Agropecuária coloca Cerrado em alerta

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Especialista apresenta estudos que dizem que, se não cumprir metas de preservação, bioma poderá deixar de existir em menos.

No cenário atual brasileiro, principalmente no Centro-Oeste, as áreas de vegetação natural têm dado lugar às pastagens e às monoculturas. Aqui, onde está o coração do Cerrado, o aumento da produção de soja, por exemplo, é sinal de progresso. No entanto, em meio ao destaque econômico que isso proporciona, as espécies e a vegetação do Cerrado correm cada vez mais risco de desaparecerem.

Signatário da Convenção de Diversidade Biológica, o Brasil assumiu o compromisso de preservar 17% dos ecossistemas terrestres e 10% dos ecossistemas marinhos até 2020. O compromisso foi assumido durante a discussão sobre a Meta Global da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas (COP 10/CDB) de Aichi, em Nagoya, firmado em 2011.

Realizando estudos na área, o professor do Laboratório de Biogeografia da Conservação da Universidade Federal de Goiás (UFG) Rafael Loyola afirma que a situação de preservação hoje é crítica no Cerrado. “A situação é ruim, mas não podemos desistir por isso. Devemos trabalhar para reverter esse quadro.”

O professor afirma que cumprir a meta de preservação assumida pelo Brasil está mais fácil nos ecossistemas terrestres do que nos ambientes marinhos. No Cerrado, a preservação já começou. De acordo com o professor, a universidade está contribuindo para apontar quais são as áreas prioritárias de preservação.

No entanto, o trabalho esbarra em uma dificuldade encontrada pelos estudiosos. Rafael explica que as mudanças climáticas constantes podem fazer uma área que hoje é apropriada para as espécies deixar de ser daqui a 50 anos. Por isso, o País deve se dedicar às Unidades de Conservação (UCs), para criar e monitorar áreas em que os ambientes sejam adequados para a manutenção das espécies que vivem na região.

Os estudos levantaram os impactos das mudanças climáticas para diferentes espécies de anfíbios e mamíferos do Cerrado e da Mata Atlântica e foram realizados em conjunto com o professor Ricardo Machado, da Universidade de Brasília (UnB).

A equipe de Rafael também investigou quais são as áreas mais críticas do Cerrado, onde não devem ser implantadas as UC’s. Segundo o levantamento, as regiões sul e sudoeste da área de abrangência do Cerrado possuem boas condições de sobrevivência para as espécies. Mas, por causa do avanço das monoculturas e das pastagens, o Cerrado deve deixar de existir na região até 2080.

Os estudos apontam que a região norte da área de abrangência do bioma deve conservar as características primárias do ecossistema. Essa área inclui a região norte de Goiás e algumas áreas no Piauí e no Maranhão.

Rafael ressalta que é importante pensar em regiões que tenham mais hábitat natural e condições favoráveis para as espécies ameaçadas. “Temos três categorias para definir espécies ameaçadas: vulneráveis, que há risco de desaparecimento, mas não é um risco iminente; em perigo, que são as espécies que estão em situação mais crítica, mas que com algumas políticas podem não desaparecer em dez anos; e em perigo crítico, que são as espécies que correm risco de desaparecerem em cinco anos.”

Para o professor, é importante que o Brasil reavalie a legislação, incluindo a lei de uso do solo, para que seja mais clara e aplicada de forma a beneficiar o meio ambiente. Segundo ele, o Código Florestal, por exemplo, da forma como foi aprovado, não é favorável ao meio ambiente. “O governo deve se preocupar também em criar cada vez mais áreas de proteção às espécies e aos biomas.’, conclui.

Fonte: Jornal O Hoje