Reitor da UFG: “O Hospital das Clínicas será o maior e melhor da região Centro-Oeste”
O novo Hospital das Clínicas/UFG será entregue em 2017. Só no prédio de 20 andares serão investidos mais de R$ 80 milhões. Reitor ressalta papel da bancada federal goiana, que destinou emendas para a obra.
Com um ano no reitorado da UFG, o professor Orlando Afonso Valle do Amaral conta ao Hoje de Frente com o Poder como foi a pressão contra a gestão compartilhada do HC com a Ebserh (Empresa de Serviços Hospitalares). Ao jornalista Murilo Santos reclama que falta estruturação dos campi da universidade no interior, especialmente Catalão e Jataí. O reitor da UFG comenta também as indicações de Cid Gomes para o Mec e Aldo Rebelo para Ciência e Tecnologia. Na entrevista em vídeo e na íntegra acima, Orlando Amaral lembra de José Serra no Ministério da Saúde e comemora o crescimento da UFG, que dobrou de tamanho nos últimos seis anos.
O senhor participou em Brasília da transmissão de cargo do novo ministro da Educação, Cid Gomes, e do novo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo. O senhor e a universidade gostaram desses nomes?
Nossas expectativas são muito positivas, ambos têm perfil mais político, todos sabem,isso tem um lado mais positivo, que é fortalecer a interação dos ministérios com o poder político também, porque é muito importante. O que se espera é que eles tenhamclarividência de fazer boas escolhas para seus assessores mais diretos. Aí sim, acredito que serão escolhidas pessoas que sejam especialistas nas suas áreas, para que o ministério possa sim atender às demandas das duas áreas tão importantes para o país.
É melhor políticos do que técnicos?
Acho que é uma combinação. O ministério como um todo tem que ter uma mescla de pessoas com perfil mais político e um perfil mais técnico. A opção da presidenta Dilma (Rousseff) para esses dois ministérios foi fazer escolha muito mais política. Mas no ministério de maneira geral existem pessoas com perfil mais técnico e mais político. Acho que essa mistura é saudável.
Para a UFG muda alguma coisa?
Ainda é cedo para avaliar. No caso da escolha de Cid Gomes, como prefeito de Sobral (CE) e governador do Ceará ele tem experiência muito consolidada e reconhecida de atuação muito forte na educação básica. Claro que do ponto de vista da universidade queremos preservar toda a estrutura da educação superior no país. Tenho certeza que o ministro saberá fazer o correto balanço entre prioridades da educação superior e da educação básica. Sabemos e reconhecemos que o Brasil tem enormes dificuldades na educação básica.
Falta atenção ao ensino médio?
O próprio ministro já destacou a necessidade de reformular o currículo do ensino médio no Brasil. Mas é um sistema como um todo, que envolve os vários níveis de ensino. No caso da educação básica, a participação dos municípios e dos estados se conjuga com a participação da esfera federal.
O ingresso à universidade pelo Sisu/Enem é o melhor caminho?
Sim. Não tenho dúvidas que o Brasil precisava de outra alternativa aos vestibulares tradicionais e foi pelo Enem. É um exame de abrangência nacional,estabelece padrão nacional, permite que estudantes de qualquer localidade do país possam fazer na sua cidade ou próximo dela. E o sistema de seleção que dáingresso na faculdade é o caminho que democratizou o acesso.
É melhor que vestibular?
Acho que é melhor.
Por quê?
Porque democratiza o acesso. Até bem pouco tempo, antes do Sisu, era restrito aos estudantes que poderiam fazer o ‘VestTur’, ou seja, o filho de famílias mais ricas podia fazer esse percurso e concorrer a vagas em diferentes instituições do país. O estudante da escola pública, de origem mais humilde, pobre, não podia. A possibilidade era restrita à fatia da população que tinha condições de bancar as viagens dos filhos.
E o sistema de cotas?
É necessário. É notória a dívida social que o Brasil tem com estudantes de origem mais humilde, negros, indígenas e era necessário ter uma política de inclusão dessas pessoas. Os que advogam de forma contrária sempre falam que era preciso de fato a solução de base fundamental, corrigir problemas da educação básica, e de fato é. O problema é que isso leva tempo e esse esforço, por mais que esteja presente desde muito tempo, nunca se concretizou. Todos os alunos da escola pública estão fadados a não ingressar numa universidade pública. E o paradoxo é que esses estudantes de origem mais humilde normalmente ingressam nas universidades pagas.
Falta incentivo para que estudantes também busquem cursos técnicos?
Acho que essa é uma distorção do sistema brasileiro. Se colocava quase que como única opção para ascensão social, qualificação, o ingresso em uma universidade. E nem todos têm perfil de fazer curso superior. Nenhum país precisa que toda sua população faça curso superior. Existem outros itinerários formativos tão importantes quanto a formação superior. No governo do presidente Lula, e da presidenta Dilma, houve expansão muito mais forte dos Institutos Federais e de Tecnologia. Tão forte quanto nas universidades. O governo também investiu de forma muito agressiva no Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). Dados dão conta de que oito milhões de estudantes participaram do programa.
Como foi enfrentar a pressão de alguns servidores e estudantes contráriosao convênio do Hospital das Clínicas com a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares)?
Houve uma pressão muito forte sim, após uma reunião do Conselho Universitário, que discutia, discutiu e aprovou a adesão da universidade à Empresa de Serviços Hospitalares. É um tema que vem sendo discutido no Brasil, na UFG desde 2012, edesperta muitas emoções, sobretudo no Sindicato dos Trabalhadores da UFG. O que foi aprovado e assinado no final do ano é que a universidade tenha gestão compartilhada do Hospital das Clínicas. O HC vive uma crise histórica permanente…
Antiga…
Antiga, não é nada recente. Lutamos a cada ano para fechar as contas, pagar fornecedores, com muitas dificuldades, temos uma dívida que é impagável.
Quanto?
Hoje da ordem de R$ 11 milhões. E o recurso que recebemos do SUS pelo serviço que prestamos é insuficiente para pagar essa dívida. Na verdade são insuficientes para comprar insumos e medicamentos necessários para o correto e adequado atendimento da população. Essa situação se repete a cada ano. Vivemos essa crise permanentemente. Financeira e de pessoal. Temos um quadro de servidores insuficiente no atendimento à população. O que fizemos ao longo dos últimos anos, nas últimas décadas, para sanar essa dificuldade foi fazer contratação, que segundo o TCU é irregular, de trabalhadores pela Fundação de Apoio ao HC, para suprir a carência de pessoal. Hoje esse quadro alcança 500 funcionários…
E os servidores efetivos?
Temos 1.000 servidores públicos e 500 contratados pela Fundahc. O grande problema é que para pagamento desses terceirizados temos que retirar recursos do SUS. Então o recurso que já era insuficiente, se torna mais insuficiente. Da ordem de 70% vai para pagamento dos terceirizados da Fundahc.
E a realidade muda com o convênio?
Sim, porque a empresa vai contratar esses trabalhadores. De forma totalmente legal. Porque serão selecionados por meio de concurso público e a empresa pagará os trabalhadores. Então o recurso que a universidade arrecada e continuará arrecadando pelos serviços prestados ao SUS será dedicado integralmente à questão dos medicamentos, insumos, melhorias, reformas, para fornecer melhor atendimento à população.
Os trabalhadores argumentavam que o convênio levará o HC à privatização…
Isso absolutamente não corresponde à realidade. O hospital não será privatizado porque todo financiamento será público. 100% recursos do Tesouro. 100% do atendimento será via SUS. Não terá outra porta de entrada. Então, não tem absolutamente nada de privatização.
E a obra de ampliação do Hospital das Clínicas? Tem previsão de entrega?
Essa é a grande obra que temos hoje na universidade. Um edifício de 20 andares que vai agregar um total de 600 leitos ao nosso hospital.
Será de grande porte?
Será o maior hospital da região Centro-Oeste, o maior e melhor, não tenho dúvida disso. Já lançamos a última laje, estamos finalizando um heliporto no teto da edificação e a previsão é que nos próximos dois anos a gente consiga concluir essa obra. É uma obra, claro, muito complexa, muito grande. E não apenas obra física, alvenaria, instalações elétricas e hidráulicas. Após essa etapa, difícil e complexa, teremos que equipar esse hospital.
Qual o custo total?
Para a obra física é da ordem de R$ 80 milhões. E para equipamentos, outro tanto. Queria ressaltar que a obra foi construída até o ano passado quase que exclusivamente com recursos de membros da bancada de parlamentares goianos. Eles garantiram a continuidade e continuam mantendo com emendas de bancada. Mas a partir do ano passado, o governo também, dentro doRehuf (Programa Nacional de Reestruturação de Hospitais Universitários Federais), destinou R$ 20 milhões para concluir essa grande obra.
Há um ano na reitoria da UFG se pudesse fazer apenas um pedido ao Mec ou ‘Ciência e Tecnologia’, qual faria?
A questão mais emergencial hoje no funcionamento da universidade é a sua estruturação nos vários campi. Somos uma universidade multicampi. Obviamente temos presença muito forte em Goiânia, sede da universidade, mas temos presença cada vez mais forte em Catalão e Jataí. O campus da Cidade de Goiás é um pouco menor e o de Aparecida de Goiânia se iniciou agora em 2014. Mas para que essa estrutura funcione de forma adequada precisamos de condições mais adequadas. De pessoal técnico-administrativo e, sobretudo, em funções gratificadas. Porque esses dois campi, Catalão e Jataí, têm porte de algumas pequenas universidades brasileiras.
Poderiam ser universidades…
Poderiam já pleitear o status de universidades independentes. E funcionam em condições muito difíceis de pessoal técnico-administrativo e número de funções gratificadas. Professores, coordenadores de cursos, programas de graduação. Então o pedido que faria é que o ministro desse um pouco mais de atenção à essa nova universidade, esse novo perfil da UFG e de outras universidades também, que se tornaram multicampi. A universidade hoje é essencialmente diferente daquela quetínhamos há alguns anos. A presença de forma ramificada no estado exige estrutura diferenciada. É um pleito que já fizemos ao ministro anterior e fareiao novo ministro também
E como ficam os planos de levar a UFG para Cidade Ocidental e Porangatu?
O campus de Cidade Ocidental já está pactuado. Não iniciamos nossas atividades pelo simples fato de não termos local, mesmo que de forma temporária. Como fizemos em Aparecida, onde iniciamos atividades em 2014 e vamos ampliar agora em 2015, utilizando instalações da UEG, que de forma solidária nos cedeu parte do seu edifício. Vamos iniciar a construção do primeiro prédio no terreno próprio da universidade em Aparecida. Em Cidade Ocidental não tivemos a mesma sorte, por isso o atraso…
No Norte?
Em Porangatu, esse é um antigo sonho da universidade, a presença no Norte do Estado. Tivemos um pleito, duas ou três reuniões com representantes da cidade, prefeito, sociedade civil e em negociações com o ministro ele nos acenou positivamente com a abertura desse campus. Mas dado o período que aconteceu, eleições, não foi concretizado. Mas o pleito está colocado e temos expectativa de criarmos sim um campus em Porangatu também. (apoio: Júnior Bueno)
Fonte: Jornal O Hoje (Orlando Afonso Valle do Amaral para o O HOJE De Frente Com o Poder)