Poluição visual: “Goianiense vai à Times Square tirar foto e reclama que o Centro está poluído”
Presidente do Sindilojas diz que projeto para limpar fachadas na região central de Goiânia é bom, mas nada viável. Para ele, não haveria acervo histórico que o justifique
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-GO), José Carlos Palma Ribeiro, criticou, em entrevista ao Jornal Opção, o projeto da Prefeitura de Goiânia que pretende revitalizar o Centro histórico da capital, “limpando” as fachadas de lojas e regulamentando a propaganda de estabelecimentos na região.
“A intenção é boa, mas pegaram o projeto de São Paulo, que funciona bem lá. Só que a capital paulista tem 400 anos, edificações centenárias, com arte na fachada, esculturas. Em Goiânia não é a mesma coisa. É uma cidade recém-nascida. Não dá para querer fazer daqui Goiás Velho [Cidade de Goiás]”, argumenta.
Encaminhado à Câmara no começo da semana, o Projeto de Lei de autoria do prefeito Paulo Garcia (PT) institui uma série de exigências que padronizará as fachadas de lojas no chamado Núcleo Urbano Pioneiro de Goiânia — onde está localizado um grande acervo arquitetônico de Art Déco. Um dos destaques da legislação é a limitação do tamanho dos letreiros.
A justificativa do Paço é de que é preciso combater a poluição visual, cuidar do “bem estar cultural e ambiental” da cidade, priorizando a sinalização “de interesse público”, promovendo o “livre acesso à infraestrutura”, por meio da proteção do “patrimônio histórico e paisagístico”.
No entanto, José Carlos Palma Ribeiro não vê as fachadas só como poluição visual. A primeira tese é que em diversas vias, como na própria Avenida Anhanguera, elas acabam ajudando a encobrir deformidades da cidade: “Se tirar a fachada, vai ficar o quê? Um remendo, um buraco”. Além disso, o empresário destaca a crise econômica que assola o País desde o ano passado.
“Em um ano de extrema dificuldade, no qual a comunicação é fundamental, um projeto desses, embora tenha boa intenção, vai acabar causando muito prejuízo ao comércio. E o prejuízo vai ser refletido em demissões, falência. Sem contar no investimento que os empresários já fizeram. Algumas fachadas valem milhares de reais”, completa.
O presidente do Sindilojas argumenta, ainda, que há fatores mais importantes a serem observados pelo poder público, como os vendedores ambulantes. “Muito mais poluentes que as fachadas das lojas são as calçadas entupidas de barraquinhas. Existe uma lei e até um TAC [Termo de Ajustamento de Conduta], assinado pelo então prefeito Iris Rezende (PMDB), que obrigou a saída dos camelôs, mas mesmo assim eles ainda estão lá”, destaca ele.
“Por que não fazer uma Times Square em Goiânia?”
O presidente do Sindilojas reconhece que a atual situação da paisagem do Centro está “horrível”, mas questiona a ação da prefeitura em tentar retirar os grandes painéis de propaganda, em vez de regulamentá-los e tentar investir na área.
Ele cita o exemplo da Times Square, área localizada na junção da Broadway com a 7ª Avenida, em Nova York (EUA), que é um chamariz de turistas do mundo inteiro, onde, basicamente, há uma infinidade de painéis eletrônicos de várias marcas.
“Concordamos que podemos e devemos ordenar o crescimento à cidade. Agora, por que a prefeitura não faz uma Times Square em Goiânia? Precisamos de uma solução inteligente, e não romântica”, sugere, questionando justamente o artigo do projeto que proíbe a utilização de paineis luminosos/eletrônicos na região.
Para ele, incentivar a modernização da propaganda pode ser uma saída criativa para o problema no Centro. “Goianiense vai para a Times Square tirar foto e reclama que aqui está poluído”, lamenta.
José Carlos cita, ainda, o exemplo de Cuiabá, no Mato Grosso. Segundo ele, a prefeitura decidiu revitalizar o Centro da cidade — sem consultar o empresariado do local — e a região acabou “morrendo”. “Tem que regulamentar sim, mas quem entende como deve ser revitalizado são os empresários”, avisa ele.
Outro lado
Secretário de Planejamento e Urbanismo, Paulo Cesar Pereira afirmou ao Jornal Opção que o objetivo do projeto é justamente disciplinar a disputa por espaço visual que se criou na região: “Queremos valorizar o grande patrimônio histórico da cidade, transformar o Centro em um ambiente mais agradável e menos poluído”.
Segundo o titular da Seplam, atualmente, as fachadas e letreiros de algumas lojas, de tão luminosas e coloridas, chegam até a confundir motoristas. “Os parâmetros da lei que queremos estabelecer são razoáveis para que não haja disputa canibalesca”, argumentou.
A reportagem levou ao secretário os questionamentos do presidente do Sindilojas-GO quanto a atual situação econômica do País e a dificuldade para adequação à lei. “Acredito que o Sindilojas está no papel de avaliar qual o impacto que a medida terá para os comerciantes. Agora, a prefeitura não precisa entrar no mérito. Temos que olhar a cidade como um todo, reconhecer que é importante a despoluição visual do Centro”, justificou.
Segundo ele, a prefeitura tem feito um grande esforço para estruturar a fiscalização dos camelôs que estão em “localização e atividade ilegais”.
Quanto às críticas de José Carlos ao estado das edificações, o secretário avalia que, com a retirada das fachadas gigantescas, a falta de manutenção — que é de responsabilidade dos donos dos imóveis — ficará evidenciada e exigirá cuidado, em vez de simplesmente “esconder as falhas”. “Dizer que São Paulo tem 400 anos de história e pelo simples fato de que Goiânia, com 82 anos, não tem história é no mínimo inconsistente”, arrematou.
Diálogo
Na próxima segunda-feira (11/1), uma reunião entre representantes dos lojistas, prefeitura e vereadores está sendo organizada para debater o projeto que tramita no Legislativo. Elias Vaz (PSB), que é autor de um projeto de 2009 similar que tem como objetivo regulamentar a propaganda em toda a cidade, assegurou ao Jornal Opção que o prefeito Paulo Garcia está aberto ao diálogo.
“Quando conversamos, eu disse a ele que estou disposto a abrir mão do meu projeto para que possamos debater a regulamentação no Centro. Acredito que a iniciativa é necessária, mas há pontos que precisam ser melhores debatidos, como o prazo para adequação”, explicou.
O Paço tem pressa para a adequação das fachadas. O prazo estipulado no projeto é de 90 dias, mas mesmo o vereador — que defende a iniciativa — avalia como insuficiente. “A convicção da prefeitura é de que três meses é tempo suficiente. Precisa acontecer o mais rápido possível”, defendeu o secretário ao Jornal Opção.
Fonte: Jornal Opção