Cachoeira desaba e respinga na política goiana
Marcos Nunes Carreiro
A tantas vezes citada Operação Monte Carlo, deflagrada em 29 de fevereiro, que teve por objetivo desarticular a organização que explora, há aproximadamente 17 anos, máquinas caça-níqueis em Goiás, já causou muitos danos à política brasileira, principalmente a goiana. A operação foi realizada pela PF (Polícia Federal) em conjunto com o MPF-GO (Ministério Público Federal em Goiás), com apoio do Escritório de Inteligência da Receita Federal. O MPF denunciou mais de 80 pessoas, que fariam parte da "máfia".
Foram presos, numa primeira “leva”, nomes importantes do cenário goiano: o empresário e ex-vereador de Goiânia, Wladmir Garcez; o corregedor-geral da Secretaria de Segurança Pública e Justiça de Goiás, Aredes Correia Pires; os delegados da PC-GO (Polícia Civil de Goiás): Juracy José Pereira - delegado regional da PC em Luziânia -, Niteu Chaves Júnior - titular do 2° DP de Luziânia -, Marcelo Mauad - titular do 2° DP de Valparaíso -, José Luis Martins de Araújo - titular do 1° DP de Águas Lindas de Goiás - e Hylo Marques Pereira - titular da Delegacia de Alexânia; dois delegados da PF lotados em Goiânia: Deuselino Valadares e Fernando Bayron; um capitão, um major, dois sargentos, três tenentes-coronéis, entre eles o comandante do Comando do Policiamento da Capital, Sérgio Katayama; 18 soldados da PM goiana e quatro cabos. As prisões efetuadas levaram a trocas de comando, o que modificou a estrutura da segurança pública do Estado de Goiás.
Entre os servidores públicos envolvidos no esquema, também foram presos um policial rodoviário e um servidor da Justiça do Estado de Goiás. Todos eles recebiam propinas semanal e mensalmente para servir à chamada Máfia dos Caça-Níqueis. As propinas vinham do empresário Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, que continua preso no presídio federal de segurança máxima de Mossoró (RN), mas que está tentando voltar à Goiás, alegando estar longe de sua família. O empresário teve o pedido de habeas corpus negado. Cachoeira caiu, mas está levando consigo muitos outros.
Âmbito Federal
O mais conhecido e que teve a vida política mais afetada foi o senador Demóstenes Torres, ex-DEM, que teve seu nome envolvido logo no início das investigações e que chegou a dar explicações em plenário no dia 6 de fevereiro. Afirmando que sua vida “sempre foi um livro aberto e continuará sendo”, Demóstenes foi aplaudido e recebeu o apoio de mais de 30 dos 81 senadores, tanto aliados quanto de oposição.
Porém, novas denúncias abalaram a imagem do senador no cenário político nacional. As investigações da PF apontaram que Cachoeira habilitou 15 aparelhos de rádio da marca Nextel em Miami (Estados Unidos), que foram distribuídos entre algumas pessoas de sua confiança. E entre essas pessoas estava o senador goiano. Além disso, há fortes indícios de que o empresário, assim como Lenine Araújo de Souza, seu principal assessor, haveria realizado reuniões no apartamento de Demóstenes com o restante da “máfia”. As informações são de grampos feitos pela Polícia Federal, em que o sargento Idalberto Matias de Araújo, conhecido como “Dadá”, fala da reunião.
Todas as denúncias geraram uma imensa pressão sobre Demóstenes, que passou a ser conhecido como um vulto no parlamento, se evadindo das sessões e fugindo da imprensa, o que não era sua conduta usual. Ao fim de quase um mês, a situação do parlamentar tornou insustentável o relacionamento com seu partido e colegas de sigla. Na segunda-feira, 2, o Democratas se reuniu e decidiu abrir processo de expulsão, caso não houvesse apresentação de defesa contundente. Presentes na reunião, estavam o presidente do partido, senador José Agripino Maia; o líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto; o deputado goiano Ronaldo Caiado; e o vice-governador do Estado de Goiás, José Eliton Júnior.
Este, em entrevista em seu gabinete, na terça-feira, 3, afirmou acreditar na defesa e recuperação daquele que era um dos principais nomes do Democratas. Relatou que o senador estava triste e abatido, pois “nenhum ser humano passa por uma situação dessas imune, passivo, mas ele está centrado em sua defesa”. Entretanto, meia hora após as declarações, Demóstenes Torres anunciou oficialmente o seu desligamento do partido. Segundo o advogado do senador, Antônio Carlos Almeida Castro, conhecido como Kakay, o pedido de anulação das provas apresentadas pela Procuradoria-Geral da República contra Demóstenes, será feito ao STF (Supremo Tribunal Federal), sob o argumento de ilegalidade na obtenção das provas.
Ainda nessa esfera política, as investigações apontam o envolvimento de cinco deputados federais, sendo quatro goianos e um carioca. O deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ) foi um dos flagrados em conversas telefônicas com Cachoeira. Nercessian se licenciou de seu partido no último dia 31 de fevereiro, até que os fatos sejam esclarecidos. Além dele, os deputados goianos Carlos Alberto Lereia (PSDB), Sandes Júnior (PP), Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni (PT) são citados como integrantes do esquema montado pelo empresário. Otoni chegou a aparecer em um vídeo em que Cachoeira oferece ao parlamentar R$ 100 mil, além de insinuar que já havia contribuído anteriormente para campanhas políticas.
Âmbito Estadual
A nível de Estado, as denúncias vão ao encontro do atual governo. O nome de Marconi Perillo (PSDB) é citado em gravações em que Cachoeira conversa com seu gerente de contabilidade, Lenine Araújo (tido como segundo na hierarquia do grupo), falando sobre um cargo no governo, que teria recebido indicação do contraventor, e que teria sido desprezado sem o conhecimento do governador. Nas conversas o contraventor afirma: “Marconi, hora que souber disso, vai ficar puto”. Em entrevista, o governador negou participação com os esquemas do bicheiro e ainda disse que qualquer um que esteja envolvido com os crimes de que o empresário e seus aliados são acusados serão exonerados e punidos pela Justiça.
Ao conceder essa explicação, Marconi se refere à sua ex-chefe de gabinete, Eliane Pinheiro, que pediu demissão nesta terça-feira, 3, em carta entregue ao governador (leia carta na íntegra). Eliane foi citada como tendo ligação com o bicheiro e teria ainda protegido parentes do prefeito de Águas Lindas, Geraldo Messias (PP), que também sofreu com denúncias. Messias é um possível candidato à reeleição da prefeitura, mas que agora pode cair nas mãos do candidato de oposição, Hildo do Candango (PTB).
Com Eliane caiu também o presidente do Detran em Goiás, Edivaldo Cardoso, que também entrou com pedido de exoneração do cargo, na tarde desta quarta-feira, 4. Edivaldo foi apontado como tendo envolvimento com Cachoeira e Demóstenes Torres. (Leia carta de Edivaldo).
Âmbito Municipal
Outro nome importante que entregou carta de pedido de demissão foi o chefe de gabinete do prefeito Paulo Garcia (PT), Cairo Alberto de Freitas, após denúncias de envolvimento com o contraventor. Cairo teria organizado uma reunião com a oposição municipal para tratar sobre as obras do Parque Mutirama. O encontro aconteceu na casa do vereador Santana Gomes (PSD), com a presença dos também vereadores de oposição Geovani Antônio (PSDB), Maurício Beraldo (PSDB) e Elias Vaz (PSol), além do ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Wladmir Garcez e Carlinhos Cachoeira.
Em audiência na Câmara, alguns vereadores petistas disseram que o chefe de gabinete havia sido ingênuo em marcar a reunião, que não foi convocada em nome do prefeito, mas em nome do próprio Cairo e que ele deveria entregar seu cargo ao prefeito Paulo Garcia - o que de fato aconteceu no dia seguinte, em carta entregue ao chefe do Executivo municipal, com os dizeres de: “Fui ingênuo em não perceber que poderiam fazer uso político desse episódio contra a prefeitura e seu gestor”.
O andamento das investigações, que está sendo divulgado gradualmente pela imprensa, deve trazer novos nomes por aí. Resta ver quem mais cairá no efeito cascata da máfia de Cachoeira.
Fonte: Jornal Opção
1 comentários:
Write comentáriosPARABENS AO GOIANIABR QUE IMPARCIALMENTE PUBLICA A NOTICIA QUE ACONTECE E INTERFERE NA VIDA PUBLICA E POLITICA DE GOIAS.
ReplyFELIZMENTE A DEMOCRACIA NO BRASIL EXISTE E É RESPEITADA POIS ASSIM PODEMOS ENTEDERMOS COMO A POLITICA BRASILEIRA CORRUPTA INICIOU-SE COM A "IMPERIALIZAÇAO PORTUGUESA" E O RANSO DESTA FORMA DE GOVERNAR TRAZIDA PELOS IMPERIALISTAS PORTUGUESES EM SOLO TUPINIQUM.
SEMPRE TIVEMOS E TEREMOS ESSA CHAGA CHAMADA CORRUPÇAO ENTRE TODOS NOS BRASILEIROS DE TODAS AS CLASSES SOCIAIS NO DIA A DIA- GRAÇAS AO LEGADO PORTUGUES CORRUPTO.