Pesquisa revela desigualdades

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Censo 2010 coloca Goiânia como destaque quanto à estrutura urbana no Brasil, mas periferia não recebe mesmos serviços.

Goiânia divide com Belo Horizonte (MG) a posição de cidades com mais de 1 milhão de habitantes com melhor estrutura urbana do Brasil. No entanto, isto não imuniza a capital goiana de uma realidade desigual. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados ontem, revelam que quanto maior a renda do goianiense, maior é a taxa de urbanização e presença de infraestrutura adequada em torno de sua residência. Os índices, referentes à luz, asfalto, calçada, arborização e coleta de lixo, por exemplo, decrescem de acordo com o menor salário do indivíduo.

O levantamento Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios avaliou, durante a coleta de dados do Censo 2010, oito requisitos que ilustram a estrutura urbana envolta dos domicílios fixos das cidades brasileiras. Em Goiânia, 348.239 pessoas pesquisadas ganham mais de dois salários mínimos por mês, estão no topo da pirâmide salarial e encabeçam o acesso aos serviços urbanos. Cerca de 99,6% delas têm iluminação na rua onde mora. Além disso, 99,3% têm asfalto, 95,8% possuem calçadas na porta de casa, 99,1% têm meio-fio, 61,2% moram próximos a bueiros e bocas de lobo e apenas 1,27% destes tem lixo acumulado nas proximidades.

Enquanto isso, na base da pirâmide salarial, onde estão 161.901 pessoas, que ganham entre um quarto e metade de um salário mínimo, a taxa de urbanização é menor. Desses, 98,9% possuem luz na rua de casa, 94,5% moram em vias asfaltadas, 77,9% têm calçadas, 93,5% têm meios-fios, 46,3% moram em ruas com bueiros e 3,86%, três vezes mais do que aqueles que ganham mais de dois salários, sofrem com o acúmulo de lixo e entulho nas redondezas. Outro elemento considerado foi a concentração de árvores. Entre os que possuem renda maior, o porcentual de arborização chega a 93,5%. Já entre os menores salários, o índice de cai para 85%.

Realidade
Em Goiânia, o bairro Jardim Goiás, na região sul, revela essa realidade. De urbanização recente e processo de verticalização acentuado, o local apresenta-se com duas partes bem delimitadas. De um lado, a área nobre, com presença de prédios e apartamentos milionários, além da concentração dos serviços, como supermercados, bares, restaurantes e parques; do outro, estão as casas mais simples, que iniciaram o processo de ocupação do bairro na década de 1980 e que sentem na pele a desigualdade imposta pela história e pelas circunstâncias que envolvem o bairro.
O aposentado Rivail de Sousa, de 68 anos, foi o primeiro a construir casa no Jardim Goiás 1, exatamente nos fundos do Parque Flamboyant. A rua onde mora, a 56-A, é simples, estreita e mais carente de estrutura que as outras vias próximas do bairro, onde concentram os prédios e comércios. “Desigualdade tem. Não tem como comparar a minha situação com a dos donos de apartamento.” Segundo Rivail, quando perambula pelo “lado de lá”, o jeito como ele mesmo chama, é perceptível a mudança de ambiente. “Lá é outro clima.”

Diferentemente da rua em que ele mora, as ruas próximas ao Parque Flamboyant, são todas munidas de lixeiras, contêiners, com calçadas regulares, limpas, iluminação em todos os postes e muitas árvores. Na rua do aposentado, não tem árvores, tampouco lixeiras. O lixo é disposto na porta das casas, em sacos amontoados. Pela quantidade, vale deduzir que o caminhão da coleta não passa há algum tempo. Bem próximo, numa rua transversal, lotes baldios viraram locais de despejo, com entulho e móveis velhos, como sofás e camas quebradas. “Se eu pudesse, eu morava de lá”, afirma Rivail.

Fonte: Jornal O Hoje