Goiânia tem 500 bairros sem parques e praças

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De um total de 680 setores da capital, mais de 73% não possuem área pública de lazer. Moradores optam por utilizar ruas e calçadas para recreação e, em alguns pontos, chegam a improvisar obras por conta própria

Nos finais de tarde, as ruas do Residencial Orlando de Morais, na Região Norte de Goiânia, recebem os moradores que fazem caminhada junto aos veículos que passam. Jovens e crianças montam gols nas ruas e jogam futebol, parado sempre que um carro ou moto precisa passar pela via. Os casos refletem uma deficiência do bairro: a falta de áreas públicas de lazer. O setor é um dos 500, dentre os 680 da capital, que não possuem um parque e nem sequer uma praça. Nos locais, nem mesmo uma pista de cooper, um espaço para esportes ou mesmo brinquedos para as crianças.

A solução dada pela própria população é ocupar os espaços que existem, de modo que calçadas e ruas viram também as opções de lazer. Ou então assumir a responsabilidade de transformar uma área em um espaço de convivência. No Orlando de Morais, a área entre as ruas OM-32, OM-29, OM-21 e OM-27 está destinada, desde a criação do bairro em 2008, a uma praça com anfiteatro, pista de skate, área verde e toda a estrutura para a população. Mas nada foi construído até então. Os moradores resolveram ocupar o espaço e, cada um por conta própria, foi fazendo o que acha certo.

Na prática, cada canto da praça recebe um tratamento diferente. Em uma parte, mais próxima da Rua OM-29, há uma grande plantação de milho feita por um morador e questionada por todos os outros. No meio da área, a população se juntou para fazer um campo de futebol de terra batida, em que há apenas os gols com redes, sem a marcação das linhas. Bancos de concreto foram instalados com apoio de um líder comunitário e políticos da região. Além disso, há plantação de vegetação frutífera e outras cuja finalidade seria dar sombra a quem passasse pelo local.

O barbeiro Sidney de Sousa, de 36 anos e morador do bairro há 3, é um dos que tomam conta do espaço. “Temos que brigar muito para que ninguém jogue lixo aqui. Nós mesmos quem limpamos e cuidados. Aqui nesse canto de frente ninguém suja porque eu brigo mesmo”, conta. Ele relata que antes de se mudar para o bairro já foi morador do Jardim Guanabara, que conta com diversas praças, e do Vale dos Sonhos, onde existe um parque e uma praça. “Lá era bom, porque tinha a área verde, o pessoal fazia caminhada, poderia aproveitar. Agora aqui não tem nada disso”, relata.

Promessa
Segundo Sidney, há cerca de um mês servidores da Prefeitura estiveram no local, em uma frente de serviços do prefeito Iris Rezende (PMDB), e iniciaram o que seria a realização da praça. “Fizeram o meio-fio, cortaram as árvores que plantamos, chegaram a desenhar uma pista de caminhada, mas aí deixaram de lado”, diz. O relato é que havia árvores já grandes, como mangueiras, que estavam dando frutos, mas que assim mesmo ocorreram os cortes, que causaram revolta na população.

De acordo com os moradores, a justificativa é que existe um projeto já aprovado com financiamento do governo federal para a realização da praça. Os custos seriam de R$ 1,3 milhão e a contrapartida da Prefeitura em torno de R$ 100 mil, e que faltaria essa quantia para o início das obras. A reportagem enviou questionamentos para a Prefeitura na quinta-feira e, até o fechamento desta edição não foram enviadas respostas sobre a existência desse projeto.

Ao todo, segundo dados da Secretaria Municipal de Planejamento e Habitação (Seplanh), há 480 praças em Goiânia e 141 parques, somando 621 áreas públicas de lazer. Se cada uma delas fosse disposta em um bairro da capital, apenas 59 ficariam sem o equipamentos. Por outro lado, os parques são espaços públicos capazes de atender mais de um bairro ou mesmo região. Ainda assim, a distribuição das áreas públicas de lazer mostra um desequilíbrio em Goiânia.

Moradores construíram praça contra venda de terreno
A falta de equipamentos públicos de lazer em Goiânia foi motivo de revolta popular em 2014, quando a Prefeitura da capital anunciou projeto para desafetação de 18 áreas públicas municipais. Uma delas estava localizada no Residencial Humaitá, na Região Norte. A área era destinada para uma praça e uma escola municipal e, então, a população se juntou para ocupar o local e realizar obras de modo que os moradores poderiam utilizar para a convivência.

Com apoio de professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), foi feito um projeto doado aos moradores para a construção. Brinquedos para as crianças, horta comunitária e um campo de futebol chegaram a ser construídos, mas fiscais da Prefeitura de Goiânia estiveram no local para notificar a população por intervenção na área municipal. 

Depois de toda a polêmica, o local chegou a ser depredado e, mesmo com a proibição judicial da venda da área, então nada foi construído no local