MP vai investigar doação do governo de R$ 2,5 milhões ao Goiás Esporte Clube
Apesar de, nos bastidores, o treinador Luiz Felipe Scolari não estar satisfeito de treinar a seleção brasileira em Goiânia, a equipe desembarca hoje na capital. Os atletas vão passar por treinamento e preparação física durante quatro dias em solo goiano para a estreia na Copa das Confederações, que será contra o Japão, em Brasília, no dia 15 de junho. Os locais definidos pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na capital para que os craques da seleção se preparem para o confronto foram o Estádio Hailé Pinheiro, sede social do Goiás Esporte Clube (GEC), e o Centro de Treinamento do clube.
Para atender às especificações técnicas impostas pela CBF, ambos os complexos tiveram que passar por uma reforma. Somente com as adaptações no Estádio Hailé Pinheiro foram gastos R$ 4 milhões, sendo R$ 2,5 milhões oriundos dos cofres públicos do Estado.
Todavia, todo este montante foi desembolsado para que a seleção treine uma única vez no estádio, apenas na tarde de amanhã, dia 4, de acordo com a programação divulgada. Nas negociações iniciais, a seleção ficaria em Goiânia 18 dias, passaram para 10 e agora diminuíram para quatro. As adaptações foram realizadas ponderando, ainda, a construção de uma nova arena, que será erguida no local futuramente.
Na totalidade, a obra é de reconstrução dos vestiários, instalações elétricas, rebaixamento e substituição do gramado. Para o presidente esmeraldino, João Bosco Luz, o montante que o governo destinou ao clube não se trata de uma doação, mas sim de um investimento. “Foi um esforço do Governo de Goiás e da Federação Goiana de Futebol (FGF) para que a seleção viesse treinar na capital. A CBF enviou uma comissão técnica para decidir o local dos treinamentos e os três clubes (Atlético Goianiense, Vila Nova e Goiás) foram visitados. Porém, optaram pelo complexo do Goiás, mesmo assim exigiram algumas mudanças na estrutura”, justifica o presidente do clube.
Ressaltando que o clube é uma iniciativa privada, questiona-se por que não foram firmadas parcerias entre patrocinadores ou outras entidades particulares para que o Goiás conseguisse arcar com o ônus das próprias obras de melhoria da infraestrutura. Ou mesmo, por que o governo não investiu os tais R$ 2,5 milhões no Estádio Serra Dourada, já que ele é um patrimônio público e poderia, satisfatoriamente, acolher a equipe de Felipão. Por último, discute-se ainda se com os investimentos do governo do Estado, outros clubes não teriam condições de receber os atletas.
No caso do Atlético Goianiense (ACG), por exemplo, o diretor de futebol Adson Batista estima que, com apenas R$ 500 mil investidos pelo governo, o clube teria recursos suficientes para reformar o Centro de Treinamento e atender às especificações técnicas da CBF. O diretor explica que o clube possui uma estrutura funcional e, excepcionalmente, o gramado não foi aprovado pela comissão, o que também não havia sido assentido no Estádio Hailé Pinheiro. “O Atlético tem toda a infraestrutura para receber a seleção brasileira, inclusive fomos aprovados, mas o campo não atendia aos parâmetros técnicos”, ilustra.
Regulamentado em 2009, o programa Proesporte contempla R$ 5 milhões por ano de renúncia fiscal para o Estado de Goiás investir no esporte. As empresas aprovadas pela Agência Estadual de Esporte e Lazer (Agel) que destinarem recursos para o setor terão 100% de redução no ICMS, explica o secretário executivo do programa, Fidêncio Lobo. No grupo de projetos da governadoria aprovados pela Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia legislativa está o que aumenta o valor desse recurso. O previsto é que o limite da verba passe de R$ 5 milhões para R$ 6,5 milhões anualmente. Tudo indica que, se aprovado, este acréscimo beneficiará, inicialmente, o Goiás Esporte Clube. “Se houver uma mudança na lei e um maior repasse de recursos, com certeza os clubes receberão dinheiro do governo”, defende Fidêncio.
O uso duvidoso do dinheiro público pode ser visto pela morosidade nas obras do Estádio Olímpico. O centro esportivo foi demolido em 2006 para dar lugar a um estádio moderno, que vai compor o Centro de Excelência do Esporte. Contudo, o Ministério Público Federal embargou a obra por suspeita de irregularidades na aplicação dos recursos da União. Durante o lançamento do Programa Nota Show de Bola, em março deste ano, Marconi Perillo afirmou que desistiu de esperar pelos recursos do governo federal. Diante disso, o governador garantiu que o Estado arcaria com todos os gastos das obras do Estádio. Três meses depois, a situaçao do estádio não mudou. O governador Marconi Perillo o inclui entre as obras que serão entregues até 2014.
A dispendiosa obra realizada no Hailé Pinheiro esconde outros mistérios. A polícia investiga denúncia de propina para atrasar a obra. De acordo com a acusação, um luxuoso carro de cor preta teria parado em frente ao centro esportivo em reforma. Do automóvel desceu um homem que teria aliciado, oferecendo dinheiro, o mestre-de-obras para atrasar o serviço. O clube reforçou a segurança e registrou boletim de ocorrência na polícia, porém ainda não é sabida a procedência do suposto suborno, que pode ser tanto de clubes rivais, quanto da oposição do governo do Estado. “Estamos tão envolvidos com a obra que não nos deixamos abater por esse fato. O solucionamento do caso esta a cargo da justiça, a nossa parte já foi feita, que era registrar o boletim de ocorrência”, expõe João Bosco.
Na semana passada, uma denúncia anônima foi apresentada ao Ministério Público sobre a obra no complexo Hailé Pinheiro. Na tarde de hoje será realizado um sorteio para destinar o processo a um dos promotores de Justiça do Patrimônio Público, que deve dar andamento às investigações.
Fonte: Portal 730