Goiás foi 4º com mais homicídios

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Dados do Mapa da Violência mostram piora no Estado em relação ao resto do País no caso de assassinatos

Informações do Mapa da Violência 2014, divulgadas ontem, mostram que Goiás atingiu, em 2012, a quarta maior taxa de homicídios do país para cada grupo de 100 mil habitantes - 44,3 -, atrás apenas de Alagoas, Espírito Santo e Ceará. O Estado passou por um crescimento acelerado da violência em período relativamente curto. Em 2011, estava em 9º entre os Estados com maior taxa de homicídios. Treze anos antes, em 1998, tinha uma taxa de 13,4 para cada grupo de 100 mil habitantes, o que, na época, equivalia a 18ª maior do Brasil. O reflexo e o impacto, segundo especialistas, da falta de políticas preventivas e do processo de interiorização da violência se mostraram nítidos e o estado subiu tanto no ranking.

Ao analisar historicamente o período, o professor responsável pelo levantamento dos dados, o sociólogo e coordenador da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Julio Jacobo Waiselfiz, avalia que Goiás foi influenciado por um contexto nacional e não, necessariamente, por questões restritas às divisas do Estado. “Nossas taxas de homicídios são consideradas epidêmicas”, expõe ele, referindo-se ao parâmetro da Organização Mundial de Saúde (OMS), que define os índices de homicídios acima de 10 para cada grupo de 100 mil habitantes como sinalizadores de uma epidemia. “E a característica de uma epidemia é se espalhar. Se você não faz nada para conter, ela se espalha facilmente. É uma tendência natural”, complementa.

Júlio explica que, até a metade da década de 1990, o polo dinâmico da violência se concentrava em algumas poucas regiões metropolitanas, em especial do Sudeste brasileiro. De lá para cá, três fenômenos foram cruciais, segundo ele, para disseminar a criminalidade em outros locais do País e promover o espalhamento da epidemia. São eles: mudança do modelo econômico do Brasil, que começou a perder a característica centralizadora, a criação do primeiro Plano Nacional de Segurança Pública e do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) e, por último, a maior eficiência e aparelhamento da polícia nas regiões mais desenvolvidas do País.

Esse combinado de fatores, conforme o sociólogo, gerou um contexto expulsivo e de deslocamento da marginalidade. Em 1998, os estados com as maiores taxas de homicídios eram Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo. No comparativo do período até 2012, foram exatamente eles que registraram as maiores reduções das taxas, chegando a -62% e a -48,9% em São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Isso é reflexo, segundo Júlio Jacobo, das ações direcionadas e do foco da maior parte dos investimentos em segurança feitos pela União, que foram direcionados, na época, para estes locais. Ou seja: a diferença de atenção gerou vazios atrativos para a criminalidade nos demais estados.

ECONOMIA

Elemento que chama a atenção no ranking dos que possuem as maiores taxas de homicídio, em 2012, é o fato de que Goiás, mesmo despontando em cenário nacional, com crescimento econômico singular, continua brigando pelas piores posições com estados, cujo desenvolvimento econômico é baixo. Doutor em sociologia e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Nildo Viana pontua que, apesar do avanço da economia goiana, a desigualdade e a má distribuição de renda continuam perceptíveis no Estado, o que inviabiliza a associação entre uma coisa e outra. “Se você pegar outros estados com menos desenvolvimento, mas com maior distribuição pode ser que isto esteja fazendo alguma diferença”, sugere.
Em Goiás, além de Goiânia ser uma cidade de extrema desigualdade, existem ainda, conforme Nildo, outros pólos de probreza facilmente identificáveis e onde a criminalidade é alta, como o Entorno do Distrito Federal (DF) e alguns locais da região metropolitana. “A riqueza ainda está concentrada em uma parte pequena da população”, expõe. Na mesma linha de raciocínio, Julio Jacobo argumenta que não é o crescimento econômico que baliza a violência. “São as barreiras sanitárias capazes de conter essa epidemia. Vai depender mais de uma série de ações locais do propriamente disso. É um reflexo da debilidade estrutural do próprio aparelho do Estado”, diz.

Quarto em morte de jovens

O Mapa da Violência 2014 traz também informações sobre assassinatos de jovens e da população, em geral, a partir da cor da pele. No comparativo com os demais Estados, Goiás atingiu a quarta maior taxa do País de homicídios de jovens para cada grupo de 100 habitantes, em 2012. O índice registrado foi de 87,5, muito acima da média nacional, que foi 57,6. Em 2002, 653 jovens foram assassinados em Goiás. Dez anos depois, o número subiu para 1.476 - variação de 126%, a sétima maior do Brasil.

Na análise por raça, Goiás registrou a segunda maior taxa de assassinato de brancos em 2012 (23,9 para cada grupo de 100 mil habitantes), atrás somente do Paraná (36,7). Entre os negros, a taxa foi de 61,1, a quinta maior do País, ganhando apenas de Alagoas, Espírito Santo, Paraíba e Distrito Federal.

MUNICÍPIOS

Luziânia, que fica no Entorno do Distrito Federal (DF), foi a cidade goiana com pior desempenho na comparação das taxas de homicídios entre todos os municípios do Brasil com mais de 10 mil habitantes. Ela ficou em 15º lugar no ranking, com uma taxa de 105,8. Além disso, foi o quarto do país, em 2012, com a pior taxa de homicídios de negros: 147,4.

Fonte: Jornal O Popular