Com 20 anos de tradição: Secretaria Municipal de Cultura considera Goiânia Noise “sem relevância cultural”
Festival foi reprovado no último edital da Lei de Incentivo à Cultura sob o argumento de que o projeto não demonstrou “o impacto e a relevância cultural suficiente”
Em 2005, a revista Bravo! (uma das principais publicações culturais do País) elegeu o Goiânia Noise Festival como uma das 100 mais importantes manifestações culturais do Brasil, alegando que o evento “reescreveu a geografia do rock brasileiro”, deslocando a produção e a força da produção musical do eixo Rio-São Paulo para o interior do País. Um ano depois, a revista Veja afirmou que “Goiânia tornou-se, efetivamente, um dos principais centros do rock brasileiro na atualidade”, graças também ao Goiânia Noise.
Em 2015, o festival segue firme e forte em seus conceitos (de fomentar, valorizar e divulgar a cena local, além de favorecer a circulação e o intercâmbio entre artistas de todo o Brasil) e rumo à sua 21ª edição ininterrupta. Mais um feito admirável, se considerarmos que poucos eventos culturais chegam a uma longevidade tão grande.
No entanto, a Comissão de Projetos Culturais (CPC) parece não entender o Goiânia Noise como um evento tão relevante assim para a cultura goiana e sequer nacional. É que a CPC reprovou o projeto do Noise no último edital da Lei Municipal de Incentivo à Cultura sob o argumento de que o projeto não demonstrou “o impacto e a relevância cultural suficiente”.
“O resultado nos pegou de surpresa e ficamos chocados com a argumentação da CPC. Como um evento que tem 21 anos de tradição, já recebeu artistas de todo o mundo, revelou e incentivou o surgimento de bandas locais, divulga nacionalmente a produção musical local e o próprio nome da cidade, entre outras coisas, não é considerado relevante e não impacta em nada a cultura da cidade?”, questiona Leonardo Ribeiro Belém, o Leo Bigode, fundador do Goiânia Noise Festival e diretor da Monstro Discos. “Chegamos a entrar com um recurso, pedindo a revisão do parecer, mas o resultado foi confirmado pela CPC e pelo próprio secretário de Cultura, que avalia os recursos”, explica.
O estranhamento do produtor cultural em relação ao resultado do edital se torna maior ao se observar que muitos projetos contemplados na área da música “são de artistas que sequer aparecem no Google quando se busca o nome deles”.
“Seriam esses artistas e suas obras de maior impacto e relevância do que um festival como o Noise? Nós não contemplamos apenas uma ou duas bandas. A cada edição pelo menos 20 artistas goianos são escalados para tocar, recebendo cachê e ainda divulgando o seu trabalho para o público da cidade, de fora e para a imprensa nacional que sempre vem cobrir o evento”, argumenta Léo Bigode. “São 21 anos de história! Hoje já existe uma geração inteira de jovens que cresceram ouvindo falar e frequentando Noise”, diz.
Indignação
A reprovação do Noise na Lei Municipal de Incentivo à Cultural causou indignação e revolta de vários artistas, produtores e frequentadores do festival. Nas redes sociais, uma avalanche de comentários recriminaram a decisão da CPC.
“É uma pena, em sua 21ª edição, um festival desse porte não ser considerado relevante para cultura. Um festival que influenciou e formou toda uma geração de músicos e bandas, sendo uma vitrine nacional da música independente . O maior festival de rock independente do país, não é relevante? Revoltante!”, postou a guitarrista Bullas, da Girlie Hell.
“Isso sim é uma imensa falta de consideração com a cultura e todo o rock goiano, se não tivesse relevância cultural teria chegado a sua 21º edição?”, escreveu Saulo Brito.
“Que vergonha alheia ter de ler isso. O festival tem quase a minha idade e é mais velho que que muito guri do rock! Já tive o prazer de ver as melhores bandas do mundo aqui!”, disse Leopoldo Costa.
“Absurdo total. Gyn Noise ja é um patrimônio da cultura goiana”, argumentou o guitarrista Carlos Pinduca, de Brasília.
“Um absurdo! Um evento que marcou profundamente a história da música independente internacionalmente, projetando Goiânia nesse cenário nacional (“Seatle brasileira” como a crítica chamava…) ser tratado assim?
Secretaria de contra cultura (e não no sentido da “contra-cultura” underground, que, na realidade, é “a favor da cultura”)”, disse o cantor Diego de Moraes.
“Eles explicam porque o festival é irrelevante? Se não, MP na cpc e no cmc. Não são juízes com a palavra final. Devem satisfação do que é público”, questionou Carlos Cipriano, presidente do Conselho Estadual de Cultura.
Resposta
O Jornal Opção entrou em contato com a Secretaria Municipal de Cultura, mas a assessoria de imprensa do órgão estava reunida e não atendeu a redação.
Fonte: Jornal Opção