“Não existem supersalários na Comurg, o maior é de R$ 32 mil”

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Presidente da Comurg garante que problemas do início da gestão foram superados e que a cidade está com o serviço de limpeza normalizado
Paulo de Tarso Batista já foi um militante aguerrido do PT, décadas atrás. “Já fui daqueles de radicalizar mesmo”, confessa. Hoje, prefere o diálogo ao confronto. Natural de Araxá (MG), o petista é graduado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e filiado desde ao partido desde 1981. Atualmente, ocupa a vice-presidência do diretório municipal de Goiânia.
 
Como homem de partido, já cumpriu várias missões em gestões anteriores: foi chefe de gabinete de Darci Accorsi (1993-1996) e diretor de Parques e Jardins da Companhia de Ur­ba­nização de Goiânia (Comurg), quando sua presidente era Neyde Aparecida, de quem também chefiou o gabinete quando de sua passagem pelo Congresso, como deputada, entre 2003 e 2006.

A última missão, assumida este ano, é o retorno a uma casa que já conhece: a Comurg, mas na função de presidente. Em en­trevista ao Jornal Opção, Paulo de Tarso admite que passou por al­guns problemas no início, mas garante. “Hoje isso está resolvido. Conseguimos voltar ao equilíbrio na limpeza da cidade.” So­bre a questão dos supersalários na empresa, ele contesta o valor de R$ 80 mil, diz que o maior vencimento é de R$ 32 mil e que nem ele nem a administração municipal podem fazer muita coisa, já que se trata de funcionário antigo da empresa e do regime celetista.

Cezar Santos — Quando Paulo Garcia assumiu para seu mandato de fato, a cidade estava muito suja. Ele admitiu aqui mesmo que isso se devia ao rompimento do contrato com a Delta, o que desorganizou os serviços. A limpeza da cidade foi normalizada?
Foi. A cidade sofreu impacto (na limpeza) nos resíduos sólidos, restos de obras, poda de árvores, isso gerou na cidade um desconforto muito grande. Gosto de deixar claro que na coleta de lixo residencial nunca houve problema. Com os resíduos sólidos não foi feita por falta de equipamentos. Quando entrei, sofri muito porque a cidade estava mesmo com problemas pontuais nessa área. Ainda por cima era período chuvoso, quando se avoluma mato alto, você limpa a cidade, mas parece que não limpou porque a enxurrada joga tudo na rua de novo. Hoje afirmo com tranquilidade que superamos essas dificuldades, inclusive nos equipamentos, que ainda não temos no número que a Comurg precisa, mas conseguimos devolver a tranquilidade na área de limpeza. Hoje a cidade está limpa. Eu ando muito, não fico em gabinete, vou aonde tem problema, não me furto a ouvir as críticas e ir ver. Atendo ligação de qualquer um, vou e resolvo. Quando digo que a cidade está limpa é porque conseguimos voltar ao equilíbrio na limpeza da cidade.  
 
Elder Dias — Há pontos ou bairros mais complicados para fazer a limpeza? Por que ouvimos reclamações pontuais, do caminhão que não vai a algum lugar...
Há lugares mais complicados, o Setor Bueno é um, é complicadíssimo fazer coleta de lixo domiciliar, nos horários de pico, causa engarrafamento, o caminhão tem de passar na mesma quadra duas, três vezes. Setor Oeste também, o caminhão passa na minha rua 3 horas da manhã, é um caos. Nesses setores, o lixo tem de ser coletado à noite e mesmo assim é difícil Nos bairros mais distantes, não há problema de falha nossa, os moradores sabem o dia e a hora que o caminhão passa. O problema é que eles fazem de alguns pontos área de transbordo. Você vai lá, passa o trator, limpa aquele lixo que é jogado de qualquer jeito, e no outro dia tem lixo de novo. Esses são os problemas que enfrentamos. Peso que temos de investir muito a educação ambiental e já trabalhamos muito com as crianças, a Amma [Agência Municipal de Meio ambiente] também tem trabalho nisso. Temos uma equipe de orientação. Com o tempo vamos conseguir sobressair nisso aí. Mas não temos problemas específicos, Goiânia é tranquila. Os circuitos dos caminhões são cumpridos. Há ruas em que o caminhão passa diariamente, outras a cada dois ou três dias. Num setor como esse [Marista], um caminhão de 19 metros cúbicos enche a caçamba em oito quilômetros. Em outros setores, precisa andar 50 quilômetros para encher.
 
Cezar Santos — A coleta seletiva foi lançada com barulho. Está no nível desejado pela prefeitura ou precisa melhorar?
Precisa, mas assim mesmo Goiânia é referência nacional. Estivemos agora num encontro em Brasília, e fomos referência. 
 
Cezar Santos — Então está no nível ideal?
De forma alguma, o Brasil é que está mais atrasado que nós. Tive a felicidade de andar por outros países, e esse tema sempre me chamou a atenção. Na França, por exemplo, vi o tanto que a questão do lixo reciclado é respeitada. Se vê o amontoado de sacos plásticos nas portas com o lixo reciclável. Os caminhões vão muito mais para recolher esse lixo que o orgânico. Aqui precisamos avançar. Nós coletamos 7% do lixo reciclado, mas nossa meta neste ano é chegar a 15%. O problema maior na nossa logística é equipamentos. O que estamos resolvendo com essa licitação que foi paralisada pelo Tribunal que pediu algumas adequações a serem feitas pela administração direta. Resolvendo o problema de equipamento, garanto que chego aos 15%. Um outro dado, os grandes geradores de reciclado em Goiânia não colocam esse lixo para nós entregarmos às cooperativas.
 
Cezar Santos — Eles fazem o quê?
Vendem geralmente para São Paulo, coletam esse lixo em Goiânia e vendem em São Paulo. Mas se colocarmos um pouco mais de equipamento, e isso é vontade do prefeito Paulo Garcia, posso melhorar os circuitos, melhoro minhas rotas e consigo dar menos lixo para o aterro e mais para a coleta seletiva. 
 
Cezar Santos — O sr. diz que na França é melhor, mas isso não passa também por conscientização? A prefeitura tem atuado em campanhas nesse sentido?
Fizemos agora recentemente, a campanha Eu amo Goiânia, eu cuido do lixo. Ficou uns 40 dias no ar e nos ajudou muito a melhorar a coleta seletiva e dos resíduos na porta das casas. Nós temos equipe de orientação, que vai às casas e ensina o que pode e não pode fazer. Quando fizemos com o Amma, com o professor Pedro Wilson, um acordo e começamos a colocar fiscal autuando, reduziu-se muito a quantidade de lixo jogada nas portas. Tem a velha máxima que diz criança a gente educa, adulto a gente pune. Na questão da publicidade tem o custo alto. A prefeitura está se reorganizando, se ordenando financeiramente, então não podemos investir muito em propaganda, que é onerosa. Mas é fundamental para avançarmos nessa questão.   
 
Elder Dias — O Cata-Treco, instituído na gestão de Iris, continua? A população recebe bem?
O Cata-Treco é um sucesso, tem uma agenda imensa e aumentamos o números de veículos que fazem o Cata-Treco. Quando entrei, a seletiva estava com problemas e eu puxei para a presidência, a aí reorganizei também a coleta do Cata-Treco, que é uma experiência muito boa. Quem não tem um móvel inservível dentro de casa, um computador velho, uma mesa, uma cadeira? E não tem onde jogar, não vai pôr isso no carro e levar para longe. Então o Cata-Treco veio ajudar muito.
 
E vamos trabalhar agora, em conjunto com a Amma, a questão dos ecopontos, que são outro problema da cidade. Até 2 metros cúbicos, a Comurg vai até a porta de sua casa e recolhe o entulho. Acima disso, você precisa ou dar destinação final ou contrata uma caçamba. Quando disponibilizarmos os ecopontos para a população, vamos ter mais um avanço na coleta seletiva. As pessoas vão ter onde fazer o descarte do lixo. 
 
Elder Dias — Quantos pontos serão?
Serão 15 ecopontos. É pouco, mas é o início do que precisamos fazer. Para montar um ecoponto é preciso ter área disponível, estudo de impacto de vizinhança, tem de ter todo um estudo ali de impactação, porque as pessoas têm certa resistência em ter um algo assim perto de suas casas. É o que acontece com a cooperativas de reciclagem. Temos dinheiro para construir galpões de reciclagem, agimos em parceria com o Ministério Público e com a Universidade Federal de Goiás, mas em dois locais a população não aceitou. É aquela situação, querem que faça, mas não perto de suas casas. Estamos buscando um formato de ecoponto, de uma cooperativa, vamos fazer uma maquete, para que a sociedade veja que não é um bicho de sete cabeças. 
 
Cezar Santos — Qual é o efetivo da Comurg hoje?
São 8,5 mil pessoas aproximadamente, incluindo pessoal operacional e administrativo. Operacio­nais são 4,8 mil.
 
Cezar Santos — E qual seria o efetivo ideal?
O prefeito autorizou agora e chamamos mais 500 pessoas do concurso público. A cidade cresce continuamente e a solicitação de serviços aumenta dia a dia, hoje necessitaríamos de mais 2 mil pessoas, o estudo está sendo feito, encaminhamos isso ao prefeito, para melhorarmos a varrição e a coleta de lixo. 
 
Elder Dias — O aterro sanitário de Goiânia, tido como modelo, está recebendo volume maior do que deveria receber?
Nosso aterro recebe um volume de lixo adequado à sua estrutura atual. Aterro sanitário é uma obra de engenharia. Nosso aterro hoje tem manutenção, é controlado. Acabamos de receber um estudo sobre a situação do local, contratamos uma empresa para fazer isso. Foram indicadas a medidas de engenharia que precisamos fazer para que nosso aterro tenha mais 25 anos de vida. Precisamos fazer investimentos para que o aterro continue sendo de referência. Gostaria muito que daqui a alguns dias já começássemos a catalisar o gás, a vender energia, mas são obras que exigem muito investimento, mas estamos trabalhando para isso. 
 
Cezar Santos — O transporte de lixo por caminhões para a estação de tratamento de esgoto tem sido problema ambiental sério, uma vez que há derrame de chorume nas ruas e até no Rio Meia Ponte. Como está essa questão?  
Uma das questões que precisamos cuidar no aterro são as lagoas de chorume, porque hoje ainda tiramos o chorume de lá e o transportamos para a estação de tratamento de esgoto. Esse trabalho está começando a ser feito, já vamos contratar a empresa. A questão do chorume me incomoda muito, na verdade me incomoda a qualidade do serviço da coleta e é uma cobrança que eu faço. Os caminhões são terceirizados e eu cobro do diretor da área e das empresas. Alguns caminhões têm uma espécie de reservatório para coletar o chorume, mas como aquele líquido é altamente corrosivo, aquilo estraga. Aí eles deixam, não arrumam e o chorume cai na rua. Dia desses presenciei um motociclista cair por derrapar numa mancha de chorume. Pedi ao motorista para parar e iria lá, porque acho que não podemos ser omissos, mas o rapaz se levantou bem. Mas estou atento a essa questão do chorume, temos de fazer o transbordo do material, não tem jeito, o aterro está àquela distância, o que não é um problema só de Goiânia. Outras cidades brasileiras têm esse problema da distância do aterro e da qualidade dos equipamentos que fazem a coleta do lixo. A tendência é melhorar, estamos recebendo agora 70 novos caminhões até o final do ano. E pedimos à empresa que faz o coletor que dê uma atenção especial ao tanque que segura o chorume. Para diminuirmos esse que é um dos problemas que enfrentamos.
 
Elder Dias — Lixo hospitalar é mais perigoso e exige um cuidado específico. Em Aparecida agora foi achada uma peça de césio. Há um gerenciamento para que coisas assim não voltem a acontecer?
Na verdade, a culpa aí é do responsável por ter deixado aquilo ali. O lixo hospitalar, por exemplo, nós não temos a menor responsabilidade sobre ele. Os grandes geradores de resíduos de saúde não são os hospitais: são clínicas dentárias, veterinárias, pet shops, distribuidoras de remédios, farmácias etc. Ao pé da letra, esses seriam os responsáveis pela destinação dos resíduos. Mas a capacidade operacional deles, para resolver esse problema, é difícil. Então, a Prefeitura é que sempre fez essa coleta. No caso específico da peça de raios-X, o jeito é penalizar que deixou o equipamento abandonado. Até onde eu sei, é o próprio fabricante que deve fazer o recolhimento do material, assim como ocorre com quem produz insumos agrícolas e agrotóxicos.
 
Elder Dias — Há vários pontos que geram esse lixo perigoso. A Prefeitura tem uma divisão específica dentro da Vigilância Sanitá­ria para controlar isso?
Temos a vigilância sanitária da Comurg. Esses pontos estão cadastrados e a coleta é feita em equipamento especiais, com caminhões especiais. Não se misturam lixo doméstico e lixo hospitalar. Recentemente, houve uma polêmica com a Delegacia Regional do Trabalho (DRT), que recebeu denúncia de que havia caminhão de coleta domiciliar pegando lixo hospitalar. Na verdade, houve uma confusão, porque esse caminhão estava ali para colher o lixo comum do hospital, mas tinha gente se aproveitando disso para acondicionar resíduos de saúde. Foram 20 dias de polêmica e de conversa, mas, no fim, chegamos a uma solução, tanto para o Ministério Público Federal do Trabalho, que entrou na história, quanto para a própria DRT, que juntamente com a Comurg, chegaram a um consenso para que pudéssemos continuar fazendo a coleta, da maneira adequada.
 
Cezar Santos — Foi divulgada recentemente a condenação de dois companheiros seus de partido, Neyde Aparecida [secretária da Educação de Goiânia] e Paulo César Fornazier, por problemas ocorridos durante a gestão na Comurg. Da mesma forma, Wagner Siqueira [deputado estadual pelo PMDB], ex-presidente da companhia, está com bens indisponíveis pelo mesmo motivo. O que ocorre? Há um foco de problemas na Comurg? Como o sr. avalia a condenação dos petistas?
Tudo isso ocorre, salvo engano, na contratação de pessoal. Temos conversado muito na administração direta, também com o prefeito Paulo Garcia, e será apresentado na próxima semana um novo organograma da Comurg. Quero saber quem está contratado, onde está e o que faz, para não enfrentarmos novos problemas. Mas Neyde e Fornazier não foram condenados por corrupção, ou por terem se apropriados de dinheiro público. Isso é preciso ficar bem claro, porque vi, dias atrás, pessoas fazendo ataques à honra de Neyde Aparecida na Câmara de Goiânia. A falta de informação leva as pessoas a agredir quem não merece isso. Na verdade, ela contratou pessoas na gestão de Pedro Wilson para atender a administração. Naquela época, a maioria eram trabalhadores operacionais, que entraram com função gratificada — o que não podia, apesar de não haver nada proibido. A Comurg é uma companhia muito grande. Apesar de cercada por advogados competentes, por seu tamanho, sempre fica um probleminha para trás. Não vou dizer que estarei livre disso ao sair. O que posso dizer é que estamos tomando todos os cuidados necessários. O que posso dizer é que, tanto no caso de Neyde, como no de Fornazier e de Waguinho, não foi questão de ordem moral. Eles contrataram trabalhadores, mas o órgão que entrou com ação entendeu que não poderiam ser contratados para exercer aquela determinada função. 
 
Cezar Santos — A gente percebe que parece ter havido um uso político, por ser um órgão com um cargo pessoal muito grande. Tanto que seus gestores geralmente se consagram nas urnas.
Tem muita gente que ganha voto na Comurg, não só quem está ou esteve por lá. Mas não se contratam pessoas de seu partido para pôr lá e ficar trabalhando política. Se você me perguntar quantas pessoas eu pus na Comurg para trabalhar, eu responderia que, se muitas, dez. É a pessoa que anda comigo no carro, é meu chefe de gabinete, é um advogado de confiança, mas estão todos lá, exercendo sua função todo dia. Esse povo não consegue, se porventura um dia eu for candidato, me dar 100 mil votos. Não há como negar que é uma empresa que sofre influência da política. O que estamos tentando — e o prefeito tem sido um bom parceiro nisso — é segurar essas questões políticas. O nível de contratação é baixo, estamos elaborando esse novo organograma e buscando fazer com que as pessoas que vierem para a Comurg tenham uma real função e trabalhem naquilo que tenhamos necessidade.
 
Cezar Santos — Que nota o sr. daria para a limpeza de Goiânia hoje, de zero a 10?
Eu daria uma nota 7. Se for para ser mais rígido ainda, uma nota 6. Falo muito para meu pessoal que virei um limpador de rua. Ando pela cidade e fico observando a iluminação pública por exemplo. A Comurg cuida muito mais do que simplesmente da coleta de lixo. É um trabalho que envolve a limpeza urbana, a manutenção das praças, cuida dos jardins, da arborização, da iluminação e da destinação final dos resíduos. Então, eu me acostumei ultimamente a observar se tem lâmpada queimada, se está acesa de dia, se o jardim tem tiririca, se tem sujeira no chão, se está caindo chorume, se tem entulha foro da caçamba.
 
Nós nunca vamos atingir o ideal, mas vejo que podemos melhorar muito e temos capacidade para isso.
 
Cezar Santos — O sr. deu primeiramente uma nota 7, depois foi mais realista e a baixou para 6. Acha que, no fim da gestão, essa avaliação pode chegar a um 8?
Eu quero chegar à nota 8, até porque 10 ninguém um dia conseguirá, nós nunca deixaremos de ter desafios. A cidade é muito grande e temos problemas culturais, educacionais e de renda. Não posso cobrar de quem tem menos poder aquisitivo, menos informação e menos instrução que tenha o mesmo comportamento de alguém que more no Setor Marista. Percebemos que certas pessoas não têm ideia do dano que estão causando e isso sempre vai existir. Por outro lado, pelo que eu vejo, não estamos mal: a varrição está a contento, da mesma forma ocorre com as podas. Nosso maior gargalo é a questão da iluminação, porque há uma licitação que vem se arrastando. Tivemos problemas internos na empresa também, que já detectamos e já estão sendo resolvidos. Se ao fim da gestão eu conseguir ser merecedor dessa nota 8 já me darei por satisfeito. O que eu vou cobrar da minha equipe, que é muito boa e profissional, é que não repita os erros do passado. E peço à população que seja parceira, que ajude a cuidar da cidade onde mora. O que leva um cidadão a jogar lixo em um lugar que acabou de ser limpo? Está sujando o que é dele mesmo.
 
Elder Dias — Há uma impressão, não sei se ilusória ou real, de que a Prefeitura cuida melhor das praças centrais do que das que há na periferia. Falta uma igualdade de tratamento entre as regiões?
Se você aceitar, lhe faço um convite: entre em um carro comigo e vamos andar pela cidade. Você vai perceber que muito dessa crítica carece de verdade. Eu vou à região noroeste e falo para meus diretores, “eu gostaria que lá no Centro fosse assim, como aqui”. Há um grau de cuidado, zelo e limpeza nessas regiões que chama mesmo a atenção. Por isso, quando eu falo que a cidade está limpa é porque tenho essa certeza. Não há diferenciação entre manutenção das praças. O que há, por exemplo, é que pegamos uma praça [Leo Lynce, entre a Praça do Ratinho e a Praça Tamandaré] que estava abandonada em uma área nobre e a reformamos em um modelo ideal para a cidade. Agora estamos trabalhando a revitalização da praça da T-7 e da Praça do Trabalhador. Outra que está em obras é a Praça Boaventura, na Vila Nova. Vou sair daqui agora e ir ao Residencial Orlando Morais para viabilizar uma praça para o setor. Investimento tanto no centro como nas praças dos setores mais afastados. O convite fica de pé para quem quiser acompanhar nosso trabalho. O que não dá para manter, devido à época do ano, é a qualidade dos jardins. Vivemos agora um período de estiagem. São 1.460 praças em Goiânia, fora outras demandas. Imagine o quanto de caminhão-pipa serve a isso tudo.
 
Euler de França Belém — A Praça do Sol vai ser reformada?
Vamos reformá-la, sim, e se o prefeito Paulo Garcia me conceder a autorização, quero começar o processo ainda este ano. Lá temos um problema, que é a feira que ocorre aos domingos. Penso que, com um bom diálogo, os feirantes vão entender a necessidade da intervenção. A reforma é uma vontade da comunidade e da cidade de Goiânia. É uma região adensada por hotéis, restaurantes e comércio em geral. Todos pedem que façamos essa mexida. Talvez possamos fazer a transferência da feira para a rua durante um tempo, com prazo determinado. Estamos também negociando com o governo federal recursos para obras como essa e também há empresas que se mostram interessadas em bancar o custo da reforma da praça. Se isso ocorrer, talvez comecemos até em outubro.
 
Euler de França Belém — O promotor Juliano de Barros fala que a coleta seletiva não está sendo feita conforme o programado. O que está ocorrendo?
O promotor é uma das pessoas que merecem ser parabenizadas por seu trabalho na área. Temos um diálogo muito bom. Quando a coleta seletiva se iniciou, eram 6 cooperativas, hoje são 15. Além de atendê-las, precisamos assistir toda a cidade. A informação que tenho é de que hoje há um nível de satisfação muito bom por parte das cooperativas.Precisamos avançar na questão da destinação final, melhorar a qualidade e o conforto dessas cooperativas que recebem os produtos. Com a ajuda do Ministério Público, com recursos canalizados para esse tipo de projeto, é a construção de nove galpões que servirão de modelo para essas cooperativas. Mas, no todo, a coleta seletiva funciona bem.
 
Euler de França Belém — Como é essa história de supersalários na Comurg?
Esse é um debate complicado de fazer, mas não existe supersalário. Saiu essa questão de servidores que receberiam R$ 80 mil, mas não há isso. Não recebem esse valor. O maior salário da Comurg, hoje, é de R$ 32 mil. É um bom salário, mas de um funcionário que está na Comurg há 35 anos. A vida desse servidor foi toda na Comurg. Há 19 servidores que ganham acima dos vencimentos do prefeito, mas todos estão há mais de 25 anos na empresa. O que ganham é fruto das convenções coletivas, das gratificações, dos quinquênios. Tudo isso vai sendo incorporado ao salário do trabalhador. Dentre esses de maior salário, há vários que fizeram várias e várias incorporações. E aí você pode me perguntar, “e agora?”. A questão é que isso é a vida do sujeito dentro da empresa. Não fui eu nem Paulo Garcia quem inventou isso. O que precisamos discutir é se a empresa tem condições de pagar ou não. Olhando o nível do mercado, é um salário avantajado, mas quem de decidir se é justo ou não é a própria Justiça.
 
Euler de França Belém — Mas não existe uma lei que estipula um limite para o ganho?
No caso da Comurg, não, porque a empresa não é de administração direta, mas celetista, de regida pela lei da sociedade anônima. Tem jurista que diz que uma empresa do modelo da Comurg não se enquadra no que é chamado de ponto de corte. Já outros julgam que sim, que se enquadra. Mas há uma diferenciação: esse trabalhador, assim que se aposenta, volta para o teto do INSS, que é R$ 4,6 mil. Já o trabalhador de administração direta da Comurg continuará custando o valor de quando se aposentou. Enfim, é uma discussão que precisa ser feita, mas vai dar pano para manga.
 
Euler de França Belém — A campanha de Paulo Garcia se centrou no tema da cidade sustentável.  A Prefeitura está realmente indo nessa linha?
Na época eu perguntei ao marqueteiro e ao nosso prefeito se tinham certeza de que seria esse mesmo o tema, porque é algo muito caro, muito difícil. De qualquer forma, pelas ações que temos tomado, caminhamos para a sustentabilidade, que não se limita à questão do lixo ou da área verde. Mas é um processo ao longo da vida. Nós vamos passar, outras pessoas virão e quem ficar terá de cuidar para atingir essa sustentabilidade. 
 
Euler de França Belém — Como está sua relação com a Secretaria do Estado das Cidades? É positiva?
Creio que sim. No início houve uma desatenção, até de minha parte, em relação a um recurso. Houve um atrito desnecessário, pelo qual eu mesmo me responsabilizo, por uma incompreensão de uma fala que foi divulgada por um jornal do secretário João Balestra, a relação ficou tensionada, mais do meu lado do que do dele. Mas hoje a relação está tranquila. 
 
Euler de França Belém — Quais plantas estão sendo usadas pela Comurg no ajardinamento da cidade?
Entre outras flores, nós plantamos petúnia, begônia, sálvia, dália, jasmim, camomila, girassol-de-jardim, margaridinha; já em questão de árvores, ipês amarelo, rosa, branco e roxo, nó-de-porco, oiti, entre outras. Tudo isso cultivado em nossos viveiros. 
 
Euler de França Belém — O sr. é um dos fundadores do PT em Goiás?
Não exatamente. Minha ficha de filiação é a de número 317, de 1981. Mas sempre militei no PT, pois fazia política desde os 16 anos. Um dia, um senhor — que havia me conhecido na roda de música — bateu na porta da minha casa se dizendo vendedor de roupa. Na verdade, o senhor era um militante político de Recife. Ele me disse que havia ficado muito impressionado comigo e precisava que eu fizesse algumas tarefas para ele. Então, me deu alguns documentos sobre a ditadura, um livro de filosofia e foi assim que comecei minha militância política.
 
Cezar Santos — E quem era esse senhor?
Era “seu” Alfredo. Nunca mais o vi. Depois fiquei sabendo que ele era do PCB de Recife. Inclusive, na data da primeira manifestação aqui em Goiânia, quando ouvi os gritos de “sem partido”, escrevi um artigo sobre o “seu” Alfredo.
 
Euler de França Belém — O sr. irá disputar as eleições para deputado? 
Quando o prefeito me convidou para assumir a Comurg, fui avisado de que estaria saindo da minha área de conforto e que era necessário que eu pensasse em todas as hipóteses. Como aceitei, estou à disposição para tudo o que acontecer. Se for para ficar na administração municipal, eu fico. Se for para ser coordenador de campanha ou candidato, eu também vou. Vai depender do prefeito. Na minha tendência, a Articulação, meu nome está à disposição. Se essa for a decisão do partido, assim será.
 
Euler de França Belém — É certo que o sr. será candidato a deputado estadual e Tayrone Di Martino [vereador de Goiânia] a federal?
Não. Há outros nomes para deputado em nossa tendência. Temos Adriana Accorsi, Iêda Leal, Inocêncio Borges, além de outras pessoas que podem surgir.
 
Euler de França Belém — O sr. acha que a aliança PT-PMDB será mantida para a chapa majoritária?
Se for para pensar em projeto, sim. Esse discurso de separação por parte do PMDB é histórico, mas acredito que essa aliança feita com Iris Rezende é muito sólida. Além disso, as lideranças do partido estão dispostas, com raras exceções, a continuar com a aliança, pois ela tem sido boa para os dois partidos.
 
Cezar Santos — Mas há petistas que acham ser esse o momento propício para lançar candidatura própria, uma vez que o PMDB está dividido entre Iris Rezende e Júnior Friboi.
Há muitos que podem dizer o que acham, mas aqueles que conduzem o processo são diferentes. Não podemos fazer cálculos visando o momento, pois estamos em um processo iniciado em 2008, que só não começou antes por um erro do Maguito Vilela.
 

 
Elder Dias — O PMDB está mais atrapalhando do que ajudando a administração do prefeito Paulo Garcia?
Não concordo com isso. Existe uma diferença muito grande com as pessoas que conduzem o processo político com responsabilidade. O grande mal é esse utilitarismo. Eu já fui assim e achava que o PT não deveria se misturar com ninguém, porque imaginava que o partido fosse puro. E não é assim. Existem divergências. Acho que essa aliança é fundamental para que ganhemos as eleições em 2014.
 
Euler de França Belém — A possibilidade de o prefeito Paulo Garcia disputar as eleições existe?
Se depender de mim, não.
 
Elder Dias — Como a Articulação discute esse assunto?
Esse assunto nunca foi pauta de nossas conversas. São algumas pessoas que afirmam a candidatura do prefeito ao governo do Estado. Eu, particularmente, penso que Paulo Garcia deve ser preparado para um projeto mais longo, pois ele tem um compromisso que precisa cumprido com a cidade de Goiânia. Quando lançamos o mote da sustentabilidade, eu disse que esse era uma bandeira muito forte. É lógico que não conseguiremos alcançá-lo por completo, mas o prefeito vai nos ajudar a avançar. E pelo que estamos construindo, muito será avançado no que concerne à melhoria da qualidade de vida da cidade de Goiânia.
 
Euler de França Belém — Existe outro nome forte dentro do PT para o governo: Antônio Gomide. O sr. acha que Gomide pode disputar as eleições?
Antônio Gomide assumiu Anápolis de uma forma dinâmica e construiu uma gestão diferente durante quatro anos. E agora, tem outro mandato para consolidar o que começou. Diferentemente de Paulo Garcia, que assumiu um governo que não era seu e que só agora tem a possibilidade de se mostrar como gestor. Todos os dois nomes são excelentes, mas discuto o momento. Recentemente vi Rubens Otoni dizer que prefere que o irmão termine o mandato, assim como ouvi pessoas dizendo que esse é o momento para que ele salte, pois, se ficar fora, sua situação já não seria favorável, uma vez que ficaria dois anos sem mandato. Discordo dessa visão, pois, se tudo der certo, ele ficará perpetuado na cabeça das pessoas.
 
Euler de França Belém — Entre Iris Rezende e Júnior Friboi, quem é o candidato mais resistente?
Do ponto de vista eleitoral, Iris Rezende. Sem dúvidas.
 
Elder Dias — Há algum ponto de vista em que Júnior Friboi agregue mais que Iris Rezende?
Vejo o Júnior Friboi como uma pessoa bem intencionada. Ele é atual, moderno e um empresário de sucesso. Porém, politicamente ele ainda tem pouco tempo de estrada, embora tenha mostrado que tem muita disposição de fazer política. Sei das oposições que existem a ele, mas nunca o vi na administração pública. Talvez, ele seja o novo.
 
Elder Dias — Se Antônio Gomide deixar de ser o candidato, o PT não perderia a oportunidade de mostrar esse “novo”?
Entendo que quem é bom e competente tem várias oportunidades e não perde espaço na política. Quem é bom e preparado resolve o problema sempre que chamado.
 
Elder Dias — Marconi Perillo é um candidato mais temido hoje ou a aliança acha que seu desgaste político não se reverterá e que esse é o momento certo para assumir o governo?
Acredito que o governo de Marconi Perillo se esgotou. Qual foi a novidade trazida nessa última gestão? Na verdade, é uma gestão que está terceirizando tudo. Recen­temente, ele desafiou o prefeito Paulo Garcia na questão da saúde, ao que recebeu a resposta: “eu te levo na maternidade Dona Iris e na UPA [Jardim Itaipu].” O que será apresentado por ele? As OSs [organizações sociais] não são criação dele. A saúde na mão dele não deu certo. Segurança pública não existe. O que está sendo feito na área de infraestrutura qualquer um poderia fazer. Se eu fosse o prefeito, o de­safiaria a mostrar o que está fazendo com as finanças do Estado. Ele está comprometendo qualquer possibilidade de um gestor futuro fazer algum investimento, porque estão no limite de empréstimos que o Estado pode fazer. Assim, a atual gestão está se desgastando. Acho que ele foi um bom governador, pois inovou em seu primeiro governo. Porém, já deixou o governo Alcides Rodrigues em dificuldades. Depois voltou para assumir e agora está fazendo a mesma coisa. O futuro governador irá pagar a conta por esse governo. O tempo do PSDB passou, pois não consegue mais se renovar. Todas as ações realizadas são com dinheiro federal. Outro exemplo: a Celg está quebrada.
 
Elder Dias — Falando em tempo de governo, o PT completa no ano que vem 12 anos de gestão federal. Também não está chegando ao limite?
Acho e vejo isso nas ruas. A diferença com os outros partidos é que o PT é o mais consolidado do País. Pesquisa constatou que o PT tem 21% de simpatia no Brasil. O PT consegue se refazer, é um partido orgânico, com militância que cobra. As tendências internas fazem com que o PT se reconstrua a cada dia. O mensalão para nós foi um tapa muito forte e todos achavam que o PT ia acabar ali, mas o PT se refez, voltou para as ruas e ganhou as eleições. Agora, se o PT não se refizer nas políticas públicas e sociais, terá dificuldade para se manter no poder. O tempo vai esgarçando mesmo. Nas pesquisas Lula ganharia no primeiro turno, mas seria uma repetição. Lula é novo? Dilma é o novo, pode ser que seja técnica, mas é o novo. O Had­dad foi o novo em São Paulo. A­gora Lula lançou o ministro Ale­xandre Padilha para o governo em São Paulo, então o PT se refaz, por­que sua estrutura interna o diferencia dos outros. Veja a briga in­terna do PSDB para fazer uma prévia para saber se é o Aécio ou Serra ou outro, está rachando o partido. 
 
Elder Dias — O PT é o que tem mais fãs, mas também com mais antifãs. É o Flamengo da política?
É, é o Vila Nova de Goiás. Fui a Brasília ver, na casa de um amigo, aquele jogo do Brasil em que Dilma foi vaiada. Vi as pessoas ao lado felizes com a vaia. Existe na classe média um movimento muito forte de oposição ao PT. A classe alta já melhorou.
 
Cezar Santos — Mas é injusto esse sentimento, já que o PT alardeava a imagem da ética e ao tomar o poder caiu na vala comum de irregularidades, negócios mal explicados, foi para o outro lado do que alardeava?
Mas não é o partido como um todo. E o PT está pagando pelo erro que cometeu. Se está falando de outro lado, essa classe média que foi para a rua, quando Alphaville vai pra rua é de assustar, de perguntar o que está acontecendo. Mas não tem só santos, se existe corrupto existe um corruptor? Sem ter muita profundidade intelectual para discutir, vejo que a classe média não se coloca, o que vem desde lá de trás na política. A classe média não é pobre e não admite que é pobre, e quer viver igual rica mas sabe que não é rica. Então ela fica sempre no meio, fazendo um movimento que precisa ser entendido. Mas vejo, ao longo do tempo que faço política, que na hora do vamos ver a classe média está ficando do nosso lado. Nas manifestações não vi trabalhador. Na última pesquisa Dilma voltou a crescer e cresceu na base social, com os trabalhadores. Fala-se na nova classe média, que para mim é motivo de estudo e de atenção, porque esse cidadão vota no PT? 
 
Cezar Santos — O sr. é economista, tem entendimento, como chamar de classe média quem foi elevado a essa condição por ter renda familiar de R$ 1,2 mil, de acordo com critérios totalmente artificiais que o governo engendrou para isso? Família que ganha R$ 1,2 mil não é classe média, isso é uma falácia. 
Concordo, essa nova classe média pra mim não é classe média porque não atingiu um patamar sustentável. Mas voltando para a política, será que essa classe média entende que esse crescimento do ponto de vista econômico e social que ela teve, o que é inegável, se deve a uma política de governo, que foi feita? E não é só o PT que fez. O PT hoje tem de se renovar, se refazer. Se não fizer isso, corre o risco também de esgarçamento no poder. Pode­remos ter problema na eleição do ano que vem se não renovarmos no discurso e na prática. 
 
Euler de França Belém — Contam que o sr. foi um bom jogador de futebol. Por que então trocou o futebol pela política?
Naquela época, eu morava na Vila Nova, onde havia muitos campos de futebol. E eu fui estudar no Colégio Ateneu Dom Bosco. Lá tinha o famoso time do professor “Sandim”. Meu irmão mais velho, chamado “Gigante”, que era muito bom de bola e um dia fui ao treino. O professor, então, disse para que eu tentasse jogar também. Deu certo. Passado um tempo o Márcio Fleury me levou para jogar no Goiás, mas não eu não me adaptei. Depois disso, voltei para o Ateneu, joguei no futebol amador e, durante a universidade, fui jogador de futebol de salão. Quando o Bill foi para o Los Angeles Astecas, eu também ia, mas conheci minha esposa, além de que estava na universidade. Assim, meu pai entrou na história e me tirou do mundo do futebol.