Doe órgãos, doe Vida: 3 vidas salvam 15 em Goiânia

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Em captação inédita, três pacientes do Hugo têm órgãos retirados e salvam 15 pessoas que aguardavam na fila de transplantes

Se deparar com a notícia da morte de um ente querido e em meio à tristeza encontrar espaço para ser solidário. Gesto que na terça-feira, 18, no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) três famílias de pacientes da unidade tiveram a nobreza de realizar, doando os órgãos dessas vítimas de morte encefálica. Com a conscientização e autorização dos familiares de três pacientes, dois homens, de 22 e de 50 anos, e uma mulher de 65 anos, foi possível realizar a maior captação de órgãos já feita simultaneamente dentro do Hugo.

Dos 23 órgãos captados pela Central de Transplantes de Goiás, 15 puderam ser retirados para salvar a vida de outras pessoas. Seis rins, seis córneas, dois pulmões e um coração foram transplantados em pacientes dos Estados de Goiás e São Paulo.

Duas equipes do Instituto Nacional do Coração (Incor) e uma equipe de Brasília vieram a Goiânia realizar a cirurgia de captação dos órgãos que não são transplantados em Goiás: coração, pulmão e fígado. O médico Ronaldo Honorato Barros dos Santos, coordenador da equipe responsável pela captação do coração, agradeceu a parceria que o Hugo mantém com a unidade. “Essa doação só está sendo possível porque o hospital manteve o potencial doador em perfeitas condições clínicas para que o órgão fosse preservado e, agora, passe a bater no peito de outra pessoa”, ressaltou o cirurgião que é referência nacional neste tipo de transplante.

A outra equipe paulista, que retirou os pulmões, foi coordenada pelo médico Luís Gustavo Abdalla, que também enalteceu o bom estado de conservação que os órgãos foram mantidos. Do mesmo paciente, que se caracterizou por um múltiplo doador, ainda foram retirados rins e córneas. A atitude da família que perdeu o jovem, de 22 anos de idade, deixa um exemplo de generosidade e altruísmo.

A cirurgia de captação dos demais rins e córneas dos outros dois pacientes foi realizada na sequência e terminou no final da noite, por volta das 22h. Os fígados, que a princípio também beneficiariam quem aguarda na fila de transplantes, não estavam em condições de serem aproveitados. Para que o paciente seja considerado apto para a doação, a manutenção do potencial doador deve ser rigorosa. Medicamentos em dose certa, exames laboratoriais e a correção do seu quadro clínico, são pontos chaves e importantes do processo todo.

Após ser credenciado pelo Ministério da Saúde para este tipo de procedimento na unidade, em seis meses, 20 captações feitas pela Central aconteceram dentro do Hugo. Isso viabiliza a retirada dos órgãos em um prazo menor, garantindo mais chance de sucesso no transplante, além de reduzir o tempo de espera das famílias sensibilizadas, tanto as doadoras, quanto as receptoras.

Abordagem

A partir de maio deste ano, o Hugo passou a fazer parte do Projeto de Núcleo de Captação (NCAP), do Hospital Israelita Albert Einstein. O programa, que funciona desde 2008 na grande São Paulo, se expandiu para Rio de Janeiro, Distrito Federal e Goiás, no início do ano. O Hugo foi escolhido como representante goiano em razão do perfil clínico de seus pacientes.

Por meio da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), coordenada pelo médico Durval Pedroso, em parceria com a Central de Transplantes de Goiás, identifica os potenciais doadores, afim de estimular suporte para fins de doação, junto à equipe médica das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e Emergência do Hugo, locais em que acontecem o maior número de mortes encefálicas na unidade.

Segundo o enfermeiro da CIHDOTT Hugo, Guilherme Ono, a equipe deve fazer o acolhimento familiar, antes, durante e depois da doação, respeitando o luto familiar e resguardando informações dos doadores por, no mínimo, dois anos após o falecimento. “Nós ainda precisamos assegurar que o processo de morte encefálica seja ágil e eficiente, dentro dos parâmetros éticos seguidos pela equipe de captação”, revelou Guilherme.

Todas as etapas de doação de órgãos são amparadas pela ética e por oito legislações federais, mesmo assim, o índice de recusa familiar ainda é muito alto. Em contato direto com as famílias enlutadas, Ono ressalta que os principais motivos que levam à rejeição de doar os órgãos são religiosos; o desejo de enterrarem o corpo íntegro do ente e, ainda, que a vítima, em vida, não teria apresentado intenção de realizar tal ação.

Fonte: DM