Concurso da Saneago anulado para 66 mil

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Uma irregularidade no cartão resposta das provas do concurso da Empresa de Saneamento de Goiás S/A (Saneago), cujas provas foram aplicadas no domingo (30) pelo Instituto Brasileiro de Educação e Gestão (Ibeg), levou a empresa de saneamento, diante de uma recomendação do Ministério Público Estadual, a anular parcialmente o concurso.

A medida afeta mais de 66 mil inscritos no certame para os cargos de nível médio e grande parte dos candidatos de nível fundamental. Apenas as provas de nível superior serão mantidas (veja box). O Ibeg continua como responsável pela elaboração das novas provas, que devem ser realizadas no prazo mínimo de 60 dias.

O candidato que optar por não participar novamente da concorrência poderá solicitar o ressarcimento do valor de inscrição para o Ibeg. De acordo com promotor de Justiça Fernando Krebs, a recomendação, acatada pela Saneago, cancela parcialmente o concurso público para que seja garantido que todas as questões das provas também estejam presentes no cartão resposta. “Havia um descompasso nas provas de nível fundamental e médio. Nesse prazo de 60 dias, o MP vai avaliar também a idoneidade da empresa contratada”, afirmou.

O prazo mínimo de 60 dias foi concedido para que os próprios candidatos tenham tempo de se reorganizar financeiramente, já que muitos residem em outras cidades e até Estados. “E com isso garantir um concurso tranquilo, profissional e isonômico para todos.”

Pouco depois do início das provas, no domingo, vários candidatos deixaram as salas, mesmo antes do horário permitido, após identificar os erros no gabarito e também irregularidades na revista da segurança dos locais de prova. Há relatos que candidatos adentraram às salas de aula portando celular. No entanto, segundo o promotor Krebs, essa questão ainda não foi levada em consideração, pois ainda está sendo apurado. “Uma coisa é a irregularidade e outra coisa é a causa de uma nulidade. Concentramos-nos nesta causa que prejudica mais de 65 mil pessoas dos aproximadamente 95 mil inscritos”, ressaltou.

Questionado sobre a possibilidade de anulação total do concurso, ele esclareceu que está apenas substituindo a promotora de Justiça Leila Maria de Oliveira, responsável pela 50ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público. Por isso, a conclusão do procedimento deve ser realizada por ela. Ainda ressaltou que o Ibeg foi contratado pela Saneago por meio de um processo licitatório por um pregão eletrônico. “A Saneago já fez um desembolso significativo de recursos para o pagamento da empresa. Nossa ideia é corrigir aquilo que está errado. Eu não conheço o Ibeg e não posso afirmar se foi constatada alguma irregularidade em concursos realizados anteriormente.”

Recorrência

Esse não é o primeiro concurso público realizado em Goiás que apresenta problemas e interferências no processo seletivo pelo Ministério Público Estadual. Também no início deste ano os gabaritos das provas objetivas dos concursos das polícias Civil e Militar foram cancelados, após a denúncia de que havia uma sequência que se repetia em 100 questões. O governo decidiu remarcar novas provas e Universidade Estadual de Goiás (UEG), suspeita da alteração, seguiu com a elaboração do certame. Novas provas foram realizadas em março e abril.

Provas para nível superior serão mantidas

O diretor e presidente da comissão do concurso da Saneago, José das Dores Freitas, acredita que a decisão traz tranquilidade a todas as partes envolvidas no processo. “Tira a tensão dos candidatos que foram prejudicados e a tensão sob a empresa.” Ele fez questão de destacar que pelo menos 18 mil candidatos dos cargos de nível fundamental não foram prejudicados, mas ainda não se sabe quais foram os cargos preservados. “Estes que não estão no alcance da decisão o processo já iniciado continua válido.” Ele ainda lembrou que a partir dessa decisão um novo plano de trabalho será desenhando e um novo cronograma amplamente comunicado e divulgado à população e candidatos.

“Para nível superior, todos os cargos ficam preservados, pois não houve problemas. Já do nível técnico (médio) 100% dos cargos foram afetados. Nos cargos de nível fundamental identificamos apenas a quantidade de pessoas prejudicadas, que seria em torno de 40 mil. Os cargos ainda não foram identificados”, explicou. Mas cogita-se que pelo menos 18 mil inscritos tenham sido preservados.
Ele considera que o erro aconteceu durante a produção do gabarito, que veio constando apenas 40 questões, sendo que o caderno de provas possuía 60. Em busca do sigilo, na hora de produzir o material impresso, um determinado comando gerou o erro. “Foi uma falha no processo. O comando é acionado a partir de uma tecla do computador.” Ele acredita que a tecla deixou de ser apertada, por isso pode ter acontecido uma falha humana. “Isso vai ser apurado.”

Recomendação do MP enfoca irregularidades

Na recomendação, o Ministério Público Estadual (MP/GO) considerou diversas razões para pedir o anulamento do certame. No documento expedido pela 50º Promotoria de Justiça, o promotor Fernando Krebs considera irregularidade mais grave a incompatibilidade entre a quantidade de questões da prova e da folha de respostas. Fato que gerou a anulação de 20 questões, no concurso de nível médio, e 10 questões em alguns cargos de nível fundamental.

Também citou que, após identificar o erro de impressão da folha de respostas, a comissão organizadora do concurso não suspendeu sua realização, mas promoveu uma retificação no edital, que foi publicado às 22 horas do dia anterior à realização do certame, ferindo o princípio de publicidade e prejudicando aqueles que não tiveram acesso a esta informação. Também considerou que a anulação de 20 e 10 questões, demonstra grande desorganização por parte da instituição organizadora.

Fonte: Jornal O Hoje