Empresários desconfiados

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Otimismo dos empresários cai, pelo quarto mês consecutivo, no Estado de Goiás, e registro é o menor da história

De acordo com o Índice de Confiança do Empresário Industrial Goiano (Icei), pesquisado mensalmente pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), os empresários não estão confiantes no cenário econômico atual, já que o resultado apurado, em junho deste ano, foi de 50,4 pontos, o mais baixo já alcançado. O melhor registro de 2014 havia sido em fevereiro, quando o índice registrou 59,5 pontos.

O Icei é composto por dois indicadores: Expectativa e o de Condições. No primeiro, o empresário se posiciona quanto à atual situação, em comparação com os próximos seis meses. Já no segundo caso, avalia-se o posicionamento do empresário quanto à atual situação em comparação com os últimos seis meses.

O economista da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), responsável pela pesquisa, Cláudio Henrique de Oliveira, ressalta que a diminuição do índice não foi drástica, mas aponta que a perda de confiança pode reduzir ou postergar investimentos por parte do empresariado. "Como o empresário trabalha com planejamento, tem que considerar certas variáveis", diz. Ele aponta como fatores a serem levados em consideração como motivadores da situação a inflação, a diminuição do fluxo comercial – que está crescendo, porém menos que no ano passado – , o período de eleição e o "efeito Copa do Mundo" – que poderia desencadear manifestações.

A instabilidade econômica atual do Estado e do País, aliada à cautela os empresários com relação à Copa do Mundo, que não alcançou os resultados esperados, foram elementos que desencadearam na insegurança com relação ao cenário geral. É nisso que acredita Heribaldo Egídio, proprietário de empreendimento do ramo da indústria farmacêutica. "Os empresários não estão realmente otimistas enquanto a economia não caminha para uma situação mais favorável", acredita. Segundo ele, o que leva a essa falta de interesse é a carência de políticas definidas no setor industrial. "Os estímulos do governo têm se mostrado muito vulneráveis. Em ano de eleições fica mais ainda instável, já que o governo não pode fazer muita coisa num momento como esse", ressalta o empresário.

Mercado

Com o Icei, é possível identificar a mudança de tendência na produção industrial. Os empresários confiantes tendem a aumentar o investimento e a produção para atender ao crescimento esperado na demanda. O índice varia de 0 a 100, sendo que valores acima de 50 pontos indicam empresários confiantes. "O resultado de Goiás está acima de 50 pontos, o que revela um empresário local mais confiante que o empresário nacional", afirma Cláudio, mesmo com a tendência de queda.

Para o empresário de uma indústria de produtos plásticos, Olympio José Abrão, o motivo da não confiança não é único, mas está relacionado a uma série de fatores. Ele considera que, nos últimos anos, aumentou muito a insegurança jurídica nas fábricas. "Além disso, há a concorrência com os importados. Hoje, produzir no Brasil é muito caro, e nós sempre fomos muito dependentes do mercado interno", afirma. Entre outros motivos que considera relevantes está, novamente, o fato de se tratar de um ano atípico, com eleições e Copa, fator que causou a redução do investimento.

No que se refere ao mercado interno, Olympio explica que desde a implantação do Plano Real, em vigor há vinte anos, aumentou a base dos consumidores. "Esse ciclo tem esgotamento. O governo já deveria ter feito alguma coisa para mudar, o povo está muito endividado", aponta o empresário.

Mundo

Outro motivo levantado por Heribaldo está relacionado às dificuldades de exportação. Isso porque as taxas altas e a burocracia envolvidas dificultam os processos. "O setor que trabalho, como é regulado – pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – padece ainda da lentidão do sistema. Isso é muito desestimulante". O empresário aponta que muitos de seus colegas estão investido nos Estados Unidos, por exemplo, onde alcançam resultados melhores que o do Brasil, já que os custos são inferiores. Para ele, as características não são restritas à Goiás, mas refletem o que vem ocorrendo no Brasil.

Nesse sentido, Cláudio chama atenção para a melhora econômica da união Europeia e dos Estados Unidos. "A partir desse momento, houve elevação dos juros e da inflação. Isso deixa a compra financiada mais cara, e o próprio consumidor diminuiu a aquisição."

Olympio afirma que os empresários não possuem um horizonte econômico para seguir pelos próximos seis anos, tanto no que se refere ao mercado interno quanto externo. Segundo ele, faltam incentivos governamentais com relação à indústria. "Fomos perdendo mercado externo e hoje só se exporta commodities. Nossa balança comercial é de produtos primários", analisa. O empreendedor afirma, ainda, que as indústrias locais não são competitivas para exportar por causa, principalmente, da infraestrutura precária, somada aos altos custos de produção, diretos e indiretos, além das exigências trabalhistas e do câmbio subvalorizado. "Quando se fica muito tempo fora do mercado exportador, o comprador continua adquirido produtos, mas de outro fornecedor. A desvalorização do câmbio tem que ser planejada, o que não tem sido feito", finaliza o empresário, referindo-se a alta ou baixa do dólar, que pode destruir a indústria ou aumentar a inflação, respectivamente, caso ocorram sem um controle efetivo.

Fonte: DM