Serial killer: Boatos mudam hábitos na capital
Com receio, mulheres alteram condutas e motociclistas atendem prontamente as ordens de policiais
Os boatos sobre a atuação de um assassino em série (serial killer) em Goiânia têm causado medo em mulheres e em homens que têm motocicletas pretas, semelhantes à descrita nas mensagens como a usada pelo criminoso. A reportagem saiu às ruas ontem e constatou que muitas jovens, aterrorizadas com a possibilidade de serem vítimas do maníaco, passaram a adotar condutas diferentes com o intuito de se protegerem. Já os motociclistas afirmam que têm procurado atender prontamente as ordens policiais, com receio de serem confundidos com os acusados.
Os boatos sobre a existência de um serial killer na capital espalharam-se com intensidade na semana passada, por meio de mensagens transmitidas pelo do aplicativo Whatsapp. Nesta mensagem, uma voz feminina relata que foi alertada por uma delegada para a ação de um homem que estaria atacando mulheres jovens, principalmente nos Setores Jardim América, Sudoeste e Nova Suíça.
A mensagem vincula as mortes de mulheres ocorridas nos últimos meses em Goiânia à atuação do assassino. Tão logo o boato espalhou-se, o delegado Murilo Polati, titular da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH), o desmentiu. Em entrevista ao POPULAR, o delegado afirmou que não há nenhuma relação entre os assassinatos contra mulheres e que não existe nenhuma evidência de ação de serial killer em Goiânia.
CONSTRANGIMENTO
Apesar de as autoridades policiais procurarem tranquilizar a população, muitas pessoas andam amedrontadas pelas ruas. A manicure Ivone Rodrigues, de 42 anos, confessa que tem retornado para casa mais cedo para prevenir a ocorrência de crimes. Ela trabalha no Setor Bueno e mora no Jardim Planalto e, todos os dias, vai e volta de ônibus. A mesma sensação de insegurança é vivida pela publicitária Fabiana Alcântara Pereira, de 22. Ela conta que recebeu as mensagens pelo celular, enviadas por amigas. Com medo, pede que o pai a busque com frequência nas imediações do ponto de ônibus.
Para o motorista Márcio Silva Pereira, os comentários sobre o bandido da moto preta causam muito mais que temor. Ele acentua que está se sentindo constrangido ao sair pelas ruas pilotando a moto CG 125 Fan. “O pior é que o meu capacete também é preto”, sublinha. Márcio Pereira relata que não teme uma possível abordagem policial porque “não tem nada a esconder.” Ele usa a moto para o trabalho e atividades pessoais.
Abordado, homem fica calmo
Na noite de segunda-feira aconteceu o que o motofretista Nivaldo Gomes, de 31 anos, temia. Ele pilotava a moto Titan preta, por uma das ruas de Campinas, quando foi abordado por uma equipe da Polícia Militar.
Os policiais militares, conforme disse, determinaram que ele descesse da moto e colocasse a mão na cabeça. Depois, revistaram ele e o baú no qual coloca as mercadorias que entrega, entre as quais galões de água mineral.
O motofretista destaca que tem mais receio de uma avaliação equivocada por parte da polícia do que da população. Apesar disso, acentua que parou tranquilamente ao ser interpelado. “Quem não deve não teme”, observa. Ele diz que não pensa em trocar a moto nem o capacete preto em função dos boatos.
Policial recomenda cuidados
Independentemente ou não da atuação de um assassino em série (serial killer) em Goiânia, as pessoas de maneira geral devem adotar cuidados preventivos para não serem vítimas de crimes. O alerta é dado pelo comandante do Batalhão Escolar da Polícia Militar, tenente-coronel Evenir da Silva Franco Júnior. Ele informa que os militares sempre orientam os estudantes matriculados no turno noturno a não permanecerem parados por longos períodos na porta da escola e, depois, se dispersarem e irem sozinhos para casa.
“Aconselhamos esses jovens a ir para casa de carona, em transportes alternativos ou com os pais”, sublinha. O tenente-coronel Evenir Franco destaca que as equipes do Batalhão Escolar há muito tempo abordam os condutores de motocicletas que trafegam nas proximidades das escolas. O procedimento, conforme diz, existia antes de o boato ter se espalhado por Goiânia.
Além de não sair à noite, a dona de casa Maria de Fátima Alcântara Pereira procura não carregar o celular. “Estou apavorada. A polícia deveria tomar providências e prender a pessoa que está cometendo estas atrocidades”, enfatiza. Ela mora no Conjunto Santa Fé, em Aparecida de Goiânia, e desloca-se com frequência para o Jardim América, em Goiânia, para resolver algumas questões pessoais.
Fonte: Jornal O Popular