Trânsito mata uma pessoa por dia em Goiânia
Só em janeiro, 33 pessoas morreram nas ruas da capital. Número é 43,47% superior do que o de 2013
O ano de 2014 começou violento nas ruas de Goiânia. No mês de janeiro, 33 pessoas perderam a vida por conta de acidentes dentro da cidade, número 43,47%% maior que o mesmo período do ano passado, de acordo com a Delegacia Especializada em Investigações de Crimes de Trânsito de Goiânia (Dict), quando 23 ocorrências da mesma natureza foram registradas. “É um número muito alto, com média de um acidente por dia”, constata a delegada Nilda Andrade.
A estatística de fevereiro ainda está em aberto mas os casos preocupam. Na tarde de ontem, uma idosa de 60 anos morreu atropelada por um ônibus na Rua 90, no Setor Sul. Por volta das 17h15, Maria Aparecida da Silva acabou atropelado por um ônibus ao tentar atravessar a rua. Os Bombeiros foram chamados, mas ela não resistiu aos ferimentos.
Para a delegada, se continuar dessa forma, 2014 terá mais mortes por acidentes que 2013, considerado um ano com trânsito violento, apesar de uma leve redução em comparação ao ano anterior. De 1 de janeiro a 31 de dezembro do ano passado, a Dict registrou 259 ocorrências fatais, com 274 mortos. Em 2012, houve o registro de 274 casos, mas a delegacia não tem o total de mortos.
O número de mortos em 2013, na verdade, é maior, pois alguns casos do fim do ano passado estão sendo registrados agora. “Algumas famílias só procuram a delegacia algum tempo depois, para dar entrada no DPVAT”, explica Nilda.
Anhanguera e Perimetral lideram lista
O trecho urbano da BR-153 concentra o maior número de acidentes com morte em Goiânia, com 14 ocorrências em 2013, segundo os registros da Dict. Mas, por se tratar de um rodovia federal, deixa o título de via mais perigosa da capital dividido por duas extensas avenidas: a Anhanguera e a Perimetral Norte, com 10 ocorrências cada.
Nilda Andrade afirma que, na Anhanguera ocorrem muitos atropelamentos envolvendo ônibus. “A imprudência, às vezes, é da própria vítima, que passa fora da faixa de pedestres ou não espera o veículo parar para atravessar”, diz.
Na Av. Perimetral Norte, falta estrutura mínima para os motoristas, na avaliação da delegada. “A Perimetral precisa de redutores de velocidade. Você vai atender uma ocorrência à noite e está tudo escuro, não há iluminação em alguns trechos. Também é preciso melhorar o escoamento de água. No período chuvoso, muitos acidentes ocorrem por aquaplanagem”, pontua.
A Rua 90 e Avenida Castelo Branco dividem o terceiro lugar do ranking entre as vias com maior número de ocorrência fatais, com quatro registros cada. Mas a primeira concentrou as mortes no Setor Sul, sendo dois acidentes no cruzamento com Av. 136. Um trecho muito pequeno se comparado às quatro colisões da Castelo Branco, ocorridas ao longo da avenida no Setor Oeste, Coimbra, Rodoviário e na esquina da Av. Consolação (que consta no levantamento como bairro não identificado). Também empatados, em quinto lugar no ranking, com três registros cada, aparecem a Alameda das Rosas, no Setor Oeste, e a Avenida Goiás, no Centro de Goiânia.
Chama a atenção o caso do Setor Bueno, onde nenhuma via acumula mais de dois acidentes com mortes. Mas juntas, T1, T-3, T-4, T-5, T-7, T-27, T-51, T-63 e Av. Mutirão somam 11 ocorrências fatais, a maior concentração entre os bairros da capital.
Para Nilda, a imprudência da população é a principal causa dos acidentes graves. Mas a delegada ressalta que o problema é bem mais complexo. “Falta políticas públicas no sentido de melhorar o tráfego. Se melhorasse o transporte público, as pessoas não precisariam ir para o trabalho de carro ou moto. Falta sinalização nas ruas e fiscalização.”
Especialista em engenharia de trânsito, Benjamin Jorge Rodrigues explica que as principais causas de acidentes dentro das cidades são: excesso de velocidade, desobediência do semáforo e consumo de álcool.
Mas é enfático ao afirmar que é preciso um investimento pesado em educação para reduzir o número de acidentes e, consequentemente, das mortes.
“As campanhas educativas se concentram apenas na Semana Nacional do Trânsito, em Setembro. As pessoas não respeitam as normas de trânsito. Falta educação, solidariedade. Muitas vezes a gente sinaliza e o veículo que vem atrás não facilita”, diz Benjamin.
Necessidade de melhoria do transporte público
O engenheiro de trânsito Benjamin Jorge Rodrigues também aponta a melhora no transporte coletivo como caminho. “Goiânia tem mais de 1,1 milhão de veículos. É preciso retirá-los das ruas investindo em um transporte de massa, como o metrô”. afirma. Segundo ele, o aumento da fiscalização, “com a devida punição”, também pode diminuir os índices de ocorrências violentas.
FISCALIZAÇÃO
Diminuir as mortes no trânsito de Goiânia é um dos desafios do novo titular da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), José Geraldo Freire. O gestor afirma que, entre as suas principais ações, pretende aumentar as campanhas educativas e a fiscalização na capital.
“Reconhecemos que o trânsito está violento. Solicitamos um estudo de um projeto preventivo de educação no trânsito. Mas também queremos estimular a rigidez por parte dos agentes de trânsito. Não é só uma questão de multar, mas o agente deve exercer o papel de apontar quando percebe alguma conduta indevida”, afirmou.
A SMT conta com um efetivo de 309 agentes nas ruas, três vezes menos do que determina o Conselho Nacional de Trânsito (Contran). No entanto, o secretário ressalta que há atualmente um desenvolvimento tecnológico que permite resolver essa deficiência, com radares, câmeras e comunicação via internet entre os fiscais. “Vamos tentar investir em tecnologia e na qualificação dos atuais agentes”, disse José Geraldo.
Fonte: Jornal O Popular