BRT vai corrigir desequilíbrio no sistema de transporte de Goiânia

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Iniciadas em maio deste ano, as obras do BRT (sigla em inglês para Bus Rapid Transit) de Goiânia estão a todo vapor. Quem transita pelo trecho da Goiás Norte, entre as praças do Traba­lhador, no Setor Norte Ferroviário, e do Violeiro, no Setor Urias Ma­galhães, pode testemunhar o trabalho dos operários, técnicos e engenheiros no serviço de concretagem da pista por onde os ônibus do corredor Norte-Sul vão transitar. Prevista para ser concluída em 2017, estima-se que cerca de 120 mil usuários do transporte coletivo serão beneficiados diariamente com o sistema de transporte de massa.

O BRT não somente vai mudar o aspecto do transporte coletivo de Goiânia. A interferência será, também, no aspecto urbanístico da cidade. As calçadas, por exemplo, serão refeitas, padronizadas com acessibilidade total dentro de critérios ambientais. A obra vai impactar na organização do trânsito e proporcionará mais segurança viária, já que todo o trecho receberá nova iluminação, sensores e câmeras de monitoramento com funcionamento 24 horas.

Outro aspecto que o BRT deve impactar é em relação à diminuição do fluxo do trânsito. A expectativa da Prefeitura de Goiânia é que, assim que concluída, o sistema traga como consequência a redução de 40% no tempo de deslocamento que é feito atualmente. O objetivo é proporcionar qualidade, conforto e regularidade ao transporte coletivo, atraindo, dessa forma, parte significativa de usuários de automóveis, o que vai contribuir com a diminuição da frota de carros em circulação nas vias da cidade.

Orçado em R$ 242,4 milhões, este é o maior investimento em mobilidade urbana da história de Goiânia e deverá corrigir o desequilíbrio existente no sistema de transporte da capital, já que a maioria dos corredores da cidade é no sentido Leste-Oeste. O projeto prevê um corredor exclusivo, com 22 quilômetros de extensão, e vai demandar a construção de três novos terminais (Correios, Rodoviária e Perimetral), além da reconstrução dos terminais Isidória e Recanto do Bosque, mais a adaptação do terminal Cruzeiro. Ao todo, serão 39 estações de embarque e desembarque com atendimento em 148 bairros de Goiânia e Aparecida de Goiânia.

O itinerário do corredor — que fará a ligação do terminal de integração Recanto do Bosque, na Região Noroeste da cidade, ao terminal de integração Cruzeiro do Sul, na Região Sudoeste, divisa com Aparecida de Goiânia — compreenderá as seguintes vias: Avenida Rio Verde, Avenida Quarta Radial, Avenida Primeira Radial, Rua 90, Praça do Cruzeiro, Rua 84, Rua 82 (Praça Cívica), Avenida Goiás, Praça do Trabalhador, Avenida Goiás Norte, Avenida Horácio Costa e Silva, Rua Tapuios, Avenida Genésio de Lima Brito, Avenida dos Ipês, Avenida Lúcio Rebelo, Rua Oriente e Avenida Mangalô.

A concepção do sistema prevê a implantação de faixas exclusivas para o transporte coletivo e a substituição da frota atual por ônibus articulados de maior capacidade. A praticidade na operação nos corredores será garantida por meio da cobrança de tarifa antecipada, construção de estações com plataforma elevada (facilitando o acesso aos veículos) e adoção de uma nova logística operacional com serviços de linhas expressas e semiexpressas.

Com o novo sistema, a previsão é que o tempo de viagem seja reduzido. Os veículos, por estarem em vias exclusivas e com controle informatizado, passarão a ter velocidade média de 24 km/h. Atualmente, os ônibus do transporte coletivo de Goiânia operam com velocidade média de 21 km/h. O tempo de espera nas estações também deverá ser menor. A prioridade de circulação dos ônibus em cruzamentos no corredor será feita com a implantação de um controle semafórico.

A frota completamente nova será composta por 82 veículos, dos quais 30 serão articulados e outros 52 convencionais, capazes de transportar até 12 mil passageiros por hora em horário de pico. O Centro de Con­trole e Monitoramento será responsável pelo domínio dos horários das viagens nos terminais, supervisão da operação das linhas, entre outras atividades de inspeção operacional. Haverá, ainda, o serviço de informação eletrônica aos passageiros, segundo o projeto original.

Trechos do BRT

O BRT vai ter em sua totalidade 27 quilômetros, dos quais 22 encontram-se em Goiânia e o restante em Aparecida de Goiânia. O sistema contará com duas faixas de circulação exclusivas para os ônibus no eixo da via e com duas faixas adicionais nas estações para a ultrapassagem dos ônibus das linhas expressas. As faixas de ônibus serão separadas das faixas de tráfego geral por canteiros laterais. Serão implantadas 39 estações, das quais 32 em Goiânia e 7 em Aparecida.

No trecho compreendido entre o Terminal Veiga Jardim e Terminal Cruzeiro, totalizando uma distância de pouco mais de quatro quilômetros, estarão posicionadas sete estações, com uma distância média de 620 metros entre elas. No trecho onde está localizado o Buriti Shopping, entre o Terminal Cruzeiro e o Terminal Correios, estarão localizadas três estações com distância média de 678 metros entre elas.

No trecho de 2.081 metros entre o Terminal Correios e o Terminal Isidória haverá três outras estações. No trecho entre o Terminal Isidória e a Estação Praça Cívica serão construídas seis estações, resultando uma distância média entre elas de 546 metros. Neste mesmo trecho estão localizados importantes pontos de transferência do BRT com a rede de transporte coletivo, como a Avenida Jamel Cecílio e a Praça Cívica. Nesse trecho também está localizado uma unidade de saúde referência da cidade, o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).

No trecho seguinte, entre a Estação Praça Cívica e o Terminal Rodoviário, serão construídos três paradas. Neste trecho está localizado o cruzamento com o Corredor Anhanguera, local no qual haverá a integração com o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) a ser implantado pelo governo estadual. No intervalo entre a rodoviária e o Terminal Perimetral estão previstas outras seis estações. Este trecho está todo compreendido na Avenida Goiás Norte, passando pelo Bairro Crimeia Oeste e Urias Magalhães.

No trecho final, entre o Terminal Perimetral e o Terminal Recanto do Bosque, o sistema será integrado por nove estações a uma distância média de 627 metros. Este trecho atende regiões mais residenciais, como o Jardim Balneário Meia Ponte, Residencial Itália e o Residencial Barravento. No total do corredor, a distância média entre estações será de 600 metros.

Terminais e estações

As estações serão implantadas no centro da via, em nível elevado, com 95 centímetros de altura em relação ao piso de rolamento dos ônibus, do tipo bidirecional, isto é, permitindo a parada concomitante de ônibus nos dois sentidos de circulação, com abertura de portas do ônibus do lado esquerdo. No trecho da Avenida Goiás, na área central, haverá parada de ônibus com acostamento à direita no sentido de fluxo do ônibus, as estações serão fechadas mediante dispositivos em vidro com abertura automática de portas quando do acostamento dos veículos.

A reportagem procurou os maiores interessados pela obra do BRT e ouviu os usuários do transporte coletivo ao longo da Avenida Goiás Norte, próximo ao Terminal Rodoviário. É unânime a expectativa de melhoria da qualidade do serviço. Os usuários se dizem confiantes nos benefícios que virão com a implantação do corredor Norte-Sul. A auxiliar de limpeza Vanda Gomes afirma que espera a melhoria prometida pela obra, principalmente em relação à redução do tempo de espera do transporte. “Acredito que vai melhorar. Pelo que disseram, acho que os novos ônibus vão agilizar bastante a viagem.”

A auxiliar de cozinha Lucélia Lindera afirma que não basta ter novos ônibus, mas é preciso rapidez no transporte. “Melhorar, acredito que vai, mas é preciso maior atenção e agilidade para que nós não passemos mais por atrasos nos pontos”, ressalta.

Já Jonatan Morato diz que os corredores exclusivos serão importantes para fluidez do transporte. “Nós queremos maior rapidez das viagens e, como estão reservando um corredor exclusivo, acredito que os ônibus farão o circuito com maior agilidade.”

Apesar de atrasos no repasse de recursos, obra do BRT segue em execução

Por conta dos problemas relacionados ao ajuste fiscal no governo federal, que acabam refletindo nas outras esferas de governos, o cronograma para conclusão da primeira parte da obra acabou sofrendo atraso. Uma das empresas que faz parte do Consórcio BRT Goiás Norte-Sul encaminhou uma carta ao coordenador da unidade executora do BRT, Ubirajara Abud, de­monstrando preocupação em relação ao recebimento de recursos, o que poderá comprometer o andamento da frente de serviço. Para esclarecer esse e outros itens acerca do imbróglio, a reportagem ouviu Ubirajara Abud.

Há insatisfação por parte do Consórcio BRT Goiás Norte, em relação aos atrasos de recursos que podem comprometer o andamento das obras. O que já foi decidido e acordado até o momento?

Uma das empresas que fazia parte do Consórcio BRT Goiás Norte-Sul se retirou, a espanhola Isolux Corsán. Depois disso, nós solicitamos às empresas que ficaram — a EPC, de Brasília, e a WVG, de São Paulo — para que fizessem novo cronograma detalhado, para que a obra seja concluída dentro do prazo. Isso foi feito. Junto com este cronograma, elas pediram uma série de premissas, como um projeto executivo com 30 dias de antecedência de cada trecho que for liberado, mais as pendências com a Saneago, com concessionárias de telefonia e com desapropriação. Claro, é preciso ter o pagamento em dia. Nós trabalhamos com todas essas frentes, mas não concluímos dentro do prazo, que seria 30 de novembro deste ano, em que se projetou ter tudo equacionado. A empresa encaminhou uma carta e disseram ter feito um cronograma a ser cumprido. Em outras palavras, o que eles querem dizer é: se não conseguirmos cumprir, nós teremos como justificar, já que a Pre­feitura não seguiu as premissas dentro do prazo que pedimos. Então, estão se precavendo para que amanhã não sejam multados por não cumprirem o prazo.

A reportagem visitou a frente de serviços na Avenida Goiás Norte, próximo a Praça do Violeiro, no Setor Urias Magalhães, e foi possível ver operários no trabalho a pleno vapor. Quando será concluída a obra naquele trecho?

Está dentro do cronograma previsto, inclusive aquele trecho ficará pronto em abril de 2016. Nós acertamos com a Secretaria Municipal de Finanças, que já chamou as empresas que fazem o projeto executivo, e fez um cronograma de pagamento que será cumprido nesta segunda-feira, 14. A partir do dia 14, a empresa vai começar a entregar o projeto. É um problema que nós já resolvemos. Em relação ao gargalo com a Saneago, nós fizemos várias reuniões e ela já trabalha no projeto de desvio de tubulação, principalmente de água, pois na Ave­nida 90 com a Avenida 136 existem adutoras pesadas. No que se refere ao trânsito e aos cruzamentos ao longo do corredor Norte-Sul, nós fizemos várias reuniões com o presidente da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), que está estabelecendo uma metodologia para não atrasar a obra. Na parte financeira também fizemos várias reuniões e agora vamos começar a liberar pagamentos. Portanto, não entregamos o que era planejado para 30 de novembro, porém a obra não está parada.

O orçamento geral da obra do BRT é de R$ 240 milhões. Quanto foi gasto até o momento?

A previsão é investir até o fim deste ano cerca de R$ 18 milhões. Para que possamos terminar a obra dentro do prazo, março de 2017, será importante entrar em outro ritmo a partir de janeiro.

Como a Prefeitura de Goiânia está lidando com os contingenciamentos de recursos do governo federal, já que a verba para execução da obra vem de Brasília?

Como o ajuste fiscal está impondo uma série de restrições dos recursos da União, nós colocamos a parte que seria executada com recursos do Orçamento Geral da União para a partir de junho de 2016. Para que, até lá, a situação melhore. Atualmente, de fato, sofremos com os atrasos dos repasses de recursos provenientes da União. Vamos levá-la em banho-maria até maio de 2016. Se até abril as questões dos repasses de recursos federais não estiverem resolvidas, temos um plano B, que é a Prefeitura contratar um financiamento para pagar estes recursos do OGU e aguardar receber no ano seguinte.

Como anda o cronograma em relação à construção das estações ao longo do corredor Norte-Sul, principalmente no trecho entre a Praça do Trabalhador e a Praça do Violeiro?

Está tudo dentro do prazo, e as estações vão impactar pela qualidade, beleza arquitetônica e modernidade desses abrigos. Será algo realmente muito bom.

Outra questão polêmica foi a remoção de árvores ao longo do corredor. Porém, o projeto prevê o replantio. Como está essa questão?

Já constava no projeto e na licitação o plantio de 15 mil árvores, tanto nos canteiros quanto nas calçadas. Faz parte do contrato. A Agência Muni­cipal de Meio Am­biente (Amma) exigiu que, para cada muda retirada na execução da obra, outras 30 fossem plantadas. Nós temos aproximadamente 6 mil árvores a serem plantadas, uma parte a ser atendida na licitação e outras duas mil nós vamos replantar no dia 15 deste mês.

Fonte: Jornal Opção