Agronegócio e renda maior atraem franquias para o Centro-Oeste
Empresários destacam conjuntura econômica favorável, carência de marcas e maior espaço para crescer na região
Em momento de desaceleração econômica, o crescimento descolado do agronegócio, aliado à renda crescente dos consumidores locais atrai franquias para o Centro-Oeste do País. Ao lado do Nordeste, a região começa a entrar no mapa de franqueadores, que buscam de forma ativa novos investidores na região.
Estas redes têm como objetivo reforçar a operação e também chegar primeiro, visando um potencial futuro nas capitais Brasília, Goiânia, Campo Grande e Cuiabá. E também estão de olho em cidades menores como Aparecida de Goiânia (GO), Anápolis (GO), Várzea Grande (MT) e Dourados (MS).
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Inaugurações de shoppings nas cidades também estimulam novos negócios. Segundo dados da Associação Brasileira de Shoppings (Abrasce), sete empreendimentos serão inaugurados na região até o ano que vem, tanto nas capitais como em cidades menores, entre elas Várzea Grande (MT), Três Lagoas (MS) e Rio Verde (GO).
Mão de obra e pontos comerciais não tão caros como em regiões tradicionais, espaço para crescer e ambiente menos competitivo que o visto nas grandes metrópoles do País ajudam na tomada de decisão em montar uma franquia na região. "Esse cenário acaba sendo uma porta de entrada para pequenas redes, quase uma condição para que elas cresçam", diz Rogério Feijó, gerente de Relacionamento da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Em um levantamento da consultoria de franquias Rizzo, 12 cidades da região estão incluídas entre os 200 melhores mercados para se abrir uma franquia este ano. Brasília aparece em 3º lugar, seguida por Goiânia, em 9º, e Campo Grande, na 17ª colocação. Cuiabá aparece no 33º lugar.
Apesar de não serem líderes, todas as capitais subiram no ranking se comparadas a 2012. Mas é no interior dos Estados onde ocorreram os maiores saltos. Aparecida de Goiânia (GO) saltou do 83º lugar, há dois anos, para a 48ª colocação. Anápolis (GO) passou da 78ª posição para 63ª. Cinco cidades aparecem pela primeira vez no ranking deste ano: Dourados (MS), Rondonópolis (MT), Rio Verde (GO), Luziânia (GO) e Valparaíso de Goiás (GO).
O levantamento compara a oferta disponível com o potencial de consumo na região, levando em conta nove segmentos de atuação: automotivo, hotelaria, educação, saúde e beleza, construção, acessórios pessoais, livrarias, alimentação e infantil.
Nova indústria proporciona resultados mais sustentáveis
O crescimento do agronegócio é considerado o maior atrativo de novos negócios na região. Como consequência, o poder de compra em cidades próximas acaba amenizando os efeitos de crises econômicas. "Isso faz com que as franquias tenham maior capacidade de manter resultados na região do que em cidades com economia baseada apenas na indústria", aponta Feijó, da ABF.
Além disso, o agronegócio vem ganhando produtividade com maiores investimentos em maquinário e tecnologia, o que melhora o nível de emprego da população local. "Não há mais uma grande desigualdade de renda, típica de áreas apenas agrícolas. Com a presença de mão de obra mais qualificada, muita gente passou a consumir mais", diz o consultor de franquias Marcos Rizzo.
O analista de mercado da consultoria especializada em varejo Nielsen, José Lourenço Fraga, aponta que, como consequência, o consumo de 150 categorias de produtos para abastecimento do lar vem crescendo acima da média do País na região desde 2010. "O varejo brasileiro teve a primeira retração em 10 anos entre 2012 e 2013, mas a região cresceu 2,2% e praticamente empatou com o Nordeste, onde houve aumento de 2,1%".
Chama atenção o potencial para um crescimento ainda maior, diz Fraga. "A região representa 7,5% dos gastos totais com produtos domésticos no País, o menor percentual registrado entre as sete áreas pesquisadas".
Há ainda melhorias logísticas na região, o que também melhora a distribuição de produtos e serviços utilizados pelas unidades locais das redes.
Setor de serviços tem potencial na região
Apesar de ainda haver espaço para a venda de produtos, como roupas, as franquias de serviços prometem se destacar no Centro-Oeste, diz Feijó, da ABF. "As cidades da região começam a ter um ritmo semelhante ao de metrópoles. Os habitantes passam a ter novos hábitos".
Entre eles, figuram mais idas a restaurantes, salões de beleza e busca por serviços de limpeza doméstica. A chegada de novas empresas atraídas pela agroindústria também impulsiona o mercado de qualificação profissional.
A região ainda carece de algumas marcas. No segmento de roupas, por exemplo, é comum encontrar lojas multimarcas. Lojas exclusivas podem ser uma opção de investimento.
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Leo Bastos, gerente de Expansão da rede Seletti, de culinária saudável, destaca como atrativos a atividade econômica e renda da região, maior do que a verificada no Nordeste. O objetivo é que o Centro-Oeste represente 8% do faturamento da rede em cinco anos.
A Griletto pretende inaugurar dez unidades na região este ano, que foi incluída no plano de expansão em 2012. "No Sudeste, temos dificuldades em conseguir pontos em shoppings. No Centro-Oeste, conseguimos atender a demanda de investidores de forma mais rápida", conta Cristiano Evers, diretor de Marketing da rede de alimentação.
Unidades da Ortodontic Center em cidades do interior dos Estados, montadas nos últimos sete anos, chegam a registrar resultados três vezes maiores do que lojas no Sudeste e Sul do País, conta o sócio fundador Fernando Massi. "Os resultados surpreenderam, as lojas se tornaram referência para a rede e passamos a buscar franqueados de forma ativa na região".
Massi também aponta que, por abrigar muitos imigrantes, a região não sofre com bairrismo de marcas locais. "Isso é importante para franquias. Além disso, a padronização de unidades é considerada mais segura pelos moradores, que não têm referências locais, principalmente na área de saúde".
A americana Coldwell Banker, do segmento imobiliário, aposta que a região deve representar 25% do faturamento da rede, que tem 23 unidades no País. "Apostamos no mercado residencial em Brasília e também em imóveis comerciais ligados ao agronegócio nos outros Estados", diz o diretor Jorge Paulo Fernandes.
Decisão de montar negócio deve ser equilibrada
O Estado de São Paulo ainda concentra 38% das franquias no País, enquanto que em Goiás esse percentual é de 2,7% e, no Distrito Federal, 2,6%, segundo dados da ABF. Nos outros Estados, o percentual nem é contabilizado.
O que por um lado pode exigir menor esforço para investir, por outro ter franquias na região demanda um tempo maior para retorno do investimento.
O Centro-Oeste também continua a ser ofuscado pelas grandes capitais do País. Apesar de ter desacelerado o ritmo, São Paulo não para de crescer.
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Mas, dependendo da região e do segmento, é possível que os resultados surpreendam, conta Feijó, da ABF. "Porém, é necessário driblar o efeito novidade, que pode tornar o local uma atração, mas fazer com que, em seis meses, o movimento caia".
É necessário ainda considerar o potencial de consumo local. "A região perde para o Nordeste em número de consumidores. A cidade de Rio Verde, em Goiás, foi considerada quase como um oásis: tem muita gente com dinheiro, mas o potencial de consumo é limitado, e muitos podem ter prejuízo", diz Rizzo.
É necessário ainda que franqueadores pesem a capacidade de apoio e suporte às cidades da região, acredita. "Há um risco de dispersão que deve ser considerado pelas redes".
Fonte: Economia IG