Boto Goiano: Boto do Araguaia é espécie nova
Cientistas descobrem diferenças morfológicas com animal que habita rios da Amazônia.
Uma descoberta científica aumenta a responsabilidade dos goianos na preservação do Rio Araguaia. Pesquisadores concluíram que o manancial abriga uma espécie única de boto, batizada de Inia araguaiensis, em homenagem ao rio. Até recentemente, os cientistas pensavam que o boto do Araguaia era da espécie Inia geoffrensis, a mesma que ocorre na Amazônia. Mas estudos detalhados apontaram diferenças morfológicas e genéticas entre os mamíferos de água doce. O trabalho, realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) foi apresentado em artigo publicado na revista especializada Plos One.
“A gente concluiu que eles representam espécies diferentes. Acho que vai gerar uma discussão e pessoas virão testar e fazer outras análises, mas isso faz parte do processo científico”, diz o pesquisador Tomas Hrbek, um dos responsáveis pelo artigo.
De acordo com Hrbek, as diferenças morfológicas são sutis, restritas ao número de dentes e ao tamanho crânio, menores que os dos outros familiares do gênero. Mas estudos do DNA das duas populações apontaram uma grande diferença genética. “É um exemplo de que não conhecemos a nossa biodiversidade muito bem. Existem muitas espécies a serem estudadas e descobertas”, resume Hrbek.
A descoberta é gênero desde 1918 e mostrou que o Inia araguaiaensis só se acasala entre indivíduos da mesma espécie. Também responsável pelo estudo, a pesquisadora Vera Maria Ferreira da Silva explica que os animais habitam águas dos Rios Araguaia e Tocantins, mas são encontrados em maior número no primeiro.
“Os Estados de Goiás e do Tocantins têm uma grande responsabilidade na conservação da espécie. Temos uma obrigação moral de proteger esse boto, que é único. Se ele desaparecer desses rios, desaparece do mundo”, diz Silva.
Entre os principais inimigos do boto goiano, a pesquisadora aponta a construção e projetos de hidrelétricas. Segundo Silva, o grande número de hidrelétricas no Tocantins pode explicar a menor incidência do animal na região.
A pesca esportiva e o turismo desordenado nas águas do Araguaia também ameaçam a espécie. “Os pescadores não gostam dos botos, porque eles atacam os cardumes. A maior parte dos animais mortos que encontramos tinha marca de tiros. Também acontece de pilotos de motos aquáticas atingirem a cabeça dos animais, causando a morte”, relata a pesquisadora.
Descoberta vem à tona sob ameaça de extinção
Os pesquisadores suspeitam que a nova espécie de boto tenha vindo à tona já sob risco de extinção. As estimativas da população no Araguaia variam de 500 até 1 mil indivíduos, em diferentes estudos.
“Indepentemente de qual contagem esteja certa, é muito pouco”, diz o pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Tomas Hrbek. Segundo ele, o gênero Inia não conta como ameaçado de extinção na lista da União Intercional para Conservação da Natureza (IUCN), mas está classificado como deficiente de dados, “basicamente dizendo que a gente não tem informação científica suficiente para determinar se a espécie está ameaçada ou não”.
O professor explica, no entanto, que de acordo com a norma internacional da própria IUCN, espécie com menos de 10 mil indivíduos são classificadas como vulneráveis. De acordo com o pesquisador, novos trabalhos de contagem da população são imprescindíveis.
Doutor em ecologia e professor da Universidade Federal de Goiás, Daniel Brito concorda que a descoberta ascende uma luz vermelha para o boto. “A gente achava que a espécie, como um todo, estava bem distribuída, do Rio Amazonas até o Araguaia. A pesquisa mostra que, do ponto de vista científico, ainda falta um longo caminho a ser trilhado, que passa pela conservação.”
Fonte: Jornal O Popular