Alerta: Goiânia registra 3 casos de malária

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Três casos de malária em pessoas de classe média, moradoras das proximidades do Parque Flamboyant, no Jardim Goiás, região Sul da capital estão sob investigação da Diretoria de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia. O alerta foi dado na semana passada por um hospital privado por onde passaram dois dos pacientes, uma mulher de 53 anos e um homem de 24. No final da tarde de ontem, o órgão municipal confirmou o terceiro caso de um jovem de 15 anos que está internado em outro hospital particular. O temor das autoridades de saúde é de que a doença seja autóctone, ou seja, transmitida em Goiânia, o que não acontece há vários anos.

Os dois primeiros pacientes chegaram ao pronto-socorro do hospital particular com sintomas como febre e dores no corpo. Exames de sangue de ambos apontaram a presença do parasita plasmodium vivax, responsável por 85% dos casos de malária no Brasil. A doença, endêmica na região amazônica, é transmitida pela fêmea infectada do mosquito Anopheles, que geralmente pica no amanhecer ou no anoitecer. Diretora de Vigilância em Saúde da SMS, Flúvia Amorim confirma que os três exames foram positivos para malária.

“Não sabemos ainda se eles foram infectados em Goiânia, mas como os três são moradores das proximidades do Parque Flamboyant, hoje mesmo vamos colocar armadilhas no local para tentar capturar o mosquito transmissor, o Anopheles”, disse ontem Flúvia Amorim. Segundo ela, é prematuro afirmar que se trata de uma transmissão autóctone enquanto os três casos não forem investigados. Equipes da Vigilância Epidemiológica já estão conversando com as famílias para descobrir se os pacientes viajaram nos últimos dias. De acordo com a diretora de Vigilância em Saúde, entre a picada do mosquito e o desenvolvimento da doença há um período de incubação de 30 dias.

Caso seja comprovado que o local de contaminação é mesmo Goiânia, a SMS vai tomar as medidas de controle para evitar que mais pessoas sejam infectadas. O foco se volta para o controle do vetor e para o tratamento dos pacientes, que se tornam transmissores em potencial. Com o parasita na corrente sanguínea, eles podem ser picados pelo mosquito que vai transmitir para outras pessoas.

DIAGNÓSTICO TARDIO

A infectologista Cristiane Reis Kobal, que acompanha um dos casos, está preocupada. Ontem, o rapaz de 24 anos foi encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com dificuldades respiratórias. No meio da manhã ela informou que o rapaz não estava respondendo aos medicamentos à base de cloroquina, o mais utilizado em casos de malária. “Há anos não temos malária autóctone em Goiânia, por isso a preocupação”, afirma a médica. Christiane Kobal conversou com familiares do paciente e está convicta de que o jovem não deixou a capital nos últimos 11 meses.

Christiane Kobal estava viajando para os Estados Unidos quando a mulher foi atendida no hospital privado. “Quando me ligaram e disseram que era malária pedi para encaminhá-la para o Hospital de Doenças Tropicais (HDT)”. Em nota, o HDT informou que a mulher realmente passou pela unidade no dia 9 deste mês com suspeita de malária, mas foi liberada após ser submetida a exames. Alegando respeito à paciente e à ética médica, o hospital não informou o diagnóstico. O POPULAR apurou que a mulher voltou a ser internada na sexta-feira, desta vez em um hospital privado.

Christiane Kobal está apreensiva. “É preciso ressaltar a importância médica disso. Inicialmente, tanto familiares quanto médicos acreditaram que o paciente de 24 anos estava com dengue e o diagnóstico demorou muito para ser feito, o que agravou seu quadro”, explica a médica. “É uma situação grave porque muitas pessoas podem estar com os sintomas acreditando ser dengue, e na verdade é malária”, diz a infectologista.

Flúvia Amorim, diretora da SMS informa que está há mais de 15 anos na Vigilância Epidemiológica de Goiânia e desde então nunca foi registrado nenhum caso de malária transmitida na capital. “Todos foram importados, pessoas que viajaram e foram contaminadas em regiões de risco”.

Contaminação na capital é improvável

A malária é causada pelo protozoário Plasmodium. No Brasil, os agentes infecciosos são as espécies Plasmodium malariae, Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax, sendo que as duas últimas são responsáveis pela grande maioria das infecções em todo o mundo. De acordo com o doutor em genética de malária, o professor e pesquisador do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás, Pedro Cravo, os casos em que o agente é a Plasmodium vivax, 85% do total, são mais fáceis de tratar e com letalidade muito pequena. Já os 15% restantes são mais letais.

Pedro considera improvável, mas não impossível que a contaminação dos três casos já notificados à SMS tenha ocorrido em Goiânia por se tratar de uma doença rural, de florestas. “É preciso investigar, mas é estranho”, diz.

Fonte: Radio Rio Vermelho