Empresas goianas de eventos faturam com a Copa do Mundo

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Três empresas contrataram 1,3 mil pessoas para trabalhar em oito cidades que sediam o Mundial

Embora nenhuma seleção participante da Copa do Mundo tenha escolhido cidades de Goiás como sede para a disputa do torneio, pelo menos três empresas goianas de eventos estão trabalhando diretamente no mundial e comemoram incremento no faturamento. Os valores dos contratos não foram divulgados, mas cerca de 1,3 mil pessoas foram contratadas para trabalhar direta e indiretamente.

Somente uma empresa goiana, a T&B Comunicação e Eventos, é responsável pela contratação de 900 pessoas para trabalhar em oito cidades sedes - Brasília (BSB), Fortaleza (CE), Natal (RN), Recife (PE), Cuiabá (MT), Manaus (AM) e Belo Horizonte (MG). O acordo fechado com o Comitê Organizador Local (COL) - responsável pela organização operacional da Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014 - consiste em contratar e treinar controladores de acesso (catracas), recepcionistas e ajudantes em geral (montadores, carregadores e auxiliares).

O proprietário da empresa, Bruno Nascimento, conta que representantes do comitê entraram em contato em novembro do ano passado. “Já realizamos grandes eventos como Festa a Fantasia, Caldas Country, UFC, além de amistosos da seleção brasileira”, afirma. Ele acredita que essas experiências tenham contribuído para a contratação da empresa de prestação de serviços.

Bruno afirma que não foi surpreendido pelo convite, mas sim com a quantidade de cidades que foram colocadas a disposição da empresa. Por isso, o trabalho foi iniciado imediatamente. “Em novembro já participamos de reuniões, logo conhecemos os estádios e começamos a montar as equipes”, diz.

Em função do longo espaço de tempo entre o início da formação das equipes e dia 15 de junho, quando estreou no evento, coordenando o trabalho de recursos humanos no Estádio Mané Garrincha, Bruno afirma que o maior desafio foi manter a equipe coesa. “Nesse espaço de tempo, houve uma rotatividade muito grande”, afirma.

Ele conta que desbancou muitas empresas de outros Estados e que agora visa outros grandes eventos, como as Olimpíadas 2016 e a Copa América 2019.

CLÁUSULA

Outra empresa goiana também foi convidada a trabalhar para o COL, mas uma cláusula de confidencialidade no contrato de prestação de serviços não permite divulgação das informações.
Ao contrário das demais, a empresa goiana Pazini, Som, Luz e Palco, participou de um processo licitatório para fazer parte do time de empresas que trabalham para a operacionalização da Copa do Mundo.
Apesar de ter participado do processo licitatório para coordenação de estruturas temporárias nos 12 estádios da Copa do Mundo, venceu em três cidades - Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE) e Cuiabá (MT).

Profissional é responsável pela montagem de estruturas

Segundo a analista de licitações Rejane Faria, a empresa goiana Pazini é responsável pela coordenação e acompanhamento do serviço executado em estruturas temporárias localizadas dentro e fora dos estádios. “Coordenamos as montagens de paredes, tetos, ar-condicionado, restaurantes. Tudo o que é necessário para atender representantes da Fifa e jogadores, por exemplo”, explica.

Ela conta que o contrato é fechado com o governo federal, mas a supervisão dos serviços é fiscalizada por representantes do COL. Rejane contabiliza que foram contratados cerca de 400 funcionários para trabalhar nos três estádios.

SUFOCO

O sufoco, diz a analista de licitações, começou no início do ano, quando as estruturas começaram a ser montadas. “Agora é só manutenção.”

Embora a logística seja um desafio, Rejane conta que a empresa, há 27 anos no mercado, já executou trabalhos em duas edições do Revellion de Fortaleza e esteve presente cinco vezes no carnaval de Salvador, além do Pan-Americano de 2007.

Um milhão de novos empregos, diz Embratur

A Copa do Mundo foi responsável pela geração de 1 milhão de empregos, dos quais 710 mil permanentes, segundo balanço preliminar do governo sobre os ganhos decorrentes da realização do Mundial de futebol no País.

São mais de 15% dos 4,8 milhões de vagas criadas durante todo o governo de Dilma Rousseff, informou a Secretaria de Imprensa da Presidência da República, que utilizou no cálculo os dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A estimativa foi apresentada ontem pelo presidente da Embratur, Vicente Neto, durante o painel Impacto dos Grandes Eventos na Economia Brasileira, no qual, junto com especialistas, fez um balanço prévio dos benefícios gerados pela Copa. Outro ganho, apontou ele, é a previsão de que o evento movimentará R$ 6,7 bilhões.

Neste caso, não são considerados os investimentos em infraestrutura, que, pelo discurso do governo brasileiro, seriam realizados de qualquer forma, independentemente da indicação dos organizadores dos jogos.

Apesar da divulgação de números favoráveis à Copa, a opinião de especialistas presentes ao evento é de que ainda é cedo para calcular o legado econômico do evento. Pedro Trengrouse, da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-Rio) compara os dados brasileiros aos da África do Sul, onde estudos apontam ganho de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Relativamente ao PIB brasileiro, 1% equivaleria a R$ 48,4 bilhões, muito acima dos R$ 6,7 bilhões, mas, em sua opinião, não é possível comparar resultados em países com características econômicas e culturais tão distintas, onde o futebol não mobiliza a população com a mesma intensidade. A sua expectativa é de que, no Brasil, os ganhos serão maiores do que os conseguidos na África do Sul, que sediou o último Mundial.

Já Lamartine da Costa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), destacou que todo impacto na economia é progressivo e que, por isso, não é possível mensurá-lo no curto prazo. “Apenas agora estão sendo quantificados os ganhos (da Olimpíada) em Barcelona, de 1992”, destacou.

Governo quer prolongar os ganhos

No governo, a preocupação já é em prolongar os ganhos com a Copa do Mundo e multiplicá-los no turismo daqui para frente, diz o presidente da Embratur, Vicente Neto. Passado o evento, o governo iniciará um programa de incentivo a viagens domésticas e de atração de estrangeiros ao País. Ele ressaltou a entrada de divisas com o setor em 2013, de US$ 6,7 bilhões, de acordo com dados do Banco Central.

A principal crítica dos especialistas presentes ao painel, entretanto, não focou no legado econômico do mundial de futebol, mas no modelo adotado pela Fifa e, principalmente, na relação da Federação com o governo.

“O que resta é o impacto desse evento para as relações internacionais. O COI (Comitê Olímpico Internacional) já acordou para isso. A Fifa, não sei”, disse Lamartine da Costa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

PROBLEMAS CRÔNICOS

Pedro Trengrouse, da FGV-Rio, acrescentou que a relação entre a organização do evento e o Estado deve ser alterada para que os governos consigam desenvolver suas agendas próprias e não as impostas pela Fifa. A opinião do especialista da FGV é de que o governo brasileiro deveria ter aproveitado a oportunidade para exigir a discussão de problemas crônicos do futebol brasileiro, para permitir que o esporte impulsionasse ainda mais a economia.

Ele reclamou, por exemplo, da falta de investimentos para que a população pudesse assistir aos jogos de uma forma diferente daquela como assistiu a outras Copas. “Por que não se investiu em uma experiência diferenciada para o povo brasileiro?”, questionou.

A Secretaria de Imprensa da Presidência respondeu que foi oferecido aos brasileiros um número de ingressos para assistir os jogos nos estádios maior do que o disponibilizado aos estrangeiros e também que não cabe ao governo propor alterações nas condições de trabalho da Fifa.

INVASÃO

O presidente da Embratur, Vicente Neto, foi reticente ao comentar os efeitos para o Brasil da invasão do Maracanã por torcedores chilenos, na quarta-feira, momentos antes do jogo entre o Chile e a Espanha.
Segundo ele, o Brasil está apto a realizar megaeventos, inclusive, no quesito segurança. Mas afirmou que não tem como mensurar o desgaste para o País.

Fonte: Jornal O Popular