Desafios de Marconi rumo à reeleição
Embora seja gabaritado politicamente para a disputa, governador enfrenta crises pontuais.
Os aliados políticos mais próximos garantem: o governador Marconi Perillo (PSDB) vai ser o candidato da base governista ao Palácio das Esmeraldas, no ano que vem. Em seu terceiro mandato, o chefe do Executivo estadual, no entanto, limita-se às tarefas administrativas, pelo menos oficialmente, e foge de declarações públicas sobre temas relacionados à disputa, que já movimenta os bastidores da política em Goiás. Apesar de ser apontado como candidato natural, o tucano não assume encarar novamente as urnas em 2014, mas não faz questão de negar a possibilidade. Seu partido, embora não admita plano B, já estaria analisando uma segunda opção, sinal de que Marconi pode não topar o embate.
Mesmo que esteja gabaritado politicamente, Marconi tem enfrentado crises pontuais que podem colocar em xeque o projeto de reeleição, considerado certo após sua vitória, em 2010. Além de escândalos políticos e dos desgastes naturais de um terceiro mandato, que, inevitavelmente, afetam a opinião pública, Marconi ainda precisa transpor desafios administrativos. A um ano e meio do próximo pleito, ele ainda não concretizou importantes projetos do plano de governo. Ao que parece, o tempo gasto para superar as dificuldades financeiras deixadas pela gestão anterior e os respingos na imagem de homem público interferiram na estratégia pensada para sustentar uma recondução ao poder.
Alguns percalços eram previsíveis. Após dois mandatos considerados satisfatórios e atuação marcante no Senado, ainda que interrompida pela metade, Marconi encontrou um terceiro mandato, no mínimo, conturbado. As dívidas deixadas pelo governo anterior impossibilitaram grandes realizações imediatas e o primeiro ano passou sem as marcas explícitas de uma grande gestão. Por mais que existam, as benfeitorias do momento ficaram restritas a um plano administrativo, sem percepção clara para a maioria do eleitorado, e, portanto, incapazes de provocar reflexos positivos nas urnas. Diante da possibilidade de, enfim, atrair os holofotes para aquele que seria considerado o ano das realizações, Marconi encontrou pela frente outro desafio, talvez o maior dessa gestão.
Caso Cachoeira
O caso Cachoeira, embora ainda sob investigação, expôs a fragilidade da imagem de um governante diante da opinião pública. Apesar do esforço dos aliados, do partido e do próprio governador, para desvincular a figura de Marconi da do escândalo originado pela operação realizada pela Polícia Federal, o caso Cachoeira tornou-se arma nas mãos dos adversários e, não há dúvidas, será usado como munição nas eleições do ano que vem. Desde então, a candidatura do tucano em 2014 foi colocada em dúvida. O caso é encarado, diante do público, como página virada, mas fez estragos e ainda deve render calorosos debates.
Aliados próximos ainda acreditam naquilo que chamam de inquestionável poder de superação. “Já foi provado que não há ligação entre Marconi e Cachoeira”, repetem os mais chegados. De fato, o governador não se furtou das explicações e tentou passar uma borracha no assunto, que, ainda assim, permanece impresso na página de seu terceiro governo. O desafio maior, no entanto, é restaurar a confiança do eleitor, maculada pela chuva de denúncias e sucessivas abordagens sobre o tema. Com o episódio quase superado, Marconi se vê agora, já na segunda metade do mandato, diante de um novo problema, o suposto caso de espionagem praticado pelo seu governo. O resgate do prestígio junto à população goiana voltou algumas casas no tabuleiro.
Em silêncio, Marconi programa uma sequência de obras e atividades de cunho popular a fim de resgatar a proximidade com a população do Estado. Por outro lado, investe no relacionamento prestativo com prefeitos do interior, busca alianças. Sobre o escândalo dos grampos não disse uma palavra, mas não tem medido esforços para levar adiante as promessas de campanha que ainda não saíram do papel. O Governo Itinerante, retomado mês passado, é uma clara tentativa de reaproximação com o público, que se soma a uma agenda positiva e à divulgação massiva de números de desenvolvimento, reais. O desafio é fazer com que a parte mais carente do povo, que detém o maior número de votos, absorva os aspectos positivos da administração e não os escândalos ou gargalos explorados na mídia de massa.
A seu favor, Marconi conta com a inquestionável experiência que o elevou ao posto de líder no ninho tucano. A fim de tornar real o mote de campanha “o melhor governo da vida dos goianos”, há muito já não citado em solenidades, não mede esforços, a ponto de contratar financiamentos junto ao governo federal, a custas de rasgados e frequentes elogios a Dilma Rousseff (PT), representante máxima do poder e do partido historicamente opositor ao PSDB. Soma-se a isso o trabalho desengonçado de uma oposição desarticulada no Estado. É consenso entre observadores políticos que, da forma como estão, as rusgas entre os adversários políticos do tucano só favorecerão sua escalada, ainda sorrateira, rumo à permanência na Casa Verde.
Fonte: Jornal O Hoje