Goiânia Poluição visual: Identidade perdida
Patrimônio arquitetônico goianiense permanece descaracterizado pelas fachadas de lojas e ação de pichadores.
Em 2013, Goiânia comemora seu aniversário de 80 anos. Considerada uma das capitais mais jovens do País, ela tem crescido de modo substancial nas últimas décadas na área social e também nos índices de violência e insegurança. Desde sua fundação, datada no final da década de 1930, a cidade traz em seus traços arquitetônicos influências da Escola Paulista, Escola Carioca e de experiências urbanas europeias adaptadas de modo original e criativo às condições locais. Esses elementos formavam a identidade visual da cidade.
Basta um olhar mais apurado pelas ruas dos bairros pioneiros, como os setores Sul, Universitário, Oeste e Central, além de outras localidades espalhadas nas 24 regiões da capital, para identificar o extenso acervo de arquitetura moderna de Goiânia. Sua identidade urbanística é composta por prédios públicos, privados, residências, museus, clubes, igrejas, cemitérios, praças e parques criados sob a influência dos elementos da arquitetura art déco, clássica, eclética, neoclássica, gótica, enxaimel e até modernista.
Mas essa memória tem sido ameaçada por diversos fatores externos e internos inerentes à vida moderna. Destaque para a ação de pichadores, que demarcam territórios nas ruas da capital, a especulação imobiliária, que tem verticalizado a cidade com prédios e tem demolido casarões antigos para utilizar os terrenos, e também pela degradação estética e física das fachadas publicitárias instaladas ao bel prazer de comerciantes que disputam espaço e a atenção das pessoas nas ruas da capital.
Poluição visual
O artigo 154-A inserido na Lei Complementar 014 de 29 de dezembro de 1992, devido uma emenda proposta pelo vereador Elias Vaz (Psol), entre outras medidas relacionadas às instalações de peças publicitárias pela cidade, proíbe o uso de propagandas em locais de valor histórico, cultural, paisagístico, artístico e ambiental, principalmente em alguns lugares do Setor Central. Porém, a lei ainda não contempla a limitação do tamanho das placas publicitárias utilizadas em fachadas, que hoje são instaladas com medidas variadas em comércios que funcionam em prédios históricos.
Mas, apesar dos problemas visíveis no centro da capital, ainda podemos encontrar bons exemplos de comerciantes que respeitam a identidade cultural da cidade, como a Farmácia Artesanal, da Rua 4, no Centro. O prédio construído em 1945 foi revitalizado e possui uma fachada discreta e harmônica. “Fizemos um levantamento histórico e fotográfico para identificar os elementos art déco do prédio. Depois revitalizamos toda estrutura com elementos característicos da época da fundação do imóvel”, pontuou o presidente do grupo Artesanal, Evandro Tokarski.
O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU/GO), John Mivaldo da Silveira, reforça a necessidade de preservarmos o patrimônio histórico arquitetônico de Goiânia para manter viva a memória de nossos antepassados. “O poder público deve dar o exemplo na preservação deste patrimônio e criar meios de conscientizar a comunidade como um todo para a importância dessa prática. Hoje, o centro histórico de Goiânia se encontra abandonado pelas políticas públicas e pela sociedade goianiense”, pontua.
Enquanto isso, órgãos de fiscalização como a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) tem operado, com limitações da lei, que impede uma ação mais rigorosa principalmente no que se refere aos cuidados com os prédios históricos. Na Câmara Municipal, um novo projeto do vereador Elias Vaz (Psol), que disciplina o uso de fachadas no comércio em Goiânia, aguarda última votação dos parlamentares. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Goiás, também tem lutado em prol de políticas que mudem esse quadro na capital e em diversas cidades do interior do Estado.
Fonte: Jornal O Hoje