Trânsito: Quebra-cabeça difícil de montar
Especialistas criticam falta de planejamento de mudanças em vias, causando transtornos em outras
“Enxuga gelo” e “cobertor curto” são máximas usadas por especialistas em trânsito sobre as mudanças realizadas pela Prefeitura de Goiânia para melhorias no fluxo de veículos. Viadutos, retirada de rotatórias, mudanças de sentido das vias, semáforos e outras intervenções não solucionaram o problema na capital. Na última semana, a reportagem do POPULAR percorreu dez intervenções feitas nos últimos sete anos e as reclamações dos motoristas e comerciantes locais mostram que essas máximas representam a realidade (ver quadro). Em muitos casos, o local do antigo congestionamento até melhorou, mas o fluxo é menor no cruzamento seguinte ou rua paralela.
O professor do Instituto Federal de Goiás (IFG) e especialista em trânsito, Marcos Rothen, avaliou, a pedido da reportagem, os mesmos locais e conferiu que todas se tratam de medidas isoladas, em que não foi levado em conta o arredor das vias e nem mesmo o corredor inteiro. Rothen explica que, ao se tratar de trânsito, os problemas são divididos entre os motoristas e não totalmente solucionados. Ou seja, sempre haverá o prejuízo para alguém. Isso seria melhor aceito se os motoristas prejudicados tivessem opções, como um plano de circulação.
“Tem que analisar todos os movimentos das pessoas. Os motoristas proibidos de fazer algum movimento vão procurar alternativas, vão procurar outras vias que não estão preparadas para recebê-los ou muitas vezes passam a cometer irregularidades.” O viaduto no cruzamento das Avenidas 85 e T-63 seria um exemplo típico de que só se teria estudado o problema local e não a continuidade. Rothen argumenta que os motoristas que saem do Setor Pedro Ludovico para o Setor Bela Vista, por exemplo, formam filas no nível médio da construção.
Há ainda problemas para quem segue na T-63 com os semáforos nos cruzamentos seguintes, assim como na 85. “Em frente à sede do Goiás, na 85, o semáforo fica fechado inutilmente por 8 segundos, que é 10% do tempo, e isso causa congestionamento até depois da trincheira”, diz Rothen. Já a alteração na Praça do Cruzeiro é o exemplo do uso de vias acessórias de forma errônea. “Esse foi um dos maiores absurdos que vi nos últimos tempos. A praça ficou melhor, mas as ruas que se tornaram opções são um tormento para os moradores.”
CAMINHOS
Diretor de Projetos da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT), Sérgio Bittencourt, explica que as modificações feitas na cidade nos últimos anos são uma resposta às necessidades pontuais dos motoristas. “As macro obras são objeto do planejamento urbano e viário, que olha a cidade de cima e temos de nos adequar às vias que existem. Quando algum problema existe, temos de buscar as opções”, diz.
Bittencourt nega que não há um planejamento para os arredores da alteração e argumenta que isto é medido, mas que busca o benefício de uma maioria. No caso da obrigação de sentido único na Rua T-62, no Setor Bueno, houve aumento de tráfego na T-37, já que é a opção de quem quer acessar a T-4. No entanto, explica o diretor, a maior parte dos moradores agora acessam a Avenida 85 sem dar uma volta maior e sem passar pela T-4. O limite, por outro lado, é a malha viária da cidade, em relação ao tamanho das ruas, por exemplo.
Isto ocorre em grande parte dos corredores da capital, em que as ruas paralelas são pequenas e ainda com estacionamento permitido. Ou seja, apenas um carro passa por vez, mesmo que estes sejam os únicos caminhos possíveis. Por isso há acúmulo de tráfego na Rua 107, no Setor Sul, pelo fechamento da Praça do Cruzeiro, e também na PL-3, do Setor Pedro Ludovico, desde que o viaduto sobre a Marginal Botafogo, no sentido norte-sul foi inaugurado, já que esta foi a opção dada ao motorista para acessar a Avenida Jamel Cecílio.
O diretor da SMT lembra que a pasta tenta tratar as vias da maneira como elas são usadas, respeitando a hierarquia dada pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável (Semdus), de acordo com o Plano Diretor. “Essas vias são acessórias, com velocidade máxima de 40 quilômetros por hora, porque possuem esses limites e estão dentro dos bairros. Não temos como alargar todas as vias e desapropriar tudo, o jeito é fazer o pontual. Mas também realizamos projetos a longo prazo.”
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Fonte: Jornal O Popular (Vandré Abreu)