Ferrovia Norte-Sul: Trecho goiano não opera este ano

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Os trilhos já foram colocados entre Anápolis e Gurupi (TO), mas deficiências impedem o funcionamento

Ao contrário das últimas previsões da Valec, estatal federal que toca a Ferrovia Norte-Sul, o trecho de 855 quilômetros entre Anápolis e Gurupi (TO) não vai começar a operar no próximo mês. Essa é a avaliação do diretor superintendente do Porto Seco Centro-Oeste, Edson Tavares, ao enumerar uma série de problemas operacionais. Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) também aponta irregularidades, serviços com qualidade deficientes e infraestruturas danificadas.

Embora as obras de colocação dos trilhos entre Anápolis e Gurupi estejam concluídas, faltam sinalizações horizontais e verticais, definir empresas responsáveis pela manutenção e segurança, além da empresa operadora do sistema. “Trilhos foram furtados próximo a Gurupi”, afirma Edson Tavares. Com toda essa problemática, ele descarta qualquer possibilidade de a ferrovia começar a operar em dezembro. O superintendente lembra que há demanda de carga reprimida. “Temos mercadorias do polo atacadista, grãos, combustível e construção civil. É um trecho economicamente viável.”
Ele explica que aguarda somente o início das operações, por exemplo, para colocar em prática o transporte de mercadorias vindas de Manaus (AM). “Estamos em contato com empresas de Manaus e só estamos esperando para começar a operar. A ideia é utilizar parte do sistema ferroviário com o rodoviário.”

A novela envolvendo esse trecho da Norte-Sul continua depois de mais de 27 anos do início da construção. A obra, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), havia sido prometida para dezembro de 2010, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 22 de maio deste ano, a presidente Dilma Rousseff inaugurou a conclusão do trecho de 855 quilômetros que liga Palmas (TO) a Anápolis. Em outubro, ao visitar Goiás, o ministro Paulo Sérgio Passos, garantiu que ela começaria a operar logo nos meses seguintes. Entretanto, a assessoria de imprensa do ministério informou, no mesmo dia, que ela começaria a operar no próximo mês.
CNI

Ampliando os problemas para toda a Ferrovia Norte-Sul, estudo da CNI, baseado em apuração do Tribunal de Contas da União (TCU), aponta irregularidades sistêmicas ocorridas por falta de controle de execução, sem justificação técnica. Entre os efeitos dessas falhas estão impacto nas rodas dos trens, acidentes e até descarrilhamento, deformação dos trilhos em dias quentes e, por redução de pátios de manobras, trens não podem cruzar ao longo de centenas de quilômetros.

Segundo estudo, alguns defeitos ameaçam a integridade da via, como ausência de dispositivos de drenagem e proteção dos taludes que geram assoreamento, erosões e passivos ambientais. Conforme o levantamento, para a entrada efetiva em operação do trecho ferroviário entre Palmas e Estrela d´Oeste (SP), será necessário que todas as irregularidades e defeitos levantados sejam corrigidos. Além disso, a falta de um terceiro trilho no trecho entre Turvelândia, Santa Helena de Goiás e Rio Verde acarreta a impossibilidade de tráfego de bitolas estreitas (que permitem curvas mais fechadas).

Edson Tavares explica que o estudo é fundamental para o andamento e conclusão de toda a obra, mas salienta que a infraestrutura do trecho central está apta a iniciar as operações, dependendo somente de solucionar os problemas mencionados. “A espinha dorsal está pronta. Começamos em fase de testes, a 40 quilômetros por hora, para assentar os trilhos. Acredito que isso poderá ser feito em abril”, afirma.

INTERLIGAÇÕES

O estudo da CNI aponta que, uma vez finalizada, a via induzirá um crescimento no volume de cargas do interior do País para exportação, além da movimentação interna entre regiões. Os principais são soja e derivados, milho, cana-de-açúcar, etanol, açúcar, papel, celulose e minério.

Para isso, a Norte-Sul precisa ser interligada a outras quatro ferrovias para integrar a logística nacional. É necessário concluir a Ferrovia Transnordestina (acesso aos portos de Pecém (CE) e de Suape (PE)), Ferrovia de Integração Oeste-Leste (interior da Bahia a Ilhéus); construir a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Goiás e Mato Grosso), além do prolongamento da Ferrovia Norte-Sul entre Açailândia (MA) e Barcarena (PA).

Fonte: Jornal O Popular (Karina Ribeiro)