Goiânia: Sustentabilidade avança pouco
Especialistas dizem que não há mudanças na capital em questões como sustentabilidade e mobilidade.
Eleito em 2012 com os votos 349.355 goianienses, o prefeito Paulo Garcia (PT) assumiu seu segundo mandato há pouco mais de um ano com o compromisso de fazer de Goiânia uma cidade sustentável, mas quase nada avançou desde então. O termo que deu nome à sua coligação nas eleições municipais traz consigo um amplo que, no caso da capital, ganharam prioridade questões como mobilidade e acessibilidade. No entanto, segundo especialistas, pouco foi feito nos últimos 12 meses.
Definido como mote principal de sua campanha, a sustentabilidade foi abordada pelo POPULAR no dia de sua posse, em 1° de janeiro de 2013, como o principal desafio para a nova gestão municipal. Na época, arquitetos e urbanistas defendiam que, além de vontade e força política, a transformação de Goiânia demandaria planejamento e uma consequente ruptura com problemas que persistem nossa capital. Procurados novamente, eles afirmam que o quadro se mantém e não há perspectivas para mudanças significativas.
Enquanto a maior parte das promessas de governo que ajudaram Paulo a se reeleger ainda não deslanchou (veja quadro), problemas graves da cidade como a qualidade do transporte coletivo não caminham para uma solução. Paralelamente, questões como o maior adensamento de algumas regiões, como prevê o projeto de lei que desafeta áreas públicas, a maioria delas na região do Paço Municipal, e os crescentes alagamentos como resultados das chuvas também preocupam especialistas.
Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) em Goiás, Eurípedes Monteiro questiona o fato de a Prefeitura de Goiânia buscar exemplos ao redor do mundo e não colocar em prática ideias que possam resolver, de fato, o problema da capital.
“A Prefeitura tem procurado se informar a respeito de exemplos que deram certo ao redor do mundo, o que é importante, mas não tem feito nada aqui. Foram, viram e acharam bonito. E nós, nada?”, questiona.
Segundo ele, o Paço deu poucos passos em direção à sustentabilidade em 2013 e, ao mesmo tempo, tomou decisões erradas nas poucas tentativas de solucionar problemas crônicos em Goiânia.
Ele cita como exemplos, os corredores de transporte coletivo, já existentes nas Avenidas Universitária e T-63, com faixa exclusiva para ônibus e implantação de ciclovia. Para ele, as obras têm falhas graves, como a implantação de pistas para bicicletas paralelas às faixas dedicadas aos ônibus.
“Com o mínimo de planejamento, percebe-se que as bicicletas deveriam ser utilizadas como meio para a ligação dos corredores, sem concorrer com eles, com a implantação de bicicletários, para a integração com o transporte coletivo”, critica.
Para Eurípedes Monteiro, as intervenções sugeridas até agora só “melhorarão um pouquinho”. “Vai ficar mais bonito”, completa.
Falta de recursos dificulta, diz secretário
Responsável por coordenar as ações da Prefeitura de Goiânia que visam a sustentabilidade, o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável, Nelcivone Melo, defende que a ausência de resultados no primeiro ano da atual gestão tem origem em duas questões: falta de recursos e planejamento a longo prazo.
De acordo com o secretário, o primeiro ponto a ser levado em conta é o tempo demandado para que grandes mudanças sejam feitas em uma cidade do porte de Goiânia. “Essa transformação é uma tarefa para muitas gestões. Em quatro anos não se pode transformar uma cidade. Estamos com uma visão a longo prazo e o importante é seguir um caminho que está certo”, argumenta.
Apesar de afirmar que está mantida a tarefa de cumprir “integralmente o plano de governo”, Nelcivone Melo também argumenta que “todas as prefeituras vivem dificuldades financeiras”.
“Existem o custeio da máquina e as verbas carimbadas. Na Prefeitura, só 5% pode ser investido. É muito pouco perto do que é necessário. Você precisa tentar fazer mais com menos e trabalhar da maneira mais enxuta possível. Tudo isso é fácil de falar e muito difícil de fazer”, reconhece.
Nelcivone também nega a ausência de planejamento por parte do Paço Municipal. “Não é falta de planejar, o que existe é falta de capacidade de execução”, finaliza o secretário.
Arquiteto cobra mais planejamento
Ao analisar que a cidade tem se tornado “mais difícil” com o agravamento de problemas acumulados de outras gestões, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) de Goiás, John Mivaldo, afirma que a falta de planejamento faz com que a Prefeitura de Goiânia aproveite mal os recursos que tem para investir em ações de sustentabilidade.
“Foi um ano complicado. A cidade se tornou mais difícil com o agravamento de problemas antigos, que não necessariamente são dessa gestão. As obras importantes quase não saíram e, quando saíram, foi com qualidade questionável”, diz ele, citando o túnel da Avenida Araguaia e o Corredor Universitário, obra finalizada antes das eleições de 2012.
O presidente do CAU explica que, além de problemas físicos, as intervenções feitas em Goiânia apresentam baixa qualidade na hora de resolver os problemas da cidade. “Falta planejamento, um plano de mobilidade. É preciso consultar a população para saber onde é necessário uma ciclovia ou um corredor e não construí-la onde os especuladores querem”, diz o arquiteto.
“Uma prova disso é que, depois de gastar muito dinheiro na ciclovia da Avenida Universitária, praticamente não se vê a população a utilizando”, continua. Para Mivaldo, o “dinheiro está muito solto, mal aplicado”. “É uma crítica não só à Prefeitura, mas aos governos estadual e federal também. Todos passam por isso”, completa.
Fonte: Jornal O Popular