Os 30 centavos mais caros de Goiânia

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Nova manifestação para melhorias no Transporte Público acontecerá na Praça Universitária, amanhã.

Em abril de 2013 nasceu a Frente de Luta Pelo Transporte, organização que esteve à frente da idealização de diversas passeatas e iniciativas que colocassem em discussão a (falta de) qualidade do transporte público goiano, administrado pela Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC). Quase um ano depois, o projeto conseguiu reverter o aumento de passagem abusivo que a empresa quis inaugurar, o que, por sua vez, gerou diversos outros problemas.

Como conta um integrante do movimento, que preferiu não ser identificado para evitar problemas com a polícia, “com a baixa do preço da passagem, as empresas fizeram uma série de medidas para manter o lucro em alta, como corte de várias linhas, diminuição da frequência com que passam os ônibus e atraso no pagamento dos motoristas, o que gerou várias greves e ainda mais superlotação nos ônibus da Capital”.

A situação, como sempre não teve uma explicação decente por parte da CMTC, que justificou que precisava aumentar sua passagem para manter o já subumano nível de “qualidade” oferecido em seu transporte. Não apenas isso, usaram do artifício político de cortar o pagamento dos funcionários para direcionar a revolta dos empregados contra a população, e não contra a empresa. O reflexo, como qualquer passageiro de ônibus já pôde presenciar (incluindo o autor desta matéria), é o constante mau-humor dos motoristas e sua total frieza ao lidar com idosos, deficientes e trabalhadores, como eles próprios, que chegam suados, atrasados e nervosos ao seu trabalho todos os dias, seja por serem ignorados pelo ônibus que passa ou por serem obrigados a compartilhá-lo com muito mais pessoas do que a capacidade máxima dos veículos permite.

Não há pesquisas de grande porte que revelem ao público a insatisfação desses passageiros, mas a participação de milhares de pessoas em passeatas e as greves espontâneas acontecidas em 2013 são um ótimo indicativo, para a CMTC, de que seu monopólio não está satisfazendo a população. O poder público, fingindo que vê tudo de longe, faz vista grossa às reivindicações e coaduna com os interesses da empresa, e não dos eleitores, atitude que além de antiética representa burrice, já que irritar uma cidade inteira em vésperas de eleição não deve render muitos votos a ninguém.

Promete mas não faz

“Após a recusa de abaixar o preço dos passes, com diversas manifestações em terminais e no Centro da cidade, o prefeito lançou o benefício do Ganha Tempo, numa tentativa de acalmar os ânimos”, conta o integrante da Frente de Luta. “Por fim houve a volta do preço de R$ 3 para R$ 2,70, uma baixa histórica, que aconteceu pela primeira vez na cidade”. Entretanto, poucos meses depois (em janeiro de 2014), o programa foi cortado.

O Ganha Tempo, que é encontrado em quase qualquer capital do País, não é novidade e surgiu como uma alternativa de desinchar os sempre ultrapovoados terminais da cidade, permitindo que passageiros tomassem dois ônibus sem passar por terminais. Entretanto, usado como manobra, foi cancelado assim que as manifestações cessaram, dando retorno à superlotação nos terminais.

Semelhante é o caso do passe estudantil, outro direito do cidadão que há anos é prometido: “com o fim das manifestações, o prefeito Paulo Garcia lançou e implantou o projeto do Passe Livre Estudantil, que foi aprovado na Câmara dos Vereadores, um passe que seria irrestrito e geral para todos os estudantes e até hoje não foi implantado”, ilustra o integrante.

Como sempre, o cancelamento do Ganha Tempo foi feito na surdina, surpreendendo usuários e causando revolta geral, “o que gerou o fechamento espontâneo do Terminal Novo Mundo por mais de quatro horas, por parte dos usuários que estavam esperando por horas ônibus que atrasam propositalmente, já que os motoristas recebem instruções de esperarem que haja lotação, o que traz mais lucro para a CMTC. O trabalhador foi pego de surpresa, já que estava acostumado a pegar outras linhas por conta da integração. O protesto foi violentamente reprimido pela PM e Cavalaria”, relata. “Uma semana depois o Terminal Praça da Bíblia foi também paralisado pelos usuários, que fecharam tudo às 7h30 da manhã. Tudo por conta, novamente, de atrasos e da péssima qualidade do transporte, o que desembocou numa passeata que seguiu pela Avenida Anhanguera até o Terminal Praça A”.

Se isso for somado ao Viaduto do Mutirama, ao Teleférico do Parque Botafogo, à duplicação da Avenida Abel Rosa Xavier (no Conjunto Caiçara), a ponte sobre o Rio Lageado, a reforma do Cais Novo Mundo e diversas outras obras atrasadas ou abandonadas, é bem fácil perceber que o problema dos ônibus não é isolado.

Muito pelo contrário, é apenas um dos itens que revelam a plataforma de ação de nosso prefeito, que, após ter tantas obras inacabadas, foi coroado com um projeto de lei que o impedia de anunciar o lançamento de obras públicas até que estivessem concluídas. Sua reação? Vetá-lo. Felizmente, a imprensa existe e o povo não tem memória de peixe; com atitudes como essa, tudo que se faz é confirmar a ilegalidade das próprias ações e provar que o populismo, longe de ter sido extinto, corre solto nos anais políticos goianos.

De volta à ação

Novamente em cena, já que o problema não foi resolvido, os manifestantes aproveitam sua primeira vitória para exigir seus direitos: a volta do Ganha Tempo e a implementação do Passe Livre Estudantil, que “já foi aprovado e inclusive propagandeado pelo Paulo Garcia há mais de quatro meses e até agora não foi implantado”, resume o representante do movimento.

A lei de oferta e demanda é clara: o cidadão tem direito de poder escolher a empresa que oferece melhor serviço, opção essa que os exaustos clientes da CMTC não têm e que deixa duvidosa a seriedade com a qual a administração política goiana trata seu eleitor, que não está pedindo luxos, e sim exigindo dignidade e tratamento humanitário em um serviço do qual necessita diariamente.

“Esse ano, temos em nossa composição professores, o Sindicato dos Motoristas de Ônibus, estudantes, movimentos sociais variados, Centros Acadêmicos universitários, secundaristas e grupos independentes, que voltaram a se reunir em janeiro para materializar essa nova manifestação, após o Ganha Tempo ter sido cortado pelas empresas, que alegaram ter uma queda de 8% nos lucros por conta da medida.” Continua: “A ideia da passeata é sempre ser pacífica, caso a polícia não tente impedir o ato e reprimir de forma violenta os manifestantes. Queremos dialogar com a população e usuários dentro dos próprios ônibus, pontos e terminais lotados. Temos conosco advogados e representantes da Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia, que vai acompanhar todo o ato”, avisa o integrante. A extensão de participantes e a salvaguarda jurídica, espera, irão refrear a tentativa do Estado de usar a polícia para calar quem luta por seus direitos. Se isso não é o suficiente, vale lembrar que hoje em dia qualquer um tem um celular com câmera e acesso à internet.

A Frente de Luta ainda “gostaria de reforçar que somente depois de mais de nove manifestações no ano passado que houve a criação do Ganha Tempo, a discussão acerca do Passe Livre e a volta ao preço original das passagens, só conquistados com os usuários indo para as ruas. Por isso, é essencial que haja participação popular e participação, então, novamente: a manifestação começa, quinta-feira, às 17h, na Praça Universitária”.

Fonte: DM