Quase 20% de Goiânia é de prédios

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Capital tem cerca de 5,5 mil edifícios acima de três andares, que ocupam 144 km² de um total de 720 km² de todo perímetro da cidade 

Aos poucos e com resistência da população, Goiânia vai se tornando vertical, pois ao ponto que cerca de 18% dos domicílios ocupados são apartamentos, esse tipo de imóvel já representa 30% do que está sendo vendido. Os condomínios verticais, tanto residenciais quanto comerciais, já tomam conta de 19,88% do território do município, o que significa 144 quilômetros quadrados (km2) de toda a cidade. Além disso, entre 2012 e 2017, o número de edifícios da capital saltou de cerca de 2,2 mil para em torno de 5,5 mil, uma alta de 150%.

O crescimento da cidade para cima teve seu boom entre os anos de 2009 e 2014, mas no momento de crise econômica novos empreendimentos ficaram raros. Assim mesmo, a paisagem urbana de Goiânia já está diferente para quem habita a capital há algum tempo. “Eu vi isso aqui nascer”, conta a aposentada Paranaibina Dias da Rocha, de 90 anos. Moradora da Alameda das Rosas já há cerca de 60 anos, ela viu o Setor Oeste se transformar naquilo que é hoje: um emaranhado de prédios.

Quando planejado por Armando de Godoy e Attilio Corrêa Lima, ainda na década de 1930, o bairro de Paranaibina era para ser um residencial horizontal, entre o Parque Lago das Rosas e o Bosque dos Buritis, com características bucólicas. Hoje, o bairro possui cerca de 400 edifícios com mais de quatro pavimentos, com concentração justamente entre o parque e o bosque. Contudo, a casa adquirida pela aposentada com o ex-marido, já falecido, permanece firme. “Eu não vendo, não saio daqui, não, jamais!”

Paranaibina conta que já recebeu várias propostas para vender o imóvel às construtoras interessadas em construir condomínios verticais no local. “Uma vez, há muitos anos, quando meu marido morreu, eu até cheguei a fazer um inventário. Mas depois mudei de ideia. Nunca mais pensei em vender.” A aposentada hoje divide a residência com dois netos e a esposa de um deles. “A casa é grande, mora todo mundo junto, em apartamento não tem como fazer isso”, comenta.

Contrário

Outra casa, nos arredores da Alameda das Rosas, também no Setor Oeste, passa pela mesma situação. O dono é o advogado Sebastião Hugo Procópio, de 56 anos. Ele conta que recebe propostas diárias para a venda do imóvel.

“Eles querem derrubar tudo aí, pra construir esses condomínios. Mas a minha casa eu não vendo”, pontua. Procópio explica que a negação não é por conta do dinheiro, mas do valor afetivo com o imóvel. “Eu vivi praticamente minha vida inteira aqui, meus filhos cresceram aqui, é uma casa boa, não tem porque eu vender.”

Para ele, o argumento dos compradores que mais convence é a segurança dos condomínios fechados e prédios. “Realmente, se eu sair daqui pra ir pra um imóvel desses, acredito que a segurança seja um pouco melhor, porque aqui tem muito assalto.”

“Mas ainda assim, não é o suficiente para me convencer a sair. Eles vão ter que procurar outro lugar pra construir”, adverte o advogado.

O presidente do Sindicato de Condomínios e Imobiliárias de Goiás (Secovi Goiás), Ioav Blanche, explica que, de fato, os goianienses são mais adeptos às residências térreas.

Para Blanche, só se consegue vender apartamento na capital onde a unidade é bem mais barata do que as casas, em bairros cujo lote é muito caro, como os setores Marista, Bueno, Oeste e Jardim Goiás.

“Entre uma casa de R$ 160 mil e um apartamento de R$ 150 mil, em um mesmo setor, o goianiense vai optar pela casa, isso é indiscutível”, conta. Ainda assim, Blanche reforça que há um crescimento lento da verticalização, especialmente em locais pontuais, mas que não existe essa mesma tendência no mercado para a ampliação das áreas na cidade a serem verticalizadas. “Hoje se consegue vender 4 mil apartamentos por ano em Goiânia, mas se vende de 5 a 6 mil lotes, por exemplo.”