Proposta pode acabar com resto do Cerrado em GO

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Ambientalistas temem pela preservação dos poucos mais 34% das áreas nativas remanescentes do bioma

Após um longo processo de embate entre ruralistas e ambientalistas, a votação do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) de Pouso Alto foi paralisada no último dia 25 em Brasília por mobilização civil. A causa ganhou o apoio do Ministério de Minas e Energia na semana passada, conforme conta Bruno Mello, representante do grupo Mais Cerrado, organização não governamental (ONG) responsável pela frente “S.O.S. Chapada dos Veadeiros” contra a implantação da proposta com as atuais diretrizes. Entre os pontos criticados pelos ativistas, está a permissão de exploração de atividades prejudiciais ao meio ambiente, como mineração, agricultura de transgênicos e a construção de hidrelétricas.

Segundo ambientalistas, o bioma cerrado é responsável pelo abastecimento de seis dos oito aquíferos principais do país, incluindo o Guarani que abastece as regiões Sul e Sudeste. A bacia Araguaia-Tocantins, responsável pelos afluentes do Rio Amazonas, também depende das águas do cerrado.

Áreas nativas
Segundo cálculos do Instituto Nacional de Pesquisa (INPE), em 1988 restavam apenas 34,22% das áreas nativas remanescentes do Cerrado. Para estudiosos, a destruição do Cerrado é irreversível, apesar de ser o segundo maior bioma brasileiro, porque este consiste na composição biológica mais antiga da face da Terra e exige um prazo de 500 anos para se reflorestar. Por ser um ecossistema intrincado, com a integração de vários elementos para a progressão natural da vida, há estudiosos que defendam que o tipo de bioma cerrado já atingiu o clímax evolutivo, sendo portanto, irreparável a sua destruição.

Cerrado em Goiás
Com uma área de superior a dois milhões de quilômetros quadrados, o cerrado brasileiro estende-se por oito estados, sendo que Goiás é a única unidade da federação totalmente imersa no ecossistema. O bioma, com altos índices de biodiversidade e endemismo, sofre grande pressão pelo avanço da fronteira agrícola, principalmente em estados de vocação agrícola como o nosso.
Criada pelo decreto número 5.419, de maio de 2001, a APA de Pouso Alto, com uma área de 872 mil hectares, envolve seis municípios: Alto Paraíso, Colinas do Sul, São João d’Aliança, Cavalcante, Teresina de Goiás e Nova Roma. Hoje, 85% da área possui vegetação preservada, segundo a Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). A área possui cerca de 1.200 famílias, entre elas remanescente dos quilombos – os Kalunga – e os índios Avá-canoeiros.
No ano passado, a antiga Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), convocou o Conselho Consultivo da APA de Pouso Alto (Conapa) para apresentar o plano de manejo da região. A ONG Mais Cerrado critica a legitimidade de tal conselho, que seria composto em sua maioria por representantes dos ruralistas, conforme explica o ambientalista e membro do Conapa, Marcus Saboya. “Eles estão com esmagadora maioria e têm influência política”, critica.

Ambientalistas temem atividades agrícolas


A substituição da vegetação nativa do Cerrado por áreas destinadas às atividades agrícolas “tem causado intensas mudanças nos processos hidrológicos”, afirma Paulo Tarso Sanches Oliveira, doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento. Nos últimos anos o pesquisador tem estudado as mudanças ocasionadas no solo e no ciclo hidrológico do bioma, que abrange dez das 12 grandes regiões hidrográficas brasileiras. “Essas mudanças no balanço hídrico e erosão do solo são ainda pouco entendidas, apesar de fundamentais na tomada de decisão de uso e manejo do solo nesta região. Portanto, torna-se necessário compreender a magnitude dessas mudanças em escalas locais, regionais e continentais e suas consequências”, pontua.

Estudo
Se contrapondo ao posicionamento de ambientalistas, a Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), explica que o estudo apresentado no Plano de Manejo proposto para a APA de Pouso Alto mostra que o uso agropecuário é de apenas 15,54% da área total da área de preservação e 85% da área é de formações campestres e florestais. “Portanto, a produção agrícola na APA é apenas na pequena porção que apresenta esse potencial e o mais importante, segue todos os estudos técnicos de impacto ambiental”, explica Jordana Sara, engenheira agrônoma e consultora técnica da Faeg.

Os ambientalistas consideram, porém, a porcentagem alta por se trata de uma área de relevo com grande potencial ecoturístico e já tombada como patrimônio natural da humanidade.

A pulverização de defensivos agrícola em um raio de até 500 metros das comunidades humanas é outro ponto criticado pela Mais Cerrado. A ONG alega que tanto reservatórios de água, quanto vegetação, animais e pessoas podem ser atingidas pela ação dos agrotóxicos.
A consultora da Faeg argumenta, porém, que a distância é regulamentada na Instrução Normativa do Minis

Fonte: Jornal O Hoje