Chove 60% menos no primeiro bimestre e Goiás se prepara para a escassez de água

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Precipitações nos meses de janeiro e fevereiro são inferiores às dos anos anteriores e vazão do Meia Ponte atinge níveis preocupantes

Os moradores de Goiás já podem começar a fechar as torneiras, tomar banhos mais rápidos e adotar métodos de reaproveitamento de água. Apesar das chuvas dos últimos dias, no primeiro bimestre São Pedro foi avarento e o resultado pode ser a falta d’água no período seco – que começa em abril e tende a se agravar até setembro.

Segundo dados do Sistema de Meteorologia e Hidrologia de Goiás, o volume de chuva foi apenas 60% do esperado. O gerente do sistema de meteorologia do Estado, André Amorim, relata que em janeiro, o volume de chuvas foi de 143,2 milímetros, quando a média é de 247,8 milímetros. Em fevereiro, o volume foi de 195,2 milímetros – a média é de 222,9. “Se somarmos o déficit de precipitação acumulada, temos o valor de 132,3 milímetros”, diz Amorim.

A Saneago aponta outro problema. Além do volume de chuva nos dois primeiros meses do ano ter sido menor, ele foi de baixa qualidade. Ou seja: segundo a estatal, as chuvas foram concentradas em períodos curtos, não favorecendo a infiltração.

Dessa forma, não ocorre o reabastecimento adequado do lençol freático. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustetável (Semad), a capacidade de infiltração de água da bacia do Alto Meia Ponte é muito baixa e, com isso, grande parte da precipitação não é refletida em manutenção das vazões

O regime raquítico de chuvas no primeiro bimestre piora uma situação que se arrasta há pelo menos quatro anos. Segundo André Amorim, há um déficit acumulado de 752 milímetros de chuva nesse período. Dessa forma, de acordo com a Saneago, diminui-se a disponibilidade de água nos mananciais, em função do prejuízo nos mecanismos de recarga.

O cenário é preocupante. Desde 2015, o ciclo de chuvas em Goiás tem diminuído constantemente. Em 2018, o primeiro semestre teve os menores registros de precipitação pluviométrica desde 1994. Os números do primeiro bimestre de 2019 apontam para a possibilidade de que a situação fique ainda pior.

Contingência
Diante dos dados disponíveis até agora, as autoridades do setor, os organismos colegiados e o setor produtivo já se mobilizam no sentido de se preparar um plano de contingência – a exemplo do modelo adotado em 2018, quando os efeitos da seca foram menos graves que os sentidos na crise hídrica de 2017. Vários encontros foram feitos, um deles, na quinta-feira, 14.

A maior preocupação é com a Bacia do Rio Meia Ponte, a mais importante do Estado, por abastecer aproximadamente 50% da população, distribuídas em 39 municípios. Em janeiro, a vazão do rio no ponto de capitação da Saneago foi menor em todos os dias do mês, no comparativo com o mesmo período do ano passado. No dia 26 de janeiro de 2018, por exemplo, a vazão foi de 20,5 metros cúbicos por segundo; em 2019, foi de 5,51 metros cúbicos por segundo na mesma data.

De acordo com o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte, Fábio Camargo, a situação é a pior da história. “Pior que 2017”, diz, lembrando da crise de abastecimento daquele ano, quando faltou água em vários municípios por períodos prolongados.

Segundo Camargo, se as projeções se confirmarem, será necessário tomar medidas mais rigorosas que as de 2018, quando o Comitê – composto pelo governo, Saneago, usuários como Celg, Federação da Agricultura e Pecuária (Faeg), Federação da Indústria (Fieg) e sociedade civil – tentou evitar que o colapso se repetisse.

Na oportunidade, foram criados níveis para atuação na bacia, que iam de alerta (menos de 10 mil litros por segundo) a crítico 3 (menor ou igual a 6 mil litros por segundo). Para cada nível, o Comitê definiu um tipo de providência: da realização de campanhas de conscientização à suspensão dos volumes outorgados.

Além disso, a emissão de novas autorizações para uso de água foram suspensas. No pior momento da estiagem, a outorga de uso foi fixada em 50% da quantidade autorizada. A medida vigorou de junho a dezembro, quando as chuvas se intensificaram.

Paralelamente, a Saneago instalou medidores eletrônicos do nível de água nos pontos de captação. A extinta Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima), hoje Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), intensificou o combate ao uso irregular. De acordo com o ex-secretário Hwaskar Fagundes, na época a fiscalização encontrou vários pontos de captação irregular de água ao longo da Bacia do Meia Ponte.

Com a quantidade menor de chuvas este ano, a vazão do Meia Ponte chegou a apenas 4 mil litros por segundo em alguns dias, mesmo estando ainda fora do período de estiagem. Por isso, Camargo propõe que os limites para atuação sejam ainda mais rigorosos. É o que tem sido discutido nas reuniões dos grupos técnicos.

Principal uso do Meia Ponte  é para abastecimento urbano

O principal uso da Bacia do Meia Ponte, cerca de 80%, é para o abastecimento urbano, por meio da Saneago. A empresa diz que monitora diariamente os mananciais e envia os relatórios para a Semad. A secretaria, por sua vez, informou, ao Jornal Opção, que o comitê trabalha na definição dos níveis de atuação na bacia (vazões críticas), aos moldes do que foi realizado no ano passado, só que contemplando o prognóstico mais desfavorável deste ano.

A expectativa é que o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, divulgue nos próximos dias quais serão as providências para que não falte água na torneira dos goianos – ou que essa falta tenha o menor impacto possível.

Fonte: Jornal Opção