Epidemia de dengue em Goiás
Autoridades alertam: casos de dengue em Goiânia aumentaram 439% nas três primeiras semanas de 2010
Lourdes Souza
Uma epidemia de dengue atinge as cidades goianas desde o início do ano. Em 142 municípios foram registrados casos da doença, sendo que em 18 a situação é de alto risco. O último balanço da Secretaria Estadual de Saúde (SES) mostra que 9.141 pessoas tinham contraído a dengue no Estado até o dia 23, sendo que quatro morreram, três na Capital e outro em Aparecida de Goiânia. Outras quatro mortes suspeitas, duas em Goiânia, Nova Veneza e Aragarças, estão em investigação. Ao se comparar as três primeiras semanas deste ano com o mesmo período de 2009, constata-se que as contaminações aumentaram 439,93%.
Mais da metade dos casos estão concentrados em Goiânia e Aparecida de Goiânia, as cidades mais atingidas pela dengue até o momento. Juntos, os dois municípios contabilizam 6.115 pessoas contaminadas e as quatro mortes confirmadas. Goianira é a terceira cidade com mais casos, 457, seguida de Campos Belos com 327 e Senador Canedo, 261.
O avanço nos casos deixa as autoridades de saúde em alerta. Uma operação emergencial contra a doença se iniciou na última segunda-feira, 25, após reunião entre o governador Alcides Rodrigues, secretária estadual de Saúde, Irani Ribeiro, e prefeitos e secretários de Goiânia e região Metropolitana.
Denominada 'Operação de guerra contra a dengue', a ação foi iniciada em Aparecida de Goiânia, que até agora registrou 1.382 contágios da doença, mais que o dobro do ano passado. Na cidade, as equipes visitaram dez bairros, nesta última semana, com o apoio de 77 homens do Exército.
Na quinta e sexta-feira passadas, os esforços foram concentrados no Alto Paraíso, Madre Germana e bairro Cardoso, onde o gerente de Endemias do município, Raimundo Nonato de Miranda, e homens do Exército vistoriam as residências e lotes baldios. Na semana passada, a operação foi intensificada com visitas a dez bairros, entre eles Garavelo, Garavelo Park, Jardim Tropical, Buriti Sereno, Veiga Jardim, Colina Azul, Jardim Tiradentes. Ao todo 14 bairros foram visitados na cidade desde a segunda semana de janeiro.
O gerente de Endemias diz que as ações de combate à dengue foram reforçadas há duas semanas e vão continuar nos próximos dias. Na cidade, os bairros com maiores incidências da doença são Garavelo, com 113 notificações, e Buriti Sereno, 86. Além do apoio de 77 homens no Exército, a cidade recebeu quatros carros de fumacê e um caminhão para coleta de pneus.
Com o apoio do Exército também foi montada uma tenda para acolhimento e reidratação de pacientes no Cais do Garavelo. Na sexta-feira, Vanessa Vaz de Souza e Maria Barbosa foram atendidas no local, onde tomaram soro no período da manhã. O diagnóstico das duas era dengue.
O secretário de saúde de Aparecida, Rafael Nakamura, diz que a estrutura para atendimento foi ampliada para atender os casos de dengue, que lotam os postos de saúde. O plantão passou a contar com mais sete médicos e os laboratórios das unidades de saúde passaram a funcionar 24 horas.
População
O aumento no número de casos de dengue fez com que as autoridades pedissem o apoio da população nas ações preventivas. Durante a reunião com os representantes dos municípios goianos, o governador Alcides Rodrigues, disse que o encontro não foi somente para ampliar as ações de combate, mas sobretudo para conscientizar os cidadãos. Segundo ele, no atual contexto, é importante que cada um faça a sua parte evitando deixar água parada e lixo acumulado em suas residências.
O mesmo apelo foi feito pelo prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, que reforçou que se não houver ajuda da população a tendência é que os casos aumentem. “Só o poder público não dá conta. A participação do Exército brasileiro é um símbolo para mostrar que a situação é de guerra realmente contra a dengue”. Como exemplo, Vilela pediu que todos os poderes começassem a fazer varreduras em suas unidades contra a proliferação do mosquito.
Em relação às ações para atender a população de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela disse que irá dobrar o número das unidades do Programa de Saúde da Família (PSF) e construir duas unidades de pronto atendimento. No momento, tendas e cadeiras de hidratação foram montadas nos postos de saúde para reforçar o atendimento da demanda.
Goiânia
Na Capital, onde até o dia 23 de janeiro foram constatados 4.733 casos de dengue, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) intensificará as ações de combate a partir desta segunda-feira, 1º. Em parceira com a Agência Municipal de Obras (Amob) e Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), a operação fará vistoria em 14 bairros até o próximo sábado, 6.
A escolha dos bairros teve como critério a incidência de notificações. As visitas vão acontecer na Cidade Jardim, Bairro Vitória, Santa Helena, São José, Criméia Leste, Vila João Vaz, Setor União, Morada do Sol, Setor Centro-Oeste, Vera Cruz II, Jardim Ana Lúcia, Setor Sudoeste, Vila Isaura e Jardim Petrópolis. Além das visitas das equipes às residências, haverá também aplicações de larvicidas e fumacê. O recolhimento de lixo e limpezas das bocas de lobos ficarão sob a responsabilidade da Comurg e Amob. Nas últimas duas semanas, as equipes vistoriaram imóveis em 24 bairros de Goiânia.
Mais chuvas, mais mosquitos
A antecipação do período chuvoso no Estado, que começou no final do ano passado, é um dos fatores que favoreceu o aumento no número de casos de dengue. A gerente de Vigilância Epidemiológica da SES, Magna Maria Carvalho, diz que o acúmulo de água nas residências e lotes baldios beneficia a proliferação do mosquito Aedes Aegypti. Mas comenta que as chuvas não são as únicas responsáveis pela alta incidência da doença.
Segundo ela, não existe uma única explicação para a epidemia de dengue e sim vários fatores como o acomodação da população na prevenção e a falta de políticas públicas nas cidades. Magna comenta que em vários municípios do Estado ainda não há acesso à água e as pessoas usam cisterna, que é um local propício para focos da dengue.
Além disso, em Goiás, o vírus 1 voltou a circular neste ano. Agora, três vírus - 1, 2 e 3 - estão em circulação segundo informações da SES. Segundo a gerente de Vigilância Epidemiológica, o retorno do vírus 1 também está entre os fatores que contribuíram para a ampliação nos índices da doença. Ela comenta que este retorno é natural, mas pega um número grande pessoas que não está imune. Quem havia sido contaminado pelo vírus 2, no ano passado, poderá ser contaminado pelo tipo 1 agora. Isso porque quem foi contaminado fica imune. Os casos mais graves acontecem quando há duas contaminações, o que favorece a manifestação da dengue hemorrágica. De acordo com Magna, o vírus, que não está relacionado com os tipos graves de dengue, deve ter retornado a partir de uma contaminação em outra região do país.
A gerente da Vigilância Epidemiológica do Estado diz que o agravamento nos casos de dengue não acontece somente em Goiás. De acordo com ela, outros dois Estados da região Centro-Oeste, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul vivem surtos da doença. Magna diz que a tendência é de que nos próximos 15 dias os casos de dengue comecem a regredir. A intensificação das ações, segundo ela, deve favorecer a ampliação do combate à doença.
Para o atendimento da população, houve a contratação de profissionais e o aumento nos estoques de medicamentos, como paracetamol e soluções de sais para a rehidratação que foram enviados pelo Ministério da Saúde, na última semana. Segundo ela, os casos de dengue devem ser tratados, inicialmente, nas unidades da rede básica. A estrutura do Hospital de Doenças Tropicais (HDT) e Hospital Geral de Goiânia (HGG) – unidades de referência – foram ampliadas para atender pacientes com quadros graves. O HGG reservou 20 leitos para suporte ao HDT, o único hospital de referência para a doença em Goiás.
Interior
As cidades do interior concentram as maiores incidências proporcionais ao número de habitantes. Barro Alto lidera este ranking com 129 contaminações, entre 1º e 23 de janeiro, para uma população de 6.676 pessoas. Na mesma situação estão outros 17 municípios – Goianira, Campos Belos, Ceres, Nova Glória, Nazário, Crixás, Serranópolis, Doverlândia, Santa Terezinha de Goiás, Santa Bárbara, Iporá, Hidrolândia, Rialma, Pontalina, Senador Canedo, Aragarças e Nova Crixás. Em Goiânia, Aparecida e em outras 44 cidades, o nível de incidência é classificada como médio risco, quando se compara os níveis de casos com o número da população. Ao todo, 142 municípios possuem casos de dengue registrados e os outros 104 ainda estão com um quadro silencioso.
Saiba mais
Como prevenir
* Cobrir qualquer local em que haja água acumulada
* Não guardar pneus em áreas abertas
* Manter as lajes cobertas, sem poça de água e esfregá-las, diariamente, com vassoura
* Guardar as garrafas de cabeça para baixo
* Manter os pratos em vasos de plantas sem água ou com um pouco de areia
* Esfregar, com bucha, recipientes que tenham plantas aquáticas
* Evitar o acúmulo de lixo
Sintomas
* Febre, dor de cabeça e incômodo atrás dos olhos. Há também vermelhidão e coceira pelo corpo.
Tratamento
* Repouso e analgésicos até a internação e reposição de líquidos na veia por soro, dependendo do quadro da doença. Em casos de sintomas da dengue, deve-se evitar o uso de medicamentos que contenham ácido acetilsalicílico, como AAS e Aspirina.
Fonte: Tribuna do Planalto