Os 17 pontos que travam o trânsito de Goiânia
Pontos de angústia do motorista, ao menos 17 trajetos apresentam atualmente fluxo intenso e engarrafamentos diários.
O trânsito de Goiânia apresenta pelo menos 17 pontos de estrangulamento, segundo levantamento da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT). Nos cruzamentos críticos da capital (veja box), principalmente durante os horários de pico, os motoristas permanecem parados mesmo quando o semáforo se abre. Filas imensas de veículos se formam nas vias e irritam os condutores que enfrentam o transtorno diariamente.
A engenheira de trânsito da SMT, Ana Damascena, cita como principal exemplo de estrangulamento o cruzamento da Avenida T-63 com a Avenida T-4, no Setor Bueno. Ela afirma que, a cada hora, passam pelo local pelo menos 2.200 veículos. Além disso, destacou que outro agravante é o movimento intenso de pedestre devido à quantidade de comércios no trecho. “Temos dois bancos, farmácias e videolocadora e ainda tem parada de ônibus nos dois sentidos”, ressalta.
A proibição do estacionamento ao longo da Avenida T-63 e a criação de uma faixa preferencial para o transporte coletivo foi estabelecida, segundo a SMT, para também trazer fluidez ao trânsito. Ana Damascena lembrou que o problema acontece apenas nos períodos de pico, sendo os mais críticos das 7 às 9 horas da manhã e das 11 às 14 horas. “Depois disso, o trânsito costuma fluir normalmente”, disse.
Ela também comentou sobre a situação da Avenida Goiás com a Paranaíba, atribuindo o estrangulamento também à movimentação gerada pelo Mercado Aberto. A engenheira acredita que a instalação de novos equipamentos de controle de trânsito pode minimizar os problemas pontuais, já que um dos critérios utilizados para avaliar os pontos críticos, além dos equipamentos de foto sensor, é a quantidade de acidentes registrados nas vias (veja box). Há equipamentos capazes de registras excesso de velocidade, que neste caso aconteceria apenas fora dos períodos de congestionamento.
Um outro problema ainda recorrente no trânsito goianiense, e que agrava a situação das vias mais movimentadas, trata-se da falte de cumprimento de uma determinação de 2009 da então Agência Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (AMT), mas que segue sem qualquer adesão dos motoristas. Conforme estabelece o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), no artigo 178, o condutor envolvido em um acidente sem vítima é obrigado a adotar providências para remover o veículo do local, para assegurar tanto a segurança quanto fluidez do trânsito. O código até estipula infração média, no valor de R$ 85,13 e 5 pontos na CNH, mas a regra praticamente não é aplicada.
Em setembro de 2009, a AMT modificou o procedimento para o registro do Boletim de Acidentes de Trânsito sem Vítimas (BOAT), que deveria ser feito pelos próprios motoristas envolvidos, no departamento específico da prefeitura. Na época, o cálculo era que de 70% a 80% dos acidentes não se exigiria a atuação de agentes de trânsito e nem a interrupção do tráfego para tratar a questão.
Mesmo com pedido do Ministério Público para alteração do procedimento de registro de acidentes, e determinação da AMT, o que se vê, diariamente nas ruas são condutores com veículos parados nas vias, diante de qualquer colisão, aguardando a chegada de agentes de trânsito ou da perícia. A alegação mais comum dos condutores envolvidos em acidentes é de que, retirando os veículos por conta própria, elimina-se a determinação de quem foi responsável pela colisão, válida para casos de restituições.
Planejamento
O crescimento fora do controle da frota de automóveis na cidade são atualmente mais de 1 milhão de veículos circulando, e a falta de planejamento e fiscalização são questões falhas apontadas por especialistas no assunto para que os cruzamentos se tornem cada vez mais congestionados.
A especialista em trânsito e coordenadora técnica do Fórum de Mobilidade Urbana de Goiânia, Erika Cristine Kneib, salientam que existem soluções paliativas para minimizar os pontos de estrangulamento, mas que essa opção traz somente resultados momentâneos. “É apenas um paliativo, já que diariamente entram mais carros em circulação. Uma intervenção hoje pode durar três meses, quatro meses, até os próprios viadutos são assim. Os viadutos muitas vezes estimulam a usar mais o automóvel”, disse.
Ela avalia que a SMT deveria trabalhar com projetos de reforço a sinalização vertical e horizontal, mas que o fundamental seria a fiscalização, principalmente nos locais com placas de proibido estacionar. “Não dá para carros estacionarem em locais indevidos, pois eles travam o trânsito. Sem a fiscalização, as mudanças podem não surtir efeito”, disse. Com relação à engenharia do tráfego, citou a possibilidade de melhorar a geometria das vias. “Vários cruzamentos precisam ser revistos”, avaliou.
Já o especialista em trânsito Benjamim Rodrigues lembrou que, além dos estrangulamentos permanentes, os motoristas estão tendo de enfrentar outros gargalos devido às obras que foram iniciadas recentemente. Ele lembrou a construção do viaduto da Avenida 88 com a Marginal Botafogo, pelo qual já observou inúmeros transtornos. Por isso, destaca a necessidade de um plano diretor do trânsito, “para que assim a população seja informada muito antes do início das interdições e possa planejar seu novo itinerário”.
Ele acredita que atualmente o cidadão goianiense tem de enfrentar um estresse a mais. “Rotineiramente, Goiânia enfrenta problemas de fluxo em vários pontos, devido ao excesso de veículos que circulam pela cidade. Mas se o transporte público fosse verdadeiramente de qualidade vários pessoas o utilizariam. O que falta em um planejamento integrado de transporte”, acredita.
Sobre o problema do estrangulamento da Avenida T-63 com Avenida T-4 ele destaca que são duas vias arteriais. “Uma cruzando a outra.” Para ele, o congestionamento pode ser enfraquecido caso aconteça uma melhor programação dos semáforos. “Deve ser alterado de acordo com a solicitação do tráfego. O tempo verde pode ser maior dependendo da necessidade”, explicou.
Fonte: Jornal O Hoje