Greve da UEG chega a 25 dias sem acordo
Movimento grevista apresenta relatório que mostra diferença gritante de salários, unidades sucateadas e falta de biblioteca
Uma greve que soma 25 dias e abrange 70% do número total de alunos insiste em mostrar as fragilidades da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Com 42 unidades pelo Estado, 14 já aderiram à greve e o número não para de crescer. Entre as reclamações constantes: unidades sucateadas, bibliotecas ultrapassadas, baixos salários, falta de professores. Problemas que se resumem em dois tópicos principais: ausência de políticas estudantis e falta de respeito a servidores e estudantes.
As manifestações começaram ainda no final de 2012 e seguiram até o final de abril, ainda de forma esporádica. Desde o dia 25 de abril, entretanto, a greve foi decretada e o Movimenta UEG, movimento grevista, conseguiu adesão de 14 unidades: Goiás, Santa Helena, Quirinópolis, Itumbiara, Formosa, Ipameri, Itaberaí, Uruaçu, Minaçu, Porangatu, Itapuranga, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas (Unucet), Unidade Universitária de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas (UNUCSEH) e a Eseffego, de Goiânia.
Ontem, o reitor da universidade, Haroldo Reimer, se reuniu com representantes do movimento grevista e também com o secretário de Ciência e Tecnologia, Mauro Faiad, no intuito de chegar a um acordo. A solução ainda não foi decidida, mas, segundo o reitor, caminhou bem e “algumas questões ainda dependem de um cronograma para serem acertadas”. “O movimento tomou a decisão de que queria dialogar com o governo e não com a reitoria. Ignorar a reitoria não favorece a universidade. O governo recebeu a pauta e vários pontos existentes no documento já haviam sido repassados por mim no ano passado”, completou Reimer.
Josilene Silva Campos, professora de história, é efetiva da UEG há dois anos, mas está na universidade há 14, desde que foi aprovada no vestibular. Indignada, ela afirma que os problemas enfrentados na atualidade são os mesmos da sua época de estudante, mas acredita que é possível transformar a realidade da universidade. Ontem, ela encaminhou três documentos relatando os problemas de algumas unidades unidos a fotografias que exemplificam alguns dos problemas estruturais.
Terreno impróprio
Em Goiás, segundo a professora, o problema começa no terreno, que não possuiria documentação para funcionar no local ocupado. Desta forma, ela afirma que a universidade já teria recebido, inclusive, verba para construção de um museu, que não foi concluída porque a falta de documentação impediu a ampliação. Esta não é a única dificuldade: o Núcleo de Arqueologia Narq/UEG, que abriga importante acervo arqueológico dos séculos 18 e 19, não possui ainda sede própria, apesar de possuir 12 anos de existência.
Atualmente, o núcleo funciona em imóvel locado e o proprietário já solicitou a devolução, mas outro local ainda não foi solicitado pelo Estado. “A universidade é responsável pelo acervo de arqueológico de uma cidade que é patrimônio histórico da humanidade e tem sido omissa em relação ao patrimônio da União”, afirma a professora. Ela afirma que Itaberaí também não possui prédio próprio e o que hoje é utilizado pertence à prefeitura. O problema é que o prefeito teria solicitado a devolução do espaço.
O reitor confirmou a informação e disse que a escritura do prédio não está no nome da UEG. Por esse motivo, há o impedimento da ampliação. Sobre o Núcleo de Arqueologia, ele diz que não existe problema em pagar o aluguel, mas que formalmente o núcleo nem existe. “A falta de formalização da unidade é um problema”, diz.
Fiação elétrica antiga
Na Cidade de Goiás, as salas de aula foram projetadas para abrigar ar-condicionado e, por esse motivo, possuem poucas janelas. Apesar disso, há dois anos os aparelhos que foram comprados estão inutilizados porque o sistema elétrico da unidade não suporta, correndo o risco de incêndios e apagões. “Na unidade, o Centro de Documentação e Pesquisa não pode funcionar devido a falta de condições climáticas, documentos e acervos importantes estão sendo perdidos e deteriorados pela proliferação de fungos resultado do intenso calor e da umidade”, completa Josilene Silva Campos. Em Itapuranga, a situação não é muito diferente, a rede elétrica também não suporta os aparelhos.
“Assumi a reitoria em 2012 e solicitei subestações elétricas. Licitamos em 23 ou 24 unidades e os contratos foram assinados. Falta agora apenas a autorização da Celg para conclusão do trabalho. Sabemos, entretanto, que vamos enfrentar um novo problema, que é o da fiação antiga. Também não é possível resolver tantos problemas antigos em pouco tempo de gestão”, afirma o reitor.
Má remuneração
A professora integrante do Movimenta UEG afirma que, na universidade, 60% dos professores atuam de forma temporária e recebem apenas 25% dos que se encontram no quadro efetivo, desempenhando a mesma função. Segundo documentos encaminhados ao O HOJE, enquanto um mestre com carga horária de 8 horas por dia ganha líquido R$ 4,2 mil, um professor do quadro temporário, com a mesma quantidade de horas prestadas, ganha R$ 600.
“Hoje, faltam professores de arquitetura, por exemplo. Há seis meses também não temos curso de libras ou espanhol porque não temos professores interessados em participar do quadro de temporários da UEG”, lamenta. O movimento grevista informa que, no caso de funcionários técnicos, esta situação é ainda pior, pois 95% dos funcionários administrativos atuam por contratos temporários. “Alguns recebem cerca de R$ 400 e não possuem direitos trabalhistas. Isto fere a ConstituiçãoFederal”, diz Josilene.
Estrutura precária e biblioteca defasada
Em Itapuranga, a estrutura física do prédio da UEG necessita de reparos e de uma reengenharia urgente. Nos sanitários, fotos mostram mictórios inexistentes, torneiras emperradas e falta de materiais de higiene. No pavimento superior, os parapeitos estão frouxos.
Apesar de várias escolas fazerem uso de quadros brancos, a universidade ainda usa quadros-negros e giz, mas em situação de quase desuso. No local, apenas um datashow e dois DVDs são disputados por diversos professores em agendamento acirrado. Um epsaço para construção de um auditório foi disponibilizado, mas está em fase de reforma há três anos.
Alunos e professores também relatam um acervo reduzido e ultrapassado da biblioteca em Itapuranga. Haroldo Reimer afirma que, quando assumiu como reitor da UEG, solicitou a verba de R$ 3 milhões na compra de livros. Após um ano, a reitoria está entregando R$ 850 mil em livros que foram adquiridos. “Das 42 unidades, 11 não solicitaram livro algum. Dos 8.300 títulos solicitados, 5.100 não existem mais no mercado e não puderam ser comprados”, finaliza.
Apesar de algumas unidades da universidade possuírem cursos integrais e serem distantes da cidade, não possuem cantinas ou restaurantes. Este é o caso, por exemplo, do Campus de Goiás e Porangatu. O reitor garante que ocorrem problemas pontuais, como em Anápolis. Lá, ele afirma que fez licitação e assinou contratos. Assim, a situação deve ser normalizada em 15 dias. Em outras unidades, ele diz que a solicitação depende da diretoria da unidade.
Fonte: Jornal O Hoje