A ascensão dos prédios comerciais
Gilberto G. Pereira
Na lógica do capital, a prova do crescimento econômico está no número de empreendimentos da construção civil. Quer saber se a economia está aquecida na cidade, olhe para o alto e para os lados e veja se há casas e prédios sendo construídos, se há pedreiros, serventes e engenheiros transitando feito formigas para entregar logo a obra. Agora, se um bom número dessas construções estiver no segmento de prédios comerciais, isso significa que a cidade não só está crescendo na linha tradicional de seu mercado, mas também absorvendo novos negócios e, acima de tudo, trazendo novos grupos de investimentos. É o que acontece com Goiânia neste momento.
De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Goiás (Sinduscon-GO), atualmente, há cerca de 20 empreendimentos na capital goiana, na linha de edifícios comerciais de alto padrão, sendo lançados ou em projetos. A maioria desses prédios está sendo erguida nos setores Oeste e Bueno e Jardim Goiás. No meio do triângulo formado pelos três bairros há outro que também é a menina dos olhos dos investidores, o setor Marista, cortado pela Avenida 136, uma das mais badaladas pelo mercado imobiliário.
Vários edifícios comerciais já estão sendo ou serão construídos na Avenida 136, entre os quais está o projeto do Nasa Business Style, da EBM Incorporações, prédio de 27 pavimentos lançado recentemente como um dos mais modernos e completos da cidade, incluindo um heliponto entre os serviços oferecidos, além de espaço para lazer dos executivos, que contarão com uma piscina com raia de 25 metros.
A flexibilidade de espaço é outro diferencial desses novos prédios. O Nasa, por exemplo, com início das obras previsto para o mês de abril, vai oferecer salas que variam de 39 a 697 m2, podendo abrigar uma multiplicidade de tipos, indo do pequeno escritório de um profissional liberal aos complexos escritórios de multinacionais. “Todos, no entanto, com a mesma qualidade e os mesmos acessos aos serviços”, garante o diretor comercial da EBM, Rodrigo Meirelles.
A Brookfield Incorporações também sentiu o aquecimento do mercado quando lançou um empreendimento na Praça Tamandaré, em novembro do ano passado, chamado The Prime Tamandaré Office, que num final de semana vendeu 60% das unidades. Construído numa área de 29 mil m2, o edifício tem 305 salas, cinco lojas e um mezanino, distribuídos em 23 andares.
Outra empresa que aposta nessa retomada dos prédios comerciais é a Opus Inteligência Construtiva, que já lançou três edifícios em Goiânia. Um deles é o New World, localizado na Avenida T-63, no setor Bueno, com 17 pavimentos, sendo um duplex, e mais dois mezaninos, totalizando 20 andares para cima, ou seja, sem contar os subsolos. O New York, com as mesmas medidas do primeiro, seguiu a demanda do setor Marista, sendo erguido na Avenida 136.
A previsão de entrega dos dois empreendimentos é, respectivamente, em março próximo e setembro de 2011. Em agosto de 2012, a Opus quer entregar seu prédio mais diferente, o JK, que está sendo construído na Avenida E, no jardim Goiás. O edifício possui 16 pavimentos, sendo três deles duplex, além de um mezanino, chegando desse modo a 20 andares também. O maior diferencial do projeto, no entanto, é a construção de um jardim suspenso no meio do prédio.
Otimismo
O Sinduscon vê o aquecimento com otimismo. “Esse boom começou no final de 2008 com vários lançamentos, após um longo período em baixa”, diz o presidente da entidade, Roberto Elias de Lima Fernandes. Segundo ele, um dos fatores que possibilitaram a nova ascensão do mercado imobiliário, além da aposta na economia regional, aliada ao crescimento econômico nacional, foi o crédito facilitado.
Com a gama de cartas de crédito oferecida pela Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, as pessoas podem comprar uma sala em parcelas de até 15 anos, num valor um pouco acima do aluguel. “Em função disso, ficou mais fácil para um profissional liberal adquirir seu próprio escritório, ou consultório e trabalhar mais sossegado. Boa parte do que está sendo construído vai para esses profissionais”, diz.
Apesar da euforia relativa do mercado, Fernandes avalia o novo cenário com cautela. Segundo ele, para o porte de Goiânia e seu potencial de crescimento, o número de lançamentos e projetos indica uma tendência. “Mas é preciso analisar a sequência disso e acompanhar o ano de 2010 para ver se vendeu tudo ou não. Isso porque ainda não temos dados para saber o quanto o mercado tem para crescer, e o quanto do que se faz hoje é assimilação da carência passada”, diz.
De acordo com a pesquisa da Grupom Consultoria Empresarial, encomendada pela Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), o valor acumulado dos lançamentos, de dezembro de 2008 a novembro de 2009, chegou a R$ 1,4 bilhão. Embora o levantamento não faça a distinção de valores entre os segmentos, estima-se que desse total cerca de 3% a 5% foram investimentos no setor de prédios comerciais.
O que parece pouco apresenta-se como um gigante, se avaliado à luz do final da década de 90, quando não se via sequer um puxadinho para escritório. Hoje, uma espécie de diáspora se instala na malha da cidade, com os profissionais liberais deixando seus escritórios montados na própria residência, ou no centro de Goiânia, à procura de salas sofisticadas, que oferecem conforto, segurança, qualidade e, por que não, status, nas regiões mais ricas.
De acordo com Daniel Barcelos, gerente regional da CB Richard Ellis, a gigante no setor de administração de condomínios empresariais de alto padrão, parceira da EBM em seus empreendimentos, outra migração possível é das grandes empresas, que sairão de suas sedes e vão se instalar em edifícios comerciais. “Empresas multinacionais e nacionais estão instalando suas filiais em Goiânia, assim como as nacionais. Essas grandes empresas necessitam de salas de até 500 m2, onde só é possível encontrar nesses novos empreendimentos”, diz Barcelos.
É aí que entra a sensibilidade do empreendedor para investir. Segundo o presidente da Sinduscon, a entidade tem filiadas 2,1 mil empresas do ramo da construção. Destas, 250 atuam no mercado de execução de obras, em todas as áreas. Cerca de dez delas trabalham com edifícios comerciais, ou seja, aproximadamente 5% do total. “No começo dos anos 2000 não havia ninguém”, observa.
Antenas ligadas
Para o vice-presidente de Incorporação e Construção do Sindicato da Habitação e Condomínios do Estado de Goiás (Secovi-GO), Joaquim Barbosa de Oliveira, a construção de empreendimentos comerciais é uma espécie de antena do mercado como um todo, está ligada à saúde da economia, mais do que as edificações residenciais. “Só se coloca um CGC para funcionar se a economia estiver positiva”, diz ele.
Segundo Oliveira, o que se precisa analisar com cuidado num momento de boom, como foi em 2008 e promete retornar com força em 2010, é a conjuntura, como regiões de investimento, razões da alta procura e a situação do mercado nacional. “No primeiro caso, os empreendimentos estão bem localizados, sendo realizados em áreas muito valorizadas e dinâmicas, perto de shoppings, dos melhores restaurantes da cidade e dos serviços mais ágeis.”
Uma das razões da alta procura, segundo Oliveira, poderia ser um fator inibidor, porque boa parte desse movimento todo é apenas o atendimento à retomada de uma demanda reprimida. Segundo ele, durante um longo período Goiânia não teve investimento nesse setor. Começou nos últimos três anos, e por isso houve uma oferta significativa.
Por outro lado, há também o fato de a economia brasileira, de modo geral, e a goiana, em particular, ter conseguido assimilar o baque da crise internacional sem grandes seqüelas. “A perspectiva de crescimento do país é boa, com uma estimativa de que cresça mais de 4% em 2010. Neste caso, nada poderá parar esse crescimento do mercado de prédios comerciais”, diz Oliveira.
A tendência, portanto é que o mercado de edifícios corporativos continue em alta. A indústria da construção civil também aposta nisso (leia texto à página A-5). Tanto é que já se preocupa com a escassez de mão de obra. Mas é sempre bom ficar antenado, conforme diz Oliveira.
Segundo ele, o empresário incorporador é um ser de antenas, para quem a pesquisa de mercado é só uma ferramenta a mais, que se alia ao seu feeling na hora de saber se dá para investir mais ou recuar. O momento é de investir, diz ele, principalmente porque a cidade cresceu e necessita desses investimentos para suprir a demanda e continuar crescendo.
Fonte: Tribuna do Planalto