Dois anos e ninguém está preso

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Operação Monte Carlo completa dois anos dia 29. Mais de 80 pessoas foram acusadas por algum crime e nenhuma cumpre pena.

O dia mal amanhecera, naquela manhã de 29 de fevereiro de 2012, quando Goiás foi sacudido por um dos episódios de maior repercussão de sua história recente. O que parecia ser apenas mais um caso de polícia se transformou num escândalo que abalou não só a estrutura da segurança pública do Estado, mas se estendeu ao meio político e empresarial .

A prisão do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, revelou ao País um esquema de jogatina com tentáculos nos poderes Executivo e Judiciário, no Ministério Público do Estado, e ainda na Polícia Federal, cujos respingos chegaram à Câmara de Vereadores de Goiânia e ao Congresso Nacional. Os governos do Rio de Janeiro e do Tocantins também apareceram nos relatórios da PF.

Cachoeira emergiu das profundezas do submundo do crime por força da Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público Federal com apoio do Escritório de Inteligência da Receita Federal. Da noite para o dia, ele deixou de ser um empresário de sucesso para se transformar no comandante de uma quadrilha que explorava o jogo ilegal em Goiás.

Naquele mesmo dia, ele foi preso juntamente com outras 30 pessoas nos estados de Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Tocantins, e no Distrito Federal. Foram apreendidos com a quadrilha R$ 180 mil, 200 máquinas caça-níquel, 22 veículos, armas e joias.

Do rol dos acusados detidos constavam gente graúda e graduada das forças de segurança de Goiás: os delegados da Polícia Civil Aredes Correia Pires, Juracy José Pereira, Niteu Chaves Júnior, Marcelo Mauad, José Luis Martins de Araújo e Hylo Marques Pereira. Da parte da PM, foram listados um capitão, um major, dois sargentos, 18 soldados, quatro cabos e três tenentes-coronéis, dentre eles, Sérgio Katayama, que à época comandava o policiamento em Goiânia. Pela Polícia Federal, os delegados Deuselino Valadares e Fernando Bayron.

Cachoeira, que ficou preso por nove meses, foi condenado a 39 anos e oito meses de prisão por corrupção, peculato, formação de quadrilha e violação de sigilo. No final de 2013, o Ministério Público Federal pediu ao Tribunal Regional eleitoral da 11ª Vara Federal o aumento da pena de Cachoeira, que passaria de 39 anos para 50 anos, e de mais outros sete condenados.

Os outros sete foram condenados por crimes de quadrilha, corrupção ativa, violação de sigilo funcional, advocacia administrativa, peculato e furto: Lenine Araújo, a 24 anos e 4 meses de prisão; José Olímpio Queiroga Neto, a 23 anos e 4 meses; Idalberto Matias, o Dadá, a 19 anos e três meses; Geovani Pereira da Silva, a 13 anos e 4 meses; Raimundo Queiroga, a 12 anos e 8 meses; Gleyb Ferreira da Cruz, a 7 anos e 8 meses; e Wladmir Garcêz, a 7 anos. Todos eles estão em liberdade provisória por terem recorrido da decisão judicial.

Em decisão mais recente, de 14 de janeiro passado, foi deflagrada nova instrução criminal contra Cachoeira e outros 15 réus, sob acusação de prática de contrabando de componentes eletrônicos destinados à composição de máquinas eletrônicas programáveis (caça-níqueis), delito também apurado nas investigações da Operação Monte Carlo.

Ontem, 27, o MPF ofereceu mais duas denúncias contra envolvidos no Caso Cachoeira. Em uma das denúncias, o MPF requer a condenação de Carlinhos Cachoeira, de Geovani Pereira da Silva, responsável pelo controle e administração financeira do grupo criminoso, e de Gleyb Ferreira da Cruz, auxiliar de Cachoeira na administração dos bens e negócios da organização criminosa, por promoverem o crime de evasão de divisas do país. Na outra denúncia, o MPF requer a condenação do então delegado da Polícia Federal (PF) Fernando Byron Filho e novamente de Carlinhos Cachoeira pelos crimes de prevaricação (somente o primeiro acusado) e violação de sigilo funcional (os dois acusados).

Ao todo, são cinco as denúncias ajuizadas pelo MPF em Goiás. A primeira ocorreu 19 dias depois da deflagração da operação, em março de 2012. Ao todo, 80 pessoas foram acusadas. O processo foi desmembrado e no fim do mesmo ano foi proferida a sentença contra os sete integrantes da cúpula da quadrilha. Em 14 de novembro de 2012, a segunda acusação foi apresentada pelo MPF contra 16 pessoas, com foco no crime de depósito e exploração comercial de máquinas caça-níqueis. A terceira denúncia acusou quatro pessoas por lavagem de dinheiro, entre elas José Olímpio Queiroga, membro operacional do grupo criminoso organizado.

Em dezembro de 2013, o MPF moveu ação contra o ex-desembargador Júlio César Cardoso de Brito, de improbidade administrativa, e também contra Cachoeira, entre outras pessoas e empresas do grupo criminoso. O magistrado teria tido vantagens patrimoniais indevidas em razão do cargo que ocupava, entre 2010 a 2012.

Fonte: Jornal O Hoje