Goiânia, a capital dos veículos

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Município é primeiro entre capitais brasileiras em índice de habitantes por carros, com 1,23. Carros formam filas na Avenida 136, no Setor Marista: especialistas apontam falta de regulamentação no trânsito

O trânsito de Goiânia é como uma sala já superlotada que a cada dia, nestes últimos doze meses, recebeu mais 81 veículos, chegando a 1,14 milhão de automotores registrados. A relação é de que existe hoje 1,23 habitante por veículo, número que a torna a primeira entre as capitais brasileiras, passando à frente de Curitiba (PR), com 1,32, em maio deste ano.

Em relação apenas a automóveis, a capital é a quarta do Brasil, mesma colocação em relação às motos. Isso ocorre mesmo com a desaceleração do crescimento da frota. Em 2014, eram registrados 220 veículos por dia em Goiânia. A redução ocasionada pela crise econômica e pelo desincentivo fiscal, no entanto, não melhorou o tráfego.

O diretor de automóveis do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Goiás (Sincodive-GO), Orlando Júnior, explica que a desaceleração na venda de veículos novos em Goiânia de fato ocorreu pela junção do fim da redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) em dezembro de 2014 com a atual recessão econômica. No entanto, isso tem reflexo apenas no mercado de veículos e não chega às ruas porque as pessoas não deixaram de usar os automóveis.

Orlando Júnior acredita que se trata de uma mudança de comportamento na hora de trocar de veículos. Com a crise econômica, as pessoas deixam de comprar carros novos e ficam mais um período com o veículo antigo ou preferem adquirir outro, seminovo. O resultado é que a frota fica mais antiga. Segundo o Detran-GO, atualmente ela tem mais carros dos anos de 2011 e 2012.

Para a engenheira civil especialista em Trânsito, Erika Cristine Kneib, há uma diferença entre posse e uso de carros. “No Brasil existe esse reflexo entre número de carros e trânsito porque não há racionalização no uso”, diz. Segundo ela, locais com alto número de carros e excelente índice de mobilidade conseguem esse resultado ao organizar o tráfego e ao usar os veículos particulares como financiadores do transporte coletivo.

“Há iniciativas como a cobrança dos estacionamentos e os pedágios urbanos. É possível ter um trânsito sem congestionamentos mesmo com esse número de carros”, diz. A posição é a mesma do professor de Engenharia de Trânsito do Instituto Federal de Goiás (IFG), Marcos Rothen, que considera o trânsito de Goiânia caótico pela falta de regulamentação.

A explicação de Rothen é que há falhas na fiscalização, em que motoristas sabem que podem cometer irregularidades sem a devida punição. “São Paulo é congestionado pelo número de veículos, mas é organizado, todos em filas. Aqui é o caos”, argumenta.

Kneib diz que o problema de mobilidade seria solucionado se houvesse desincentivo ao uso do veículo ou mesmo proibição para usá-lo em algumas áreas ou horários e dias. Ao mesmo tempo, é necessário incentivar o transporte coletivo, melhorando sua qualidade e conforto para que as pessoas se tornem usuárias.

Fonte: Jornal O Popular