Fechado há um ano, Parque Ecológico está Abandonado
Márcio FernandesO Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco (Peamp) se encontra abandonado às margens da rodovia BR-060. Fechada à visitação pública há mais de um ano, a unidade de conservação ambiental de 4.123 hectares guarda, conforme inventário ecológico, imensa biodiversidade composta por 491 espécies da flora, 183 de aves, 54 de anfíbios e répteis, 59 de mamíferos, 49 da ictiofauna (peixes), milhares de invertebrados (insetos) e alguns “elefantes brancos” em estado leve de deterioração.
Ao todo são 12 edificações inutilizadas, sendo 9 de 25 metros quadrados, além de uma construção destinada ao funcionamento de lanchonete, instalações sanitárias e um auditório, complexo anunciado na placa de inauguração, datada de 21 de setembro de 2004, como Estação de Ciência, Cultura e Turismo. O maior das estruturas físicas do Parque atende pelo nome de “Morcegão”.
Trata-se de um prédio de cerca de 800 metros quadrados onde está inscrito que seria o Centro de Atendimento ao Turista. Na verdade não atende a tal finalidade e funciona como depósito de madeira apreendida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), responsável pela administração da reserva ambiental. De visitante mesmo aparecem por lá só cobras, lagartos, insetos e quatis, entre outros bichos.
O titular da pasta, Roberto Freire, não reconhece a situação de abandono do Parque, apenas admite que, devido ao fechamento da unidade de conservação para a formação do reservatório da Barragem do João Leite, os equipamentos disponíveis estão em desuso. “Estamos em negociação avançada com Furnas – empresa que deve ao Estado de Goiás recursos a título de compensação ambiental por conta da exploração de energia elétrica – para a transferência de um montante suficiente para reabilitar o Parque à visitação pública”, avisa o secretário.
Roberto Freire adianta também que, ainda neste mês, o Governo de Goiás vai assinar convênio com o Banco Mundial no valor de US$ 3 milhões (cerca de R$ 5,2 milhões) para investir nas reservas ambientais do Estado. “Parte dos recursos será destinada a converter o conhecido ‘Morcegão’ no Centro de Pesquisa do Cerrado (CPC). Vamos dar função científica àquele espaço e criar um centro de referência de estudo do Cerrado”, explica Freire. Na sede da administração do Parque, onde quatro funcionários da Semarh estão escalados para dar expediente de 8 horas diárias, há uma maquete do CPC.
A unidade de conservação foi criada em 1992 com o objetivo de “proteger os últimos vestígios de vegetação caracterizada como floresta estacional ou mata seca do Estado de Goiás.” À ocasião foi dada ao Parque o nome do saudoso deputado paulista Ulisses Guimarães. Na reserva de floresta frondosa existem espécies da flora ameaçadas como o cedro e a aroeira. Durante a estação seca, a vegetação local é colorida por vários tipos de ipês, especialmente o amarelo. Exuberante e bela, na mata moram a sussuarana, o sapo-cururu, o urubu-rei, o lobo-guará, o cateto e a temível cascavel.
Hoje toda essa biodiversidade se encontra praticamente à própria sorte, uma vez que o destacamento do Batalhão Ambiental da Polícia Militar, composto por quatro homens, pouco pode fazer para conter os invasores do Parque, principalmente os que vão caçar pacas e capivaras, por falta de infraestrutura logística. Os militares contam com viaturas suficientes, o problema é a falta de vias terrestres de acesso ao interior da unidade de conservação.
Mato e reservatório impedem fiscalização
A reserva de cerrado se localiza no território de quatro municípios (Goiânia, Nerópolis, Terezópolis e Goianápolis) e é dividida em duas áreas pela rodovia BR-060. No setor leste do Parque, o reservatório da Barragem do Ribeirão João Leite, cuja cota máxima vai alcançar 1.040 hectares, inundou as vias de acesso e hoje para patrulhar essa parte da unidade de conservação os militares têm de se deslocar mais de 35 quilômetros em direção a Terezópolis ou Nerópolis.
De acordo com o sargento Batista, comandante da guarnição, para realizar com eficiência o trabalho o Batalhão Ambiental necessitaria de equipamentos de navegação. O militar adiantou que “ouviu dizer” que a empresa Saneamento de Goiás S/A (Saneago), responsável pela barragem, prometeu o fornecimento de barcos movidos a energia elétrica para que o patrulhamento seja efetuado.
O comandante reconhece que o reservatório tem atraído muitos curiosos e até pescadores com rede já foram advertidos a deixar o local onde é vedada qualquer atividade de recreação, pesca ou navegação.
Não existe nenhuma sinalização no Parque com a finalidade de informar a proibição. A Assessoria de Imprensa da Saneago garantiu que o contrato para a construção da cerca em volta do reservatório já foi assinado e que as obras devem começar de imediato. Na parte oeste da reserva, o que impede o acesso dos militares não é a água, mas o próprio mato que tomou conta das estradas que antes permitiam o ingresso das viaturas. A famosa Trilha da Onça, da Cachoeirinha e a estrada que ligava a rodovia ao sítio arqueológico desapareceram no matagal de aproximadamente dois metros de altura.
Penetrar nestes antigos caminhos se tornou missão para empedernidos aventureiros da natureza. Sobre o impacto causado pelo reservatório, a Assessoria de Imprensa da Saneago, afirmou que a empresa desenvolve 34 projetos ambientais no parque e que será construída estrada em volta da lâmina d'água para permitir maior eficiência da fiscalização. O titular da Semarh acrescentou que foi formado um consórcio intermunicipal entre as cidades que alojam a sub-bacia do Ribeirão João Leite que irá ampliar a rede de monitoramento do Parque.
A respeito do matagal que indica o abandono da parte oeste da unidade ambiental, o secretário ponderou que não se trata de desleixo do poder público, mas de uma medida estratégica de manejo que se tornou necessária para minimizar o estresse causado à fauna durante a formação do reservatório quando houve desmatamento para acomodar a lâmina d'água
Fonte: Jornal o Hoje
2 comentários
Write comentáriosÉ lamentável! Como aventureiro e amante da natureza, praticante de canoagem, remador de caiaque, sint-me extremamente decepcionado com essa situação! O parque deveria ser uma opção de lazer e busca pelo ar puro da natureza, deveria proporcionar bem estar aos cidadãos goianos, e não o que se vê! Infelizmente nada parece estar sendo feito para reverter esse quadro. Fico mais uma vez decepcionado em saber que a Barragem do João Leite não servirá nem mesmo para navegação a remo! Absurdo! Se esse lago não servirá para proporcionar lazer e bem estar ao povo, então não tem nenhum sentido essa obra! Deixo meu registro de protesto!
Replyisso é uma merda, visto que Goiânia já não tem nada... : p ..triste!
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