Protesto paralisa 17 terminais e empresa manda recolher ônibus

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Após um dia de paralisação quase total do transporte coletivo na região metropolitana, iniciada quando um grupo de motoristas resolveu protestar contra o reajuste salarial acordado um dia antes, dificultando a saída de ônibus no Terminal das Bandeiras, no Setor Sudoeste, os usuários do sistema devem ter uma trégua pelo menos até a tarde de segunda-feira, quando está marcada uma reunião no Ministério Público do Trabalho em Goiás (MPT-GO) com os três sindicatos envolvidos no impasse sobre o dissídio salarial: o das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia (Setransp), o dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado de Goiás (Sindittransporte) e o Intermunicipal dos Trabalhadores no Transporte Coletivo Urbano de Goiânia e Região Metropolitana (Sindicoletivo).

Ao todo, 17 terminais tiveram o funcionamento comprometido, sendo que 8 deles passaram praticamente todo o dia fechados. As empresas afirmam que 20 ônibus foram depredados e em alguns terminais houve vandalismo. No das Bandeiras, onde a paralisação começou, máquinas de lanche foram quebradas e lixeiras arrancadas e usadas para quebrar janelas de ônibus. A Polícia Militar destacou policiais em todos os terminais e nas garagens dos ônibus. No das Bandeiras e na Praça A, o Pelotão de Choque interveio, com uso de força e de bomba de gás lacrimogênio. Houve 18 prisões.

A paralisação começou no Terminal Bandeiras, por volta das 6 horas, e se espalhou para os demais. Passageiros embarcaram nos pontos dos setores e foram obrigados a descer, sem poder dar continuidade à viagem, o que deixou a população indignada. “É uma falta de respeito pegar a gente no ponto e largar aqui, sem ter como ir para o trabalho ou voltar para casa. Tudo bem os motoristas fazerem greve, estão no direito deles, mas usar o trabalhador para fazer isso é uma cachorrada”, disse o pedreiro Gilberto Silva Bernardes, de 55 anos. “Eu entrei no Parque Oeste, em um ônibus lotado. Fizeram a gente pagar a passagem e deixaram a gente um ponto antes do terminal. Perdi meu dia de trabalho”, reclamou a operadora da call center Daiane Gomes, de 32.

As empresas recolheram os ônibus temendo depredações. Nas portas das garagens das empresas de ônibus, os motoristas reclamavam mais da falta de uma assembleia da categoria do que do valor do reajuste acordado na quinta-feira. É que o Sindittransporte concordou coma proposta sugerida pelo MPT-GO sem convocar a categoria. O outro sindicato dos motoristas, o Sindicoletivo, passou a mobilizar os profissionais insatisfeitos já anteontem, quando foi realizado um protesto que comprometeu o transporte coletivo à tarde, principalmente no entorno do Terminal Padre Pelágio.

É essa distância entre o comando do Sindittransporte e a categoria que o motorista José Maria Oliveira, da HP, denuncia. “Ficamos sabendo do acordo por meio de uma nota pregada nos terminais.” Ele estava reunido com os colegas na porta da garagem central da HP. A nota foi afixada pelo Setransp. Na porta da Rápido Araguaia, o clima era mais tenso. Os motoristas ameaçavam impedir a saída de veículos, caso a empresa liberasse os ônibus. “Eu ate deito na frente do carro, se preciso”, ameaçou Wilson Francisco Dias.

O vice-presidente do Sindicoletivo, Fernando Neves, nega que a entidade esteja no comando da paralisação de ontem. Afirma ser uma manifestação voluntária dos motoristas. “O sindicato está apenas apoiando o movimento”. Ele calcula que 80% dos motoristas aderiram à paralisação.

Os motoristas decidem, a cada hora, o que fazer e espalham as decisões por meio das redes sociais. De boca e boca, o movimento foi ganhando novos contornos e a reivindicação inicial, que era de assembleia, passou a ser por reajuste salarial de 15%, ticket alimentação de R$ 500 e auxilio R$ 750 de ajuda de custo ou manobra de volta. Na garagem Sul da HP, os motoristas ameaçavam permanecer até que fossem convocados para uma assembleia.

Negociação

A pedido da Companhia Metropolitana do Transporte Coletivo, que solicitou “apoio na fiscalização em relação a possíveis movimentos grevistas sem a devida legalidade”, o MPT decidiu reabrir a negociação com patrões e motoristas. De acordo com a nota do MPT, a negociação de quinta-feira precisou ser encerrada, sem acordo, devido à intervenção imposta pelo Sindicoletivo, “que levou à sede do MPT em torno de 100 trabalhadores para protestarem contra os índices em negociação”. Diante da decisão do MPT, o vice-presidente do Sindicoletivo, Fernando Neves, acredita que os motoristas devam voltar ao trabalho.

O presidente da Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC), João Balestra, diz que o órgão não tem como “entrar nesse problema, que é trabalhista”. “O Estado não deve entrar. Quem poderia fazer ações no sentido de resolver o impasse é o Ministério Público do Trabalho, protagonista nas relações de trabalho.” Na Companhia Metropolitana do Transporte Coletivo (CMTC), o chefe de gabinete Tales de Castro disse que o acordo salarial é legítimo e que a paralisação foi uma surpresa.

PMs entram em conflito com passageiros em terminais

O conflito entre policiais do Pelotão de Choque e passageiros que depredavam os ônibus no Terminal das Bandeiras deixou usuários do transporte coletivo assustados. “Tinha muita criança indo para a escola. É comum eles pegarem o ônibus sozinhos, sem adultos. Eu mesma peguei o meu celular e liguei para muitos pais de crianças de 8, 9 anos, que estavam chorando assustadas e sem ter como voltar para casa”, disse a vigilante Maria Aparecida do Carmo, de 34 anos.

Com a chegada da Tropa de Choque, os manifestantes saíram do terminal e fecharam a Avenida T-9. Novamente, ônibus foram quebrados. A polícia usou bombas de efeito moral e balas de borracha. Pelo menos dois jovens foram detidos e levados para o 20º Distrito Policial (DP), no Setor Sudoeste.

“Eu protestei mesmo. Entrei na frente do ônibus para fechar a T-9 porque peguei o ônibus às 5h30, no Jardim Itaipu. Quando chegou aqui, mandou a gente descer do lado de fora. Achei muito errado deixar a gente ao Deus dará. Se quer brigar com as empresas, por que não carrega a gente de graça?”, questionou a servente Mardilene Souza Castro, de 34 anos.

A situação só ficou mais tranquila por volta das 9h30, quando o comércio ao redor começou a abrir as portas. Mas o terminal ficou a manhã toda interditado. Doze carros da PM faziam a segurança dentro do local.

Um protesto no Terminal Praça A, no Setor Campinas, um dos principais bairros comerciais de Goiânia também terminou em confronto com polícia. Um grupo de jovens bloqueou a Avenida Anhanguera, em frente aos camelódromos de Campinas e OK. Sentados no chão, eles seguravam cartazes pedindo melhorias no transporte. Por volta das 10h20, a cavalaria da PM e a tropa de choque dispersaram os manifestantes com bombas de gás.

Presidente do TRT considerou paralisação abusiva e determinou multa diária de R$ 50 mil




A presidente do Tribunal Regional do Trabalho 18ª Região (TRT-GO), desembargadora Elza Cândida da Silveira, determinou, ontem, em liminar, o retorno imediato dos motoristas à atividade, depois de classificar o movimento como greve abusiva. Em outra liminar, o juiz do Trabalho Washington Timóteo Teixeira Neto mandou o Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de Goiânia e Região Metropolitana (Sindicoletivo) não impedir a circulação de ônibus e a entrada de motoristas em garagens e terminais.

A decisão da desembargadora acatou uma reclamação do Setransp, segundo o qual a paralisação ocorreu antes da negociação coletiva e não foi definida em assembleia convocada para decidir pela deflagração, ou não, do movimento. A magistrada reconheceu, ainda, que não houve comunicação prévia de 72 horas, conforme exigência da Lei de Greve.

Na decisão, Elza destacou que foi celebrado aditivo à convenção coletiva de trabalho, que concedeu reajuste salarial de 7% aos empregados, além de cesta básica, auxílio-alimentação e gratificação por funções suplementares. “A deflagração do movimento paredista na vigência de CCT constitui afronta à Lei de Greve”, observou a desembargadora.

A magistrada marcou para segunda-feira uma audiência de conciliação entre o Sindicoletivo e os Sindicatos dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário no Estado de Goiás (Sindittransporte) e das Empresas de Transporte Coletivo de Goiânia (Setransp). Se o serviço não for normalizado, o Sindicoletivo terá de pagar multa diária de R$ 50 mil.

Já a decisão de Teixeira Neto atendeu parcialmente um pedido feito pela empresa Rápido Araguaia Ltda. contra o Sindicoletivo, sustentando que representantes dele fossem impedidos de colocar pessoas, cavaletes, correntes e cadeados, na sede dela, garagens e terminais, para atrapalhar o trabalho de motoristas e a circulação dos ônibus. O juiz considerou que a liminar visa “determinar o cumprimento da lei e assegurar a legitimidade e legalidade do movimento grevista.”

A Rápido Araguaia também havia pedido à Justiça que integrantes do Sindicoletivo mantivessem distância mínima de 100 metros dos imóveis dela, mas o juiz negou, ressaltando que não há impedimento legal contra a paralisação, inclusive em frente ao local de trabalho. O magistrado destacou, contudo, que os sindicalizados não podem invadir propriedade da Rápido Araguaia, agir com violência e atrapalhar a entrada e saída de pessoas, como os motoristas que não aderiram ao movimento.

O POPULAR ligou para o advogado do Sindicoletivo, Nabson Santana, deixou recado na caixa de mensagem do celular dele, mas não obteve retorno às ligações. Caso não cumpra a decisão do juiz, o sindicato também deverá pagar multa de R$ 50 mil por dia e por local em que ocorrerem manifestações da paralisação, em desconformidade com a lei.

Polêmica sobre assembleia tem 2 anos

A polêmica sobre a realização de assembleia entre os trabalhadores do transporte coletivo da região metropolitana tramita na Justiça do Trabalho. Em 2012, a procuradora Jane Vilani entrou com ação civil denunciando a ausência de assembleias na categoria. O processo tramita no Tribunal Superior Tribunal (TST). Jane explica que a decisão do TST não pode revogar os acordos anteriores, mas, se acatada, além de obrigar o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado de Goiás (Sindittransporte) a realizar assembleias no futuro, demonstra a ilegalidade que vem sendo cometida pela entidade desde 2012. Segundo a procuradora, a Consolidação Brasileira do Trabalho (CLT) exige a realização de assembleia para definição de acordo salarial.

O presidente do Sindittransporte, Alberto Magno, alega que suspendeu as assembleias porque as reuniões eram marcadas por tumultos provocados por integrantes do Sindicoletivo, que rivaliza com o Sindisttransporte a representatividade dos motoristas.

Mototaxistas faturam com tumulto em terminais



A paralisação dos motoristas e os protestos e atos de vandalismo realizados ontem por passageiros do transporte coletivo em diferentes pontos da cidade tumultuaram, ainda mais, o já caótico trânsito da capital. Devido ao funcionamento precário dos ônibus, muitas pessoas retiraram os carros das garagens e outras valeram-se de caronas concedidas por colegas, parentes e patrões. Com isso, os congestionamentos aumentaram ainda mais em várias regiões.

No auge dos tumultos, os mototaxistas aproveitaram para trabalhar e arrecadar mais dinheiro. “Perdi a conta de quantas viagens fiz hoje”, relatou o mototaxista Jefferson Pereira, que faz ponto nas proximidades do Terminal Isidória, no Setor Pedro Ludovico. Por volta das 18h30, no momento em que iniciava um protesto no local, ele contabilizava que a demanda de passageiros havia aumentado cerca de 70%.

Sem ter como voltar para casa de ônibus, muitos trabalhadores tiveram de desembolsar um dinheiro que não estava previsto no orçamento. Os mototaxistas aproveitaram o movimento e aumentaram o preço das viagens. O aumento foi aplicado de forma desigual, sem critério. Jefferson Pereira procurou defender a categoria, alegando que o reajuste oportunista estaria sendo feito apenas pelos mototaxistas que atuam na clandestinidade. A reportagem telefonou para algumas empresas estabelecidas regularmente e constatou, no entanto, que em várias delas os preços haviam sido majorados.

Um mototaxista que trabalha em uma empresa localizada próximo ao Terminal Cruzeiro do Sul, no Conjunto Cruzeiro do Sul, em Aparecida de informou que uma viagem até ao Centro custaria em torno de R$ 30,00. Em dias normais, conforme diz, é cobrado no máximo R$ 20,00. “O preço está mais caro por causa dessa muvuca”, acentuou. Outro mototaxista, que atua no Setor Pedro Ludovico, disse á reportagem que cobraria R$ 25,00 por uma corrida ao Bairro Feliz, na Região leste da capital. O valor é similar ao preço cobrado por uma viagem de táxi.

18 pessoas foram detidas durante protestos ontem

Durante todo o dia, 18 pessoas foram detidas. Destas, oito permaneciam presas até a noite de ontem. As outras dez foram autuadas em termos circunstanciados de ocorrência ou não tiveram a conduta individualizada e, em função disso, foram libertadas. As quatro primeiras prisões aconteceram no Terminal Bandeiras. Os acusados foram conduzidos para o 20º Distrito Policial, no Setor Sudoeste, e autuados em flagrante por dano ao patrimônio público e por formação de quadrilha, crime inafiançável.

Outras quatro pessoas foram detidas no Terminal Garavelo e encaminhadas para o 4º DP de Aparecida de Goiânia. Posteriormente, nove manifestantes foram levados para o 5º DP, em Campinas. À noite, outro jovem foi flagrado ao quebrar o vidro de um ônibus em uma manifestação no Terminal Isidória e encaminhado para o 8º DP, no Setor Pedro Ludovico.

Fonte: O Popular