Vereadores denunciam superlotação do Hugo
Secretário estadual de Saúde rebate acusações ao dizer que município não cumpre sua função de gestor da saúde em Goiânia.
Imagens filmadas nos corredores do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) por vereadores mostram a superlotação e falta de estrutura para atender todos os internos na unidade. Pacientes em macas sem aparadores de soro, outros que não sabem quando farão cirurgia, foram ouvidos pelos membros da Câmara. O grupo pretende elaborar um dossiê e denunciar o atendimento do Hugo ao Ministério Público de Goiás (MP-GO).
Pacientes com fraturas falaram na gravação que estão sem condições de atendimento, que faltam médicos, objetos são roubados nos guarda-volumes e quem não é acompanhado por parentes ou amigos fica praticamente abandonado no Hugo. Uma das pessoas disse que o hospital foi “maquiado” para a visita do governador Marconi Perillo (PSDB), realizada na quarta-feira (20). O secretário estadual de Saúde, Antônio Faleiros, contestou a informação em entrevista à TV Anhanguera. “Você pode observar ali, se você quiser filmar, que nós temos mais de 30 câmeras no Hugo e o vereador viu todos esses pacientes da maneira como eles estão lá. É preferível eles estarem ali, mesmo que mal acomodados, do que irem para a rua ou para um hospital que não tem condição de atender um grande trauma.”
Para o vereador Felisberto Tavares (PT), o cidadão de Goiânia não pode ser tratado em um sistema de “tortura” como o do Hugo. “Um horror, um desrespeito total às pessoas que ali estão em busca de atendimento”, denunciou o parlamentar. Em resposta, o diretor do Hugo, Ciro Ricardo de Castro, declarou que “está havendo uma inversão total das responsabilidades”. “É o município de Goiânia que encaminha de maneira indiscriminada e irresponsável todos os pacientes para o Hugo para que a gente resolva o problema.”
De acordo com Ciro Ricardo, o hospital é regulado pelo município de Goiânia, já que a Prefeitura seria responsável pela gestão da saúde pública na capital. “O perfil do Hugo, a população tem que entender isso, é atender o grande trauma, que é atendido de imediato. Estamos fazendo em torno de 40, 50 cirurgias todos os dias”, respondeu o diretor.
Enquanto os vereadores estiveram no Hugo, o grupo ouviu reclamações dos pacientes que aguardam atendimento nos corredores. Tavares considerou a situação um “descalabro” com a população. Para o diretor do Hugo, a superlotação não é novidade para ninguém. “Uma parte a gente tem que atender e tem atendido de maneira eficiente. O problema é que o fluxo de demanda é bem maior do que a nossa capacidade”, disse Ciro Ricardo.
“Todos esses que reclamaram, eu não posso tirar a razão de ser desses que reclamaram.” Ao dizer isso à TV Anhanguera, o diretor do Hugo pediu que os mesmos vereadores que estiveram no Hugo visitem aos outras unidades de saúde pública, aquelas de socorro básico, como os Centros de Apoio Integral à Saúde (Cais) “para saber que todos estão quase que totalmente inoperantes”.
“Eu é que vou cobrar do MP”, diz Faleiros
Sobre o anúncio de que um dossiê será elaborado para denunciar a situação do Hugo ao Ministério Público, o secretário estadual de Saúde atacou a atitude. “Quero salientar também que tem um Termo de Ajustamento de Conduta, e eles falaram lá em encaminhar para o Ministério Público. Eu é que vou pedir para cobrar do Ministério Público para que cumpra esse Termo de Ajustamento de Conduta, de 2010.” Segundo o documento, devem ser encaminhados para o Hugo pacientes com o perfil de atendimento de competência da unidade e para os centros de saúde básica, como os Cais, pessoas que precisam de atendimentos considerados mais simples.
Tanto Faleiros quanto Ciro Ricardo afirmaram que a Organização Social responsável pela gestão do Hugo, Instituto de Gestão em Saúde (Gerir), tem atuado de forma eficiente e teria melhorado o funcionamento do hospital “da água para o vinho”. Segundo o diretor do Hugo, o perfil de atendimento da unidade seria de receber somente casos de traumatismos crânioencefálicos, fraturas expostas e pacientes com risco “iminente” de morte. Os demais deveriam ser atendidos pelos Cais.
Para o Estado e o diretor do Hugo, receber os pacientes, mesmo que não seja prioridade do perfil de atendimento do hospital, é um “preceito constitucional”. “Nós temos que atender”, disse Ciro Ricardo. Segundo o vereador Felisberto Tavares, as denúncias continuarão a ser feitas. “Nós não podemos nos calar neste momento”, afirmou Tavares.
Fonte: Jornal O Hoje