Transporte Publico: Em 1 ano, 45 mil deixam sistema

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Passado um ano do começo das manifestações por melhorias no transporte coletivo, 45 mil pessoas deixaram de usá-lo no seu dia a dia. De acordo com dados da Companhia Metropolitana do Transporte Coletivo (CMTC), a cada dia útil do mês de maio deste ano cerca de 670 mil passageiros usaram os ônibus coletivos. Em maio do ano passado, essa média era de 715 mil usuários por dia útil. A explicação é que, diferente do que pediam as manifestações, de lá pra cá a região metropolitana assistiu a uma deterioração ainda maior do sistema, obrigando, quem tem condições a buscar outras alternativas de transporte. Neste mesmo período, para se ter uma ideia, as ruas de Goiânia ganharam mais de 11 mil motos e 45,5 mil carros. Foi observado ainda um aumento no número de corridas de táxi e mototáxi. Em apenas um das cooperativas de taxi da cidade, foram 17.035 corridas a mais em janeiro deste ano do que no mesmo período do ano passado.

A manicure Sulamita de Castro foi uma das pessoas que deixaram de usar o transporte coletivo. Hoje, ela sai de sua casa no Setor Colina Azul e chega ao trabalho, um salão no Setor Bela Vista, em menos de 30 minutos. Sua colega, Valquíria Machado da Silva, que mora na mesma região, no Setor Veiga Jardim, para chegar ao trabalho às 8 horas, sai de casa com mais de uma hora e meia de antecedência. Valquíria vai de ônibus; Sulamita, de moto. Para retornar, no fim do dia, Valquíria chega a esperar mais de uma hora no ponto de ônibus porque os veículos só passam “lotadíssimos”. “A gente tem que andar dependurada na porta.” A viagem de volta é feita em, no mínimo, uma hora.

Sulamita não passa por esse constrangimento desde que comprou a moto, há um ano. Além de evitar os atrasos nos pontos, os veículos lotados e ser molestada por homens que se aproveitam da superlotação, Sulamita ainda economiza dinheiro. Com menos do que gastaria por dia em passagem de ônibus, R$ 5,60, ela coloca R$5 de gasolina na moto, o suficiente para fazer três vezes o trajeto de ida e volta de casa ao trabalho. Para comprar a moto, a manicure desembolsou mensalmente R$ 100, um valor aproximado daquele que gastaria por mês nas passagens de ônibus. E apesar de enfrentar o trânsito confuso da capital, ela não se arrepende da decisão. “É bom demais, mais confortável, não perco tempo no ponto e demoro menos para chegar.” Valquíria, sempre que pode, pega carona com Sulamita.

A migração do transporte coletivo para o individual foi denunciado pela reportagem do jornal O POPULAR, em agosto do ano passado. Segundo os dados da CMTC, de 2012 para 2013 o sistema em Goiânia e nos demais 18 municípios da região metropolitana perdeu 100 mil usuários; caiu de 19 milhões para 18,9 milhões o número de pessoas que utilizam ônibus na região.
Problema também no embarque

Por diversas vezes os passageiros do transporte coletivo se revoltaram nos últimos 12 meses por causa dos recorrentes atrasos dos ônibus. Em algumas delas, houve quebra-quebra nos terminais, violência que acaba por repelir ainda mais o usuário do transporte coletivo, que já não se sente seguro nos nem em dias normais.

Tal insegurança se dá devido à lotação dos veículos, que faz com que os usuários se amontoem na esperança de conseguir embarcar. A estudante de Biomedicina da Universidade federal de Goiás, Thalma Duarte Azeredo conta que já foi machucada ao tentar entrar no veículo e já testemunhou diversas agressões, inclusive a pessoas idosas, nesse momento. “As pessoas não se preocupam com quem está ao lado, só querem entrar e passam por cima de qualquer um.” Na opinião dela, esse tumulto para entrar no veículo ocorre porque os ônibus atrasam muito e passam sempre lotados. “Normalmente, eu consigo entrar no terceiro ou quarto ônibus que passa no ponto.” Thalma mora no Setor Bela Vista e estuda no Campus Samambaia. Ela sai de casa duas horas antes do horário da aula e mesmo assim chega atrasada diariamente. “É impossível chegar no horário.” Para evitar esse constrangimento diário, Thalma recorre a caronas dos colegas.

Cresce procura por táxis

Os táxis, dificilmente utilizado por pessoas para ir ao trabalho, também tem apresentado crescimento. Humberto Faleiros Guedes, sócio-proprietário de uma das maiores centrais de táxi de Goiânia, a Bandeirantes, conta que tem aumentado a frota sistematicamente para conseguir atender à demanda por táxi na capital. Em 2012 ele contava com 108 veículos circulando, hoje são 190. O número de corridas passou, nesse período, de 46.701, em janeiro de 2012, para 75.253, em janeiro de 2014, 60% em dois anos.

De junho do ano passado, início da crise do transporte coletivo, até abril deste ano, o numero de pessoas que passaram a recorrer ao táxi aumentou mais de 17%. Ele acredita que esse ano deva ultrapassar o número de 1 milhão de corridas de táxi.

Na opinião de Guedes, entre os fatores que explicam o fato de o taxi estar deixando de se tornar um transporte emergencial para se tornar uma alternativa de transporte está a má qualidade do transporte coletivo. Ele percebe que principalmente a classe média, motivada pela dificuldade do trânsito e de estacionamento e por não poder contar com o transporte coletivo de qualidade, está optando pelo táxi. “Se as pessoas precisam ir a Centro da cidade, onde não há estacionamento, ou a algum lugar de trânsito complicado, elas não optam pelo ônibus, vão de táxi”, relata.

Grupo no Facebook tem oferta de carona

Para organizar caronas e facilitar a vida de quem não quer usar o transporte coletivo, Sophia Pinheiro criou o grupo Carona Goiânia, no Facebook, há cerca de um ano. O grupo já tem 1.678 pessoas e tem atendido pessoas que querem viajar para o interior ou Brasília. Mas o objetivo principal da página, explica Sophia, é possibilitar a carona dentro de Goiânia apenas. No espaço virtual, as pessoas solicitam ou oferecem caronas, que podem ser de graça ou acarretar na divisão do combustível.

Além da carona, serviços de táxis, seja de carro ou de moto, também têm apresentado alta na procura. Embora não se tenha números de viagens feitas, Alessandro dos Santos, da Bueno Mototaxista, diz que é possível avaliar o crescimento da demanda a partir do aumento da frota. A central de Santos começou a funcionar em 2009 com cinco motos, hoje conta com 35.

Até a venda de bicicleta básica, usada como transporte e não para lazer e esporte, tem crescido em Goiânia. É o que aponta os registros da Próciclo, casa especializada em bicicletas. Em 2012, a loja vendeu 817 unidades, no ano seguinte, Letícia Arantes, dona da loja, foi surpreendida com um aumento de 70% nas vendas. “Vendemos uma média de 120 bicicletas por mês”, conta.

Fonte: O Popular