Obras têm atrasos na execução
Anunciadas com pompa, visitadas frequentemente por comitivas do governo e com inaugurações prometidas para o ano passado, obras de grande porte da gestão estadual registram atrasos de três meses a mais de um ano na execução. O POPULAR apurou o andamento de nove empreendimentos de destaque em Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia e verificou que o governo ainda levará pelo menos mais dois meses para concluir parte deles (veja quadro ao lado).
Quatro obras ficarão para o segundo semestre ou para 2016. Outras quatro serão entregues em maio, de acordo com previsão atualizada da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), responsável por oito dos nove empreendimentos. À exceção de uma obra, todas tiveram acréscimos no preço ao longo da execução. Os aumentos variam de 5% a 184%.
O período chuvoso, adaptações nos projetos e serviços complementares são apontados como justificativa da Agetop para o descumprimento dos prazos. A falta de recursos foi indicada como motivo de atraso de apenas uma obra, o Centro de Convenções de Anápolis, que no momento está totalmente paralisada.
O governo pagou metade do preço total – cerca de R$ 60 milhões –, mas suspendeu o pagamento por problemas orçamentários. Assim, a obra parou há mais de dois meses. Segundo a Agetop, o problema já foi solucionado com suplementação e serão utilizados recursos exclusivos do Fomentar para terminar a execução.
Das obras escolhidas pela reportagem, duas são da área de saúde, quatro de infraestrutura, duas de esporte e lazer e uma do setor de segurança pública. A principal delas, apontada pela Saneago como a maior obra de saneamento em execução no País, o Sistema Produtor Mauro Borges, teve a primeira fase iniciada há 12 anos e ganhou destaque nas campanhas eleitorais tucanas desde então.
A previsão da Saneago era de conclusão em julho do ano passado. Um mês antes, o governador Marconi Perillo (PSDB) vistoriou as obras e garantiu conclusão em outubro. A previsão atualizada da Saneago indica a inauguração para o fim deste ano.
Além de receberem a visita do governador, as obras foram destaque na propaganda eleitoral de Marconi na rádio e na televisão, na candidatura à reeleição, em agosto do ano passado. Com o bordão “Já é de Goiás”, as construções foram apresentadas com promessas de entrega entre setembro e dezembro de 2014.
No caso do Sistema Produtor Mauro Borges, que visa abastecer Goiânia e cidades vizinhas com água tratada até 2045, a Saneago informou à reportagem que os atrasos têm a ver com “adequação do projeto e espera pelo prazo de entrega de materiais” e que não houve falta de recursos. A estatal informou que utiliza equipamentos de tecnologia de ponta, não convencionais e produzidos sob demanda, fornecidos por empresas de várias regiões do País e do exterior.
O contrato já teve 26 aditivos, sendo 18 de aumento de preço. O salto do valor do contrato, de R$ 183 milhões para R$ 331 milhões, é atribuído às diferenças do projeto original. “O projeto foi modernizado e ampliado, prevendo a construção de uma nova Estação de Tratamento de Água e outras melhorias”, explica a empresa. O complexo inclui a Barragem do João Leite, a construção de adutoras e a ETA.
Com aumento de 184% no valor da construção, o Hospital de Urgências da Região Noroeste de Goiânia (Hugo 2), é tido como o segundo principal empreendimento em execução no Estado. Também prometida na campanha eleitoral de 2002, a obra foi iniciada em maio de 2013 e teve a conclusão adiada por três vezes no ano passado. A entrega seria em junho – quando Marconi fez uma “apresentação pública” da construção –, passou para outubro, no aniversário de Goiânia, e depois foi prometida para dezembro.
Em janeiro deste ano, um aditivo ampliou o prazo de entrega em mais cinco meses – ou seja, ficou para junho. A previsão inicial era de R$ 57,3 milhões, mas houve nova licitação para serviços complementares, além de aditivos, o que elevou o valor para R$ 163 milhões. De acordo com a Agetop, resta finalizar o acabamento e adaptações para o prédio receber equipamentos adquiridos.
O atraso no hospital também afeta os 2,3 mil funcionários que vão trabalhar no local, escolhidos em processo seletivo finalizado em agosto do ano passado pela organização social que vai gerir o Hugo 2, a Associação Goiana de Integralização e Reabilitação (Agir). Em outubro, eles chegaram a ser convocados para assinatura dos contratos de trabalho, mas por conta do adiamento da inauguração, foram dispensados. Muitos deixaram os empregos anteriores e até hoje não têm perspectiva de serem contratados.
Também da área de saúde e com OS já contratada (a Luz da Vida), o Centro de Recuperação de Dependentes Químicos (Credeq) tem atraso de mais de um ano. A previsão inicial de entrega da primeira unidade, em Aparecida de Goiânia, era janeiro do ano passado. Projeto de destaque na campanha eleitoral de 2010, apontado por Marconi como obra que seria modelo para o País, o primeiro Credeq só deve ser concluído no fim de maio, segundo o prazo estabelecido no contrato.
Em um vaivém de obras que já dura dez anos, o Centro de Excelência do Esporte, em Goiânia, também tem entrega prevista para maio. O presidente da Agetop, Jayme Rincón, afirma que a demora tem a ver principalmente com adaptações e melhorias no projeto. O empreendimento já teve acréscimo de 170% no preço.
Fonte: Jornal O Popular