Projeto tenta ressuscitar Corredor Centro-Leste
Goiás, Espírito Santo e Minas discutem em Goiânia detalhes técnicos da nova proposta.
Quase 20 anos depois de ver boa parte das tentativas de orientar as exportações goianas para os portos capixabas fracassar, os setores produtivos e governos de Goiás, Espírito Santo e Minas Gerais querem, novamente, reavivar o projeto, que prevê a criação do Corredor de Exportação Centro-Leste. Detalhes técnicos da nova proposta foram discutidos ontem na sede da Federação da Indústria do Estado de Goiás (Fieg) por representantes dos três Estados, sob perspectivas de que até o fim do ano a medida entre em operação.
Apesar de repaginado, o projeto mantém a sua essência: para os goianos, a ideia é criar uma alternativa mais barata do que o Porto de Santos (SP) e às exportações feitas exclusivamente por via aérea, enquanto a Ferrovia Norte-Sul, que possibilitará a saída de produtos pelo Porto de Itaqui, no Maranhão, não fique pronta; e para os capixabas, captar a produção goiana para aumentar o fluxo de carga e a arrecadação dos cofres públicos. A mesma motivação serviu de pano de fundo para a entrada em operação do piloto do Corredor de Exportação Centro-Leste, em 1991.
Problemas
À época, o transporte rodoferroviário feito por 1,8 mil quilômetros era apontado como a via natural do Centro-Oeste para alcançar o mercado internacional. O eixo chegou a receber investimento logístico público e privado. Um consórcio de nove empresas goianas desembolsou US$ 3,5 milhões na construção de um armazém graneleiro com capacidade para 700 mil toneladas ao ano e dois terminais. A extinta Rede Ferroviária do Brasil, por sua vez, revitalizou o trecho ferroviário entre Goiás e Espírito Santo.
Goiás exportava basicamente soja e seus derivados, via Portos de Tubarão e Capuava, em Vitória (ES), para seguirem rumo à Europa por navio. No início, cerca de 200 mil toneladas eram exportadas ao ano. Entre 1992 e 1993, com a chegada de infraestrutura, a capacidade subiu para 800 mil toneladas. A partir de 1995, entretanto, os problemas começaram a ameaçar a viabilidade do acordo e as projeções otimistas para o eixo afundaram.
A falta de diversificação dos produtos transportados, escassez de vagões e alto custo do frete fizeram que o roteiro das exportações da produção goiana se concentrasse novamente em Santos (SP) ou no transporte aéreo direto de Goiás para o mercado consumidor estrangeiro. Apesar de mais caros, a melhor infraestrutura tanto de transporte quanto de armazenamento, estes meios se tornaram atrativos para os produtores goianos, que conseguiam, mesmo pagando mais, garantir a qualidade e maior quantidade de seus produtos para serem vendidos lá fora.
Mudança
Atentos ao histórico, os empresários e governos dos três Estados estão de olho num novo perfil de exportador e numa nova forma de transporte para reduzir o risco de fracasso. Agora, querem dar oportunidade à exportação da produção da micro e pequena empresa pelo intercâmbio e facilitação dos modais aéreo e marítimo. Ou seja, a produção sairia de avião até Vitória e de lá seguiria de navio até a Europa. Para entrar em execução, o projeto ainda depende do aval do governo federal.
O representante do governo do Espírito Santo, Pedro Gilson Rigo, explica que o Programa Exporta Mais Marítimo, criado pelo governo capixaba, visa tornar a exportação marítima de Vitória para portos franceses, para a micro e pequena empresa do Corredor Centro-Leste, mais atrativas com a redução de tributos. “O que queremos é sensibilizar as autoridades de Brasília para que promovam as mudanças das normas que regulamentam as exportações, com a simplificação do processo para as micro e pequenas empresas.”
Hoje, o governo federal permite que os Correios realizem exportações pelo modal aéreo, em operações que atinjam um máximo de US$ 50 mil. Geralmente, isso inviabiliza as microempresas que possuem mercadorias com maior peso, já que o custo final do produto ficaria acima dos concorrentes internacionais. “Exportar apenas por avião é caro e a micro e pequena empresa não conseguem arcar com os custos. Estamos tentando conseguir incentivos para o modal marítimo. As discussões estão avançadas. A recriação do eixo depende deste ponto”, destaca.