Parque Flamboyant: Malária causa temor na Capital
Surto da doença deixa moradores preocupados e com medo de frequentar parque
Considerada uma doença tipicamente da região Amazônica brasileira, casos de malária na Capital causaram assombro na população goianiense. Até o momento foram confirmadas pela Secretaria Municipal de Saúde seis pessoas infectadas. Todos os registros ocorreram na Região Sudeste da cidade. Com medo de ficarem doentes, moradores e frequentadores do Parque Municipal Flamboyant Lourival Louza, cercania onde os casos têm aparecido, têm saído menos à rua.
Afonso Pedrosa, 51 anos, mora em um prédio em frente ao Parque Flamboyant e tem o costume de caminhar pelas alamedas do lugar, mas que agora está evitando. Situação atípica para ele, desde que o local foi marcado como local provável para as contaminações. Afonso explicou à reportagem do Diário da Manhã que já não tem aproveitado o espaço para fazer suas caminhadas no início da manhã e fim da tarde, e que seus filhos também têm evitado frequentar o parque, ficando em casa por medo da doença.
Questionado sobre o que conhecia a respeito da malária, ele esclareceu que pouco sabia e que nunca tinha ouvido falar sobre a ocorrência da doença em Goiânia. Afonso ainda informou que tem ficado muito preocupado e que uma pessoa em seu prédio foi contaminada e ainda estava no hospital. Devido ao ocorrido, de acordo com ele, os síndicos dos prédios têm espalhado cartazes com informações para que as pessoas evitem ir ao parque.
Atendente do quiosque do parque, Tatiane Jesus Sousa, 27 anos, disse que a movimentação no local caiu bruscamente e com isso as vendas também. “Nesse horário [por volta de 16h], o parque estaria movimentado”, conta. No entanto, no momento em que a reportagem estava no local, não havia mais que uma dezena de pessoas no lugar.
Tatiane disse que está com medo de ficar doente, ainda mais porque tem que trabalhar todos os dias, mas não sabe muito sobre a malária. Ontem ela levou a filha de seis anos para o trabalho, pontuou que ficou muito receosa, mas não teve alternativa.
O casal de namorados Stefany Monic da Silva, 19 anos, e Alexandre Wallace Oliveira de Paula, 25 anos, moradores de Aparecida de Goiânia, passeava tranquilamente pelos caminhos do Flamboyant. Eles tinham ido passear pelo local e não se mostraram preocupados ou tinham muito conhecimento sobre a doença. “Nem sabíamos, mas minha mãe ligou avisando quando já estávamos no carro”, explica ela.
Parque
O Parque Municipal Flamboyant Lourival Louza fica entre as ruas 15, 12, 46, 55, 56 e a Avenida H, no Jardim Goiás, na Região Sudeste da Capital. Foi inaugurado em setembro de 2007, possui dois lagos, parque infantil, ciclovia, pista de cooper e estação de ginástica. Ocupa uma área de 125.572,71 metros quadrados com remanescentes de veredas, com buritis e outras árvores nativas do Cerrado.
Controle
Flúvia Amorim, diretora de Vigilância em Saúde, informou que desde que o surto foi detectado todas as medidas cabíveis, preconizadas pelo Ministério da Saúde, estão sendo tomadas para controlar a doença. “Desde terça-feira passada, 2.800 domicílios já foram visitados e sexta-feira o primeiro ciclo de borrifação foi concluído”, conta.
A borrifação do fumacê é feita com intuito de reduzir a fauna de mosquitos transmissores e, de acordo com Flúvia, já mostrou resultados. Na análise realizada após a aplicação, o número dos mosquitos pegos nas armadilhas colocadas pelo pessoal especializado tem diminuído.
A diretora também esclarece que a malária não tem chance de se tornar endêmica na cidade, como acontece na região Amazônica. E que a principal hipótese para o surto é que uma pessoa com malária tenha passado pelo parque, sendo picada pelo mosquito transmissor, que faz parte da fauna local e que posteriormente passou a doença adiante.
Entretanto, Flúvia esclarece que as pessoas já podem voltar a frequentar o parque. “Em relação à região é interessante não frequentar nos dias de borrifação e evitar a área de mata fechada”, diz. Para ela, a área de convivência onde há o gramado não demonstra perigo aos frequentadores, mas a mata fechada com mais exemplares do mosquito ainda não é aconselhável. A data prevista para o segundo ciclo de borrifação é a próxima sexta-feira (31).
Malária
Mas o que é e o que causa essa doença? O infectologista Boaventura Braz de Queiróz, 54 anos, explica que a malária é uma doença normalmente transmitida pelo mosquito Anopheles, popularmente conhecido como mosquito prego. “É na picada do mosquito que os parasitas são inoculados”, conta.
Entre a picada do mosquito e a apresentação dos sintomas o médico esclarece que pode haver um intervalo entre sete e 180 dias, mas a média geral entre os infectados manifesta os sinais de duas semanas a 60 dias. Os principais sintomas são febre com calafrios intensos (sintoma típico da doença), mal-estar geral, dor de cabeça e no corpo e falta de apetite.
Ainda não existe vacina contra a malária, mas há medicamentos (via oral ou injetável) para o tratamento da doença. Há várias espécies de parasitas responsáveis pela malária, alguns são de cura mais fáceis que outros. O diagnóstico pode ser realizado por exame de sangue e normalmente é rápido. Para o médico, em Goiânia pode ter havido dificuldades no diagnóstico por essa não ser uma doença comum, e durante as análises essa possibilidade não foi cogitada como prioritária.
Fonte: DM