.

Mas a ameaça antes da Copa de que o torneio pudesse ser interrompido por protestos nunca se materializou, os pequenos atos contra o evento fracassaram na abertura do Mundial e as tentativas esporádicas de manifestações perderam fôlego à medida que os jogos aconteciam.

Os brasileiros não foram às ruas após a derrota de terça-feira, o que torna improvável que protestos contra o governo voltem com força, agora que a Copa está terminando.

Fonte: Ultimo Segundo IG