Nion Albernaz: “A cidade anda suja, descuidada, encardida. Não está bonita”

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O ex-prefeito Nion Albernaz lembra com saudades dos tempos em que flores e jardins estavam entre as prioridades de Goiânia. Segundo ele, o desleixo com a cidade é uma característica das gestões do PT

Aos 84 anos, completados terça-feira (15), Nion Albernaz (PSDB) faz críticas à administração de Goiânia ao Hoje de Frente com o Poder. Ataca o PT, mas elogia Antônio Gomide como prefeito, “não para governador”. Nion começou na política em 1958, como vereador, foi prefeito de Goiânia três vezes, deputado federal e diz que parou “na hora certa” no ano 2000. Até por isso, disse que Iris Rezende (PMDB) está com “prazo de validade vencido”. Na entrevista, Nion fala ainda do governo Dilma Rousseff, do neto e vereador Thiago Albernaz e compara a corrupção à poluição de um rio.

O senhor faz parte do conselho político superior do governo Marconi Perillo. Qual o efeito prático, sugestões, como é a relação com o governo?

Todo governo precisa ter apoio popular. Temos alguma experiência e procuramos oferecê-la ao governador com sugestões que possam levar a esse apoio popular. E os resultados têm sido relativamente positivos.

Que sugestões, por exemplo?

Qual foi a marca do governador Marconi Perillo nos mandatos anteriores? Será que foio asfalto, os programas sociais? Não, foi o VaptVupt. Porque é o único atendimento direto à pessoa, que se sente valorizada. Quando fui prefeito fiz mais de 10 milhões de m² de asfalto. Acredito ter sido o prefeito que mais asfalto fez na cidade. Todo o asfalto feito na nossa administração foi com recursos próprios. Nunca tomamos dinheiro emprestado para fazer asfalto, porque asfalto é arroz com feijão em uma casa. Não se toma dinheiro emprestado e compra arroz para comer. Você deve ter do seu rendimento.

Está errado o governo que faz empréstimos para duplicar e recuperar rodovias?

Acredito que não, porque a estrada tem uma estrutura muito mais pesada e um custo muito maior. No nosso caso colocávamos também água pluvial, meio-fio, todas as obras de água. O dinheiro que o prefeito recebe da população, com o pagamento de impostos, não deve servir para pagamento de comissionados. Deve ser usado parabenefício da população. Fizemos asfalto no Jardim América, Setor Sudoeste, Novo Horizonte, Jardim Presidente, Setor Pedro Ludovico, Setor Universitário, até o Parque Atheneu. E ninguém fala que o asfalto marcou nossa administração. O que o povo fala que marcou? A florzinha. A cidade ficou bonita e era orgulho da população. A população sentiu orgulhosa, quando alguém chegava a Goiânia e fazia referência da beleza da cidade. Os jardins muito bem cuidados. O povo falava: “mas que cidade bonita” e sentiam como um ‘pavão’, reconhecendo que a cidade era bem administrada.

Como está Goiânia hoje?

O prefeito ainda não acertou no seu projeto. O Paulo Garcia, que não conheço pessoalmente, mas conheço o pai e a família dele, sei que é uma pessoa de bem. Mas não tem acertado no desejo da população. A cidade não anda bonita, anda suja, descuidada, eu diria, anda encardida. Por isso, gostaria muito que ele acertasse. Agora é uma característica do PT. O PT nunca cuida bem da cidade.

Nunca?

Nunca cuida bem da cidade e do povo. É muito importante quando se é prefeito entender o que é bom para a cidade e para o povo. E quando se é prefeito não desvie seu pensamento, 24 horas por dia tem que cuidar e pensar nas soluções para os problemas da cidade.

Antônio Gomide, do PT, ficou mais de cinco anos na Prefeitura de Anápolis e saiu com alta popularidade. Qual seria a explicação?

Os dedos das mãos não são iguais. Os petistas também não são iguais.

Tem exceções?

Tem. Mas não quero dizer que ele sendo bom prefeito vai ser bom governador. Ele tem característica própria para ser bom prefeito. E é bom prefeito. A cidade está satisfeita com o trabalho dele. Acredito que ele é e vai continuar sendo um bom político, porque tem tino administrativo e acima de tudogosta do povo. É importante você querer bem o povo.

O chamado “tempo novo” quebrou a hegemonia de 16 anos do PMDB.Mas também está completando 16 anos no poder. E agora?

E está acertando. Porque se não estivesse não continuaria. Em 98 o PMDB tinha exaurido toda a capacidade de inovação. O Iris Rezende, que é um grande administrador, cuidava única e exclusivamente das estradas, casas populares, ouginásios de esportes. Tudo muito à vista do povo. Casa popular fazia às margens das rodovias para dar visibilidade. O Iris tem uma capacidade grande de fazer obras. A parte social dele é realmente deficiente. Ele não cuida da parte social.

Mas o tempo novo se exauriu ou tem fôlego para continuar?

O tempo novo é sempre novo. Porque o Estado de hoje não é igual ao de 98, é outro, é diferente, se renova. É como a fênix, sai das cinzas, renova e continua prestando serviço à população. O tempo novo procura trabalhar na melhoria da qualidade de vida do povo. Será que chegamos ao reino do paraíso? Não, ainda temos muita coisa a fazer e a trabalhar.

Qual é o principal gargalo hoje?

Todo mundo fala segurança, saúde, mas nenhum povo se desenvolve sem educação. Tem que educar. Tenho dito que na propaganda de asfalto e estradaé preciso ensinar o cidadão a respeitar as leis. O nosso povo não respeita lei. O jeitinho brasileiro é uma forma desonesta de burlar a lei. Tirar proveito de tudo. Isso não é possível. Não basta apenas ensinar o cidadão a ler e escrever, a somar e multiplicar. Ele precisa ter também cultura de cidadania. O que é público é nosso e deve ser respeitado. O nosso vizinho e as leis de trânsito têm de ser respeitados.

Mas não há um grande clamor por Segurança Pública? Não falta maior efetivo das polícias?

Sempre falta. O secretário de Segurança Públicame falou do número de soldados que falta, ou seja, de policiais. Mas já houve um aumento substancial. Agora, não acho que seja só aumentar o número. Tem de preparar o cidadão. Se não tivermos um serviço de inteligência na polícia, o trabalho de andar na rua não é o bastante. Temos que inibir, masnão se acaba com o crime. Gostaria muito que se investisse também na inteligência da polícia. É muito importante porque previne o crime.

O senhor conhece o meio político desde 1958, quando foi eleito vereador. A corrupção aumentou ou sempre existiu?

Não, neste patamar não.É um absurdo o que acontece. A nossa principal empresa está envolvida em corrupção, a Petrobras. O respeito ao bem público era muito maior.

E outro vereador, eleito naquele ano, foi Iris Rezende…

Nós não éramos do mesmo partido, mas quando ele foi candidato a prefeito me chamou para fazer o planejamento de governo dele. Eu tive a honra de ter feito o plano de governo do Iris.

Quando Goiânia não tinha eleição direta, o senhor foi nomeado prefeito por Iris Rezende (1983). Por que o rompimento?

Porque os problemas políticos são pequenininhos, mas vão crescendo e de repente há uma ruptura. Tenho muita amizade e muito respeito ao trabalho que o Iris fez em Goiás. Pode ter certeza que ele é um dos homens que entram para a história de Goiás.

No início do mês Iris anunciou a pré-candidatura ao governo pelo PMDB, que tem outro pré-candidato: Júnior Friboi. Que análise o senhor faz?

Normalmente não entro na disputa do adversário. Adversário cuida dele por lá. Eu me preocupo com o de cá. É possível que o governador Marconi Perillo venha disputar novamente o governo. E trabalho para que o governador tenha sucesso nessa eleição. Se ele disputar com o Iris a possibilidade do Iris perder é grande.

Por quê?

Isso é uma brincadeira, masfalo que o Iris já está com o prazo de validade vencido. Todo cidadão tem atividade política durante um tempo. Depois para. O que fiz é o que está feito e não fiz mais porque não foi possível. Agora, insistir depois de uma determinada idade não é correto. Ele não vai ter sucesso. Se tivesse oportunidade de falar com ele eu diria: ‘oh, não candidata não, você já tem sua história, não perde mais uma vez não, deixe de ser candidato, deixe que o Marconi ou que outros saiam no seu lugar, mas não vai para governador não. Você não vai sair bem’.

Quando é esse prazo de validade?

Isso é sentido pelo próprio candidato. O (senador José) Sarney parece que não tem fim. Com 84 anosestá aí até hoje. Ele viu que perdia no Maranhão e foi para o Amapá. Quer dizer, não tem senso de limite. Não sabe até quando vai. Toda vida que tiver oportunidade vai. Agora, há pessoas que tem o equilíbrio de chegar a um ponto e falar: ‘tenho condições de administrar uma cidade, mas posso fracassar e não dar conta fisicamente do trabalho’.

O senhor previa isso, no ano 2000, quando era prefeito e preferiu não disputar a reeleição?Imaginava que poderia fracassar?

Eu podia não ter o mesmo desempenho que tive nas três outras oportunidades. E não gostaria de frustrar o povo, por isso eu resolvi me afastar e esperar que outro melhor do que eu me substituísse. Você tem de ter equilíbrio suficiente para sentir ‘não, já cumpri o meu dever, já dei o que podia dar à população’. Eu podia fazer mais o que? Mostrar mais o que? Já tinha feito um governo do agrado da maioria da população. Por isso cheguei à conclusão que bastava.

Em 94 o senhor já tentava unir a oposição, o que acabou acontecendo em 98. O senhor se candidatou a senador. Foi um sonho ser governador, faltou disputar o governo?

Não, não, se eu quisesse, teria sido. O Iris me chama e me diz ‘oh, agora é a sua vez’, mas eu estava na Prefeitura. E não tem nada melhor para mim do que ser prefeito. Então disse para ele: não, eu não quero. Quero continuar prefeito. Se tivesse dito que queria ser governador, teria sido candidato. Foi apenas um desentendimento que houve, eu não preciso lembrar nomes e nem nada. Mas na realidade senti que já devia sair do PMDB, porque o Mauro Borges, o Irapuan (Costa Júnior), a Lúcia Vânia, o Henrique Santillo tinham saído e eu também saí.

Por que essa ‘debandada’ de líderes no PMDB?

Dizem que o Iris é muito centralizador e quer tudo para ele. Não acho que seja bem assim. Mas tive um desentendimento, não preciso falar com quem, e resolvi sair. E quando saí, foi diferente. Juntei a oposição e ganhamos do Iris em 98. As pessoas queriam que eu saísse candidato. Falei não, sou prefeito e vamos arranjar um. Escolhemos o Marconi. O Marconi era deputado federal e a limitação de conhecimento dele era pequena. Nas carreatas íamos com o locutor falando ‘olha o Marconi aí, é o moço da camisa azul’,para identificar o Marconi com a população, porque o povo não sabia quem era Marconi. (apoio: Felipe Coz e Augusto Diniz)

Fonte: Jornal O Hoje