Huapa sofre com estrutura
Pacientes reclamam de demora no atendimento em casos de cirurgia e funcionário denuncia precariedades
Funcionários contratados sem carteira assinada, equipes médicas incompletas, falta de material reagente para identificar tipo sanguíneo, demora nos procedimentos cirúrgicos e aparelho de endoscopia que ficou sem funcionar entre o início de setembro e 19 de novembro. A realidade do Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa) é descrita por funcionários e pacientes como “terrível”.
Ontem, a reportagem do POPULAR tentou visitar o local para conversar com as pessoas que estavam aguardando por atendimento na recepção, mas foi impedida de entrar, não podendo passar sequer da guarita. A alegação da direção da unidade, sob responsabilidade da organização social Instituto de Gestão e Humanização (IGH) desde julho deste ano, foi a de que a visita só seria possível desde que acompanhada do diretor geral.
Do lado de fora, as pessoas que saíam do hospital expressaram alguns descontentamentos. Já era fim de tarde e o filho de 19 anos do eletricista Lindomar Patrício da Sílva tinha dado entrada no Huapa às 13 horas. O jovem passou o fim de semana sofrendo de apendicite e, ontem pela manhã, ele foi encaminhado do Cais do Setor Garavelo para o Hospital, onde deveria passar por uma cirurgia imediata. O procedimento foi feito, mas só aconteceu depois de longa espera. A família foi informada, ao chegar, de que o médico estava operando outro paciente e que restava ao rapaz aguardar na enfermaria.
Uma pessoa que trabalha na unidade conta que, assim que o IGH assumiu a administração do Huapa, os servidores da prefeitura de Aparecida que estavam à disposição do hospital foram devolvidos e parte dos que possuíam vínculo com o Estado por meio de aprovação em concurso pediram transferência para outro local. Hoje, segundo a denúncia, mesmo com os funcionários da organização social, ainda existem equipes incompletas, o que estaria prejudicando o atendimento.
Em resposta á reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) e o IGH defenderam que não existe equipe médica incompleta. Ao todo, seriam 121 médicos, número considerado suficiente para atender toda a demanda do hospital. Dentre eles, 30 são clínicos, 22 cirurgiões, 10 intensivistas, 25 ortopedistas, 15 bucomaxilos e oito pareceristas. Apesar dessa quantidade, no entanto, é corriqueiro encontrar exemplos de pacientes com problemas ortopédicos que não conseguem atendimento imediato.
Ontem à tarde, a separadora de indústria alimentícia Carina Januário, 27, levou o filho Levi Gabriel, de 6 anos, para trocar o gesso do braço porque estava apertado e ele reclamando de dor. Curiosamente, o gesso foi colocado pelos médicos do Huapa na quinta-feira (21), mas ontem ela teve que voltar para casa sem ter o problema solucionado. Enquanto a reportagem estava do lado de fora do hospital conversando com os pacientes, um servidor saiu e relatou, sem se identificar, que casos assim são comuns.
Em setembro, o aparelho de endoscopia estragou e só voltou a funcionar na semana passada. Outro obstáculo enfrentado está sendo a falta de substância reagente para identificar tipos sanguíneos. Conforme a denúncia, como as bolsas de sangue não estão tipadas, algumas cirurgias acabam sendo prejudicadas. Na resposta, o IGH explica que o contrato com o Hemocentro foi cancelado e que a empresa fabricante não está conseguindo fornecer a quantidade de reagente solicitada.
Na semana passada, o POPULAR mostrou a situação do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), cuja superlotação estaria sendo ocasionada pelo encaminhamento indevido de pacientes. Ontem, o diretor de Regulação, Avaliação e Controle da Prefeitura de Goiânia, Cláudio Tavares, acrescentou que outro agravante ao Hugo é o fato de o Huapa não realizar cirurgias ortopédicas. Parte da demanda da unidade de Aparecida estaria sendo encaminhada para a capital e contribuindo para a lotação.
Huana e Hurso: opções para desafogar Hugo
Representantes das secretarias municipal e estadual de Saúde e do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) se reuniram, ontem à tarde, no Ministério Público de Goiás (MP-GO) para discutirem uma solução para o hospital. Dentre as medidas sugeridas, consta a de maior comunicação entre a direção da unidade e a Diretoria de Regulação do município para evitar o encaminhamento indevido de pacientes. A ideia é que o Hugo passe a enviar relatórios frequentes sobre quais casos devem e não ser direcionados.
Além disso, a promotoria do Centro de Apoio Operacional (CAO) da Saúde sugeriu também que os hospitais de Urgências de Anápolis (Huana) e de Urgências da Região Sudoeste (Hurso) sejam as primeiras opções para os pacientes de municípios que ficam próximo, afim de evitar que eles sejam trazidos para Goiânia.
O Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin) também foi citado, mas ele está em processo de transição, com a abertura da seleção da organização social (OS) que vai administrá-lo. O Estado abriu o procedimento na quarta-feira (20) e a intenção é que o contrato siga as mesmas regras do Hugo e do Huapa.
Fonte: Jornal O Popular