9,6 acidentes aéreos por ano
Média de ocorrências em Goiás é feita com base em levantamento da Anac e revela muitas falhas na fiscalização .
A média de acidentes aéreos em Goiás envolvendo aviões de pequeno porte e helicópteros é de 9,6 ocorrências para cada ano. Os números fazem parte de um levantamento feito pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nos últimos cinco anos, até 2011, e demonstram também que a região do Serviços Regionais de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa) VI – que abrange Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Distrito Federal – é a
segunda com o maior número de acidentes envolvendo aeronaves, perdendo apenas para a região do Seripa IV – São Paulo e Mato Grosso do Sul (veja box). Na região, Goiás fica atrás apenas do Mato Grosso.
Nos cinco primeiros meses deste ano o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa) já registrou 55 acidentes no Brasil. Um deles foi a queda do helicóptero da PolíciaCivil, que caiu neste mês, e vitimou fatalmente oito pessoas. No ano passado, o órgão registrou um aumento nas ocorrências. Foram 158 registros contra 110, em 2010.
Apesar do aumento do número de voos e aeronaves, especialistas e fontes da área avaliam que os dados indicam a existência de falhas relativas à fiscalização, que poderia ser mais exigente no sentido do controle das vistorias mecânicas e das negligências humanas. O fato de Goiás receber aeronaves de Estados da Região Norte para serem revisados por empresas goianas também foi apontado como causa relevante.
O coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica (PUC-GO), professor Raul Monteiro, avalia como significativa a média de 9,6 acidentes por ano. “Avião não foi feito para cair, deve-se operar com segurança de A e B.” Ele compara as causas dos acidentes aéreos com a da maioria dos acidentes de trânsito. “A imprudência é o principal fator. Não agir de acordo com as normas pode ocasionar acidentes relacionados à manutenção ou causa operacional.” Ele também mencionou o uso indevido de aeronaves agrícolas. “A Anac acaba encontrando dificuldades para fazer o controle na zona rural.”
O especialista acredita que as frequentes ocorrências acontecem por falta de cultura. “A solução seria as pessoas aprenderem a ser profissionais da aviação e agir com mais coerência. A decisão é humana, pois uma aeronave só decola após a decisão do responsável, que pode decolar sem fazer a manutenção ou com excesso de peso”, exemplifica. Também relembrando o acidente que aconteceu no primeiro semestre de 2009 quando uma aeronave caiu em um shopping center da capital ele diz que “naquela ocasião sequer havia um profissional no comando do avião. São pessoas sem capacitação que colocam em risco a segurança aérea”.
Já para o piloto de avião Raoni Monteiro, a média de acidentes em Goiás não é alta devido o grande número de aeronaves que chegam de outros Estados. “Elas normalmente já vêm com muitos problemas para fazer a manutenção em Goiânia.” Com experiência de seis anos na aviação, ele explicou que Goiás serve como ponto de apoio. “Conheço aproximadamente 13 oficinas que atuam na cidade. As oficinas vão crescendo e os funcionários abrem outras.”
Para sindicato, Anac não é eficiente
A suspensão da licença de funcionamento da Empresa de Manutenção Fênix – responsável pela revisão dos helicópteros da Segurança Pública de Goiás, trouxe à tona uma discussão referente ao trabalho de fiscalização realizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O helicóptero da Polícia Civil chegou a entrar no hangar da Fênix quando a empresa estava impedida de atuar na manutenção. A presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Albino, é taxativa com relação à atuação do órgão federal. “Nós podemos afirmar que a Anac não
cumpre seu papel a contento.” Ela opina dizendo que as estatísticas demonstram que a fiscalização regional e de táxiaéreo é falha. “Esse último acidente mostra que a Anac se quer avisou o cliente que a empresa estava suspensa.”
Ainda disse que o sindicato foi o maior incentivador para a criação da Anac, “mas agora estamos decepcionados”. Selma lamenta ter de acreditar ser necessário acontecer uma ocorrência ainda mais grave para que aconteça uma mudança na fiscalização. Ela relata que nos últimos cinco anos os índices negativos ficaram fora do controle. “Os últimos governos não colocaram a aviação aérea nacional como prioridade permanente.”
Com relação ao fato de a Região Centro-Oeste ser a segunda com o maior número de ocorrências, ela avalia dizendo que o órgão “não está sabendo dimensionar para os centros onde acontece a maioria dos problemas.” Afirmou que existe um déficit de pessoal na Anac, mas que não existe agilidade para que essa falta seja suprida com eficiência. “Isso é muito ruim, já que o Brasil tem histórico bom no controle sobre segurança de voo.”
A reportagem entrou em contato com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) por telefone e não obteve resposta com relação ao trabalho de fiscalização, quantitativo de fiscais e número de oficinas de manutenção aérea em Goiás. Por e-mail, atendendo um pedido da própria assessoria, foi enviada uma solicitação de quantas aeronaves estão registradas em Goiás, mas também não houve resposta até o fechamento desta edição.
HELICÓPTERO DA POLÍCIA MILITAR
Há quase 12 anos um helicóptero modelo Esquilo Biturbina AS355 da Polícia Militar do Estado de Goiás, com seis pessoas a bordo, caiu na zona rural de Anapólis. A aeronave perdeu o controle e teve de realizar um pouso forçado. Na tentativa, a aeronave capotou lateralmente, ficando seriamente danificada. Os ocupantes tiveram apenas ferimentos.
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ACIDENTE NO SHOPPING FLAMBOYANT
Um avião monomotor roubado e pilotado por um homem sem habilitação caiu no estacionamento do shopping Flamboyant. O piloto Cleber Barbosa da Silva, 30 anos, e a filha, Penélope Barbosa Correia, 5 anos, morreram na queda. A aeronave havia sido roubada do aeroclube de Luziânia.
AVIÃO CAI EM SENADOR CANEDO
Em janeiro do ano passado, a aeronave que transportava o neto do governador do Tocantins caiu na zona rural de Senador Canedo, distante 12 quilômetros de Goiânia. Seis pessoas morreram, entre elas Gabriel Marque Siqueira Campos, 12 anos, neto do governador do Tocantins, Siqueira Campos.
Fonte: Jornal o Hoje |